21/11/2024 às 10h03min - Atualizada em 22/11/2024 às 08h01min

Diabetes e a saúde intestinal: uma interação cada vez mais compreendida

A Federação Brasileira de Gastroenterologia esclarece essa conexão e dá dicas para a prevenção

ROSE GUIRRO
Dra. Marina Pamponet Motta - Divulgação/FBG
A relação entre diabetes e a saúde intestinal é um campo de estudo que tem ganhando destaque crescente. Atualmente, sabe-se que a microbiota intestinal desempenha um papel relevante tanto no surgimento quanto na progressão do diabetes mellitus, principalmente na diabetes tipo 2. Pesquisas indicam que a redução de bactérias benéficas, além de outras alterações associadas à disbiose intestinal, afetam o metabolismo da glicose e promovem um estado de inflamação crônica leve. Esse ambiente, por sua vez, contribui para a resistência à ação da insulina e está associado ao desenvolvimento da diabetes.

Além disso,  hoje o intestino é reconhecido como um grande órgão com funções endócrinas, capaz de produzir importantes neurotransmissores e hormônios  que influenciam no metabolismo da glicose e ação da insulina.  “O intestino assume um papel tão relevante no fisiopatologia da diabetes, que as principais medicações atualmente comercializadas para o tratamento da diabetes tipo 2, são medicamentos que imitam a ação de hormônios liberados pelo intestino (como os análogos do GLP-1)”, afirma a Dra. Marina Pamponet Motta, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.

Mas a relação entre intestino e diabetes vai muito além disso. A diabetes pode causar uma variedade de problemas intestinais, decorrentes de alterações metabólicas crônicas, mudanças na microbiota intestinal e disfunções  no sistema nervoso e motilidade intestinal.

De acordo com a Dra Marina Pamponet Motta, sintomas como desconforto abdominal, diarreia e obstipação, são comuns nos pacientes com DM. Tais sintomas também são característicos da Síndrome do Intestino Irritável (SII), um distúrbio gastrointestinal funcional muito frequente. Segundo a FBG, embora a relação entre SII e DM não esteja bem estabelecida, ambas condições podem coexistir num mesmo paciente e estudos apontam que o estilo de vida, estresse e a dieta desempenham papéis importantes no tratamento de ambas as doenças. Abordagens alimentares contribuem para  o controle dos sintomas em ambas as condições. No entanto, enquanto uma dieta rica em fibras é recomendada para o controle glicêmico, ela pode, paradoxalmente, agravar alguns sintomas da SII. “Por isso, é importante que o acompanhamento do diabetes envolva o gastroenterologista e uma abordagem multidisciplinar”.

Diabetes e doenças gastrointestinais
No dia 14 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Diabetes, criado em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para reforçar a conscientização a respeito da doença e destacar a importância da prevenção.

Neste cenário, a FBG alerta sobre as principais alterações gastrointestinais que acometem as os pacientes com diabetes.

A neuropatia visceral diabética  é responsável pelos principais sintomas digestivos na DM. Ela é casada pela dano aos nervos responsáveis pela motilidade do trato gastrointestinal e os pacientes sob maior risco são aqueles portadores de DM de longa data ou aqueles com o controle glicêmico irregular.  Os sintomas associados à neuropatia diabética são variados e estão relacionados ao órgão predominante afetado.

Quando a motilidade intestinal está reduzida, o paciente pode apresentar constipação. Além disso, essa diminuição da motilidade intestinal, também permite o acúmulo e proliferação de bactérias no intestino delgado, promovendo o supercrescimento bacteriano. Essa proliferação bacteriana, por sua vez,  promove sintomas como diarreia, excesso de gases e distensão abdominal.

A gastroparesia diabética é uma condição caracterizada pela redução da motilidade e do esvaziamento do estômago devido a danos nos nervos. Os sintomas característicos são náuseas, vômitos, empachamento e sensação de plenitude precoce. Esse atraso no esvaziamento pode prejudicar ainda mais o controle dos níveis glicêmicos.
O controle da glicemia e a abordagem terapêutica integrada entre as especialidades, visando a melhora da saúde metabólica e digestiva, são essenciais para o controle dos sintomas gastrointestinais do paciente com diabetes

Além disso, diversos medicamentos utilizados para o controle glicêmico estão relacionados a eventos adversos com sintomas gastrointestinais, ressaltando a importância do seguimento com o gastroenterologista.

Como manter a saúde intestinal
De acordo com a FBG, pacientes com diabetes devem seguir algumas dicas para melhorar a saúde intestinal, além de manter a glicemia sob controle:
• Mantenha uma alimentação saudável e diversificada, importante para manter a diversidade da microbiota intestinal;
. Evite o consumo de alimentos ultraprocessados;
• Consuma alimentos ricos em fibras, como cereais integrais, feijões, frutas, verduras e legumes;
• O uso de alimentos fermentados como iogurtes, coalhada e kombuchá ajudam no equilíbrio da microbiota intestinal. Eles possuem bactérias benéficas (probióticos);
• Beba água e mantenha boa hidratação;
• Prefira alimentos com gorduras mono e polinsaturadas, as chamadas gorduras saudáveis, como azeite de oliva, castanhas, abacate e peixes e evite fontes em gorduras saturadas e trans;
• Evite o consumo abusivo de álcool;
• Pratique exercícios regularmente. Estudos também mostram os efeitos benéficos da atividade física sobre o equilíbrio do intestino.
 
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MARIA DO ROSARIO GUIRRO
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