28/12/2024 às 19h28min - Atualizada em 31/12/2024 às 08h01min

FOMO: o medo de ficar de fora e as estratégias para vencer a ansiedade digital

A busca pela atualização imediata de tudo o que está acontecendo no mundo — de lives no Instagram a eventos presenciais e lançamentos de produtos — desencadeia uma competição velada pela atenção e adesão a cada novidade.

RENATO LISBOA
Renato Lisboa
Renato Lisboa
A sensação de estar sempre perdendo algo, seja um evento social, uma nova série de TV ou mesmo a oportunidade de impulsionar uma carreira, vem sendo apontada por especialistas como uma das grandes causas de estresse e ansiedade na sociedade atual. Trata-se do fenômeno conhecido como FOMO (Fear of Missing Out), ou “medo de ficar de fora”. Com a popularização das redes sociais e a velocidade de compartilhamento de notícias em tempo real, cresce o número de pessoas que se sentem cada vez mais ansiosas e sobrecarregadas diante de uma infinidade de possibilidades — e, consequentemente, passam a viver em alerta constante para não “perder” nada que possa ser relevante.
A busca pela atualização imediata de tudo o que está acontecendo no mundo — de lives no Instagram a eventos presenciais e lançamentos de produtos — desencadeia uma competição velada pela atenção e adesão a cada novidade. Nesse cenário, a comparação incessante com a vida alheia, as fotos de viagens paradisíacas e os relatos de conquistas profissionais exibidos nas redes acabam por exacerbar a insegurança e a sensação de insuficiência pessoal. O resultado são sintomas que variam de irritabilidade e fadiga mental a quadros de ansiedade crônica e até mesmo depressão.
Para explicar melhor essa dinâmica e indicar possíveis caminhos de superação, o Neuropsicanalista Renato Lisboa — que há mais de uma década estuda o comportamento humano em ambientes digitais — esclarece:
“O FOMO não se resume apenas ao receio de não participar de algo; ele toca em nossos medos mais profundos, como o de não sermos aceitos, de sermos abandonados ou de não realizarmos todo o nosso potencial. Em um nível neural, há uma descarga constante de substâncias relacionadas à recompensa quando consumimos notícias ou interagimos nas redes. No entanto, esse prazer momentâneo é seguido de uma sensação de vazio quando percebemos que não conseguimos acompanhar todas as opções disponíveis. Acabamos por nos esforçar ainda mais para sermos ‘onipresentes’, levando nossa mente e corpo a um estado de alerta constante e insustentável.”
Segundo Lisboa, o primeiro passo para atenuar o FOMO é reconhecer que essa ansiedade não nasce apenas de um desejo de consumir informações, mas de uma necessidade de pertencer e de ser validado. O excesso de comparações sociais e o medo de não corresponder ao ritmo dos outros alimentam um ciclo de inquietação que, muitas vezes, se torna vicioso. “Para quebrar essa roda, é fundamental exercitar o autoconhecimento e estabelecer prioridades reais. Não precisamos acompanhar todas as trends, nem precisamos ser eficientes em absolutamente tudo. A maturidade emocional vem ao sabermos escolher o que, de fato, faz sentido para nosso propósito de vida”, completa o especialista.
Outro ponto crucial apontado por Renato Lisboa é a importância de uma “higiene digital”. Reservar momentos em que se deixe o celular de lado, desativando notificações e restringindo o acesso às redes sociais, pode funcionar como um verdadeiro “detox mental”. Essas pausas permitem que o indivíduo tenha um tempo de reflexão, livre de estímulos externos constantes. O neuropsicanalista ressalta que não se trata de demonizar a tecnologia ou os canais de interação social, mas de reencontrar o equilíbrio. “É preciso saber usá-los como ferramentas de conexão e aprendizado, não como geradores de angústia.”
Uma boa prática sugerida envolve estabelecer limites claros para a interação online, como definir horários específicos para checar e-mails e redes sociais, em vez de fazê-lo a todo momento. Além disso, Londres destaca a importância de cultivar outras atividades offline, como leitura, prática de exercícios físicos e encontros pessoais com familiares e amigos. “O contato humano genuíno e as experiências vividas no mundo real reduzem a sensação de isolamento e trazem à tona uma satisfação mais duradoura do que a proveniente de ‘likes’ e comentários,” explica.
Conforme o tema ganha relevância, surgem iniciativas para conscientizar o público sobre os impactos negativos do FOMO. Workshops, palestras e até mesmo grupos de apoio têm sido criados para incentivar um estilo de vida mais saudável e centrado no que realmente importa para cada indivíduo. Ademais, profissionais de psicologia e psicanálise têm adaptado suas abordagens terapêuticas para lidar com esse fenômeno específico, auxiliando pacientes a construírem uma relação mais saudável com as redes e com o próprio tempo.
A adoção de uma rotina que valorize a qualidade em detrimento da quantidade também é apontada como caminho para a serenidade. “Precisamos entender que perder algumas experiências é inevitável e faz parte de uma existência mais autêntica”, reforça Lisboa. Em suas consultorias, o neuropsicanalista costuma propor a seus pacientes a prática da “agenda intencional”: selecionar apenas alguns eventos ou atividades que realmente estejam alinhados com valores e objetivos pessoais, renunciando a outras possibilidades que sejam apenas distrações. Dessa forma, é possível deixar de lado a culpa ou a sensação de fracasso por não fazer “tudo” e, em vez disso, vivenciar com plenitude cada escolha realizada.
Os avanços da ciência na área de neurociência também apontam para a necessidade de pausas e intervalos de descanso como estímulo à criatividade e ao bem-estar. Estudos revelam que o cérebro processa melhor as informações recém-adquiridas quando é permitido um período de ócio ou de relaxamento. Desse modo, ao contrário do que muitos temem, abster-se momentaneamente de estímulos não significa ficar para trás, mas sim permitir que a mente recupere energias e assimile de maneira mais profunda os conteúdos que valem a pena.
Além disso, Lisboa destaca a importância de cultivar uma identidade sólida, que não se abale a cada tendência passageira. “Se você tem clareza do seu propósito, das suas habilidades e dos seus valores, o FOMO perde força. Você percebe que não precisa se encaixar em todos os convites, nem precisa ser o primeiro a saber de cada novidade. Essa liberdade é preciosa, pois devolve ao indivíduo a autonomia sobre sua própria vida.”
Concluindo, a discussão sobre o FOMO alerta para o quanto nosso desejo de onipresença pode nos desconectar, paradoxalmente, de nós mesmos e dos momentos que realmente importam. O fenômeno revela, em grande medida, uma busca por pertencimento e aprovação. Entretanto, como sugere Renato Lisboa, é possível cultivar uma relação saudável com as redes sociais e com a informação, desde que estejamos cientes de nossos limites emocionais e do que efetivamente desejamos conquistar. “Mais do que nunca, precisamos lembrar que a vida não acontece apenas atrás das telas e que nossas escolhas devem refletir nossas verdadeiras prioridades, e não a imposição do que todos estão fazendo.”
 

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RENATO DOS SANTOS LISBOA
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