28/10/2024 às 14h28min - Atualizada em 28/10/2024 às 20h03min

Discussão sobre diversidade, equidade e inclusão ainda subestima minorias

Teoria e prática sobre temas como mulheres na vida pública, indígenas, neurodivergentes e pessoas trans continuam muito distantes. Evento contrapôs experiências brasileiras e canadenses nessa área

ALESSANDRA TARABORELLI
Divulgação/CCBC
São Paulo, outubro de 2024 – Apesar do aumento da conscientização sobre temas relevantes da diversidade, equidade e inclusão, questões essenciais ainda permanecem à margem da sociedade. Especialmente os desafios enfrentados por pessoas pertencentes a múltiplas minorias, neurodivergentes, povos indígenas e trans, evidenciando as discrepâncias entre o discurso público e as práticas no ambiente privado. As lacunas dessa realidade e as iniciativas brasileiras e canadenses foram abordadas durante a 3⁠ª Edição do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão, promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC).
Um exemplo claro disso é a participação das mulheres na política. Embora o tema receba atenção crescente, a realidade ainda está longe da igualdade, com barreiras estruturais e culturais persistentes. Resultados de eleições recentes comprovam o abismo.
A embaixadora do Brasil e subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, Irene Vida Gala, ressaltou essa realidade. “Nós tivemos uma redução do número de mulheres nas câmaras legislativas de 55%. Isso é um escândalo. E os temas entre o público e o privado se conectam aqui. São pautas que se nutrem. É a partir do esforço público que nós vamos conseguir efetivamente que o espaço privado mude, e o espaço privado que entra dentro das casas das famílias. Porque, em última instância, o nosso esforço para a participação maior, o empoderamento da mulher, é a garantia da integridade física. Nós estamos falando de mulheres mortas todos os dias por feminicídio.”
De acordo com o Mapa da Violência 2021, o Brasil registrou, em média, 13 assassinatos de mulheres por feminicídio a cada dia, destacando a urgência de políticas públicas para proteger as mulheres. A situação se agrava para as mulheres trans, que enfrentam não apenas o machismo, mas também preconceitos relacionados à sua identidade de gênero.
“Nós, pessoas de grupos historicamente marginalizados, não temos o privilégio de sermos indivíduos. Nós somos o coletivo. Querendo ou não, as pessoas vão projetar, especialmente por sermos as primeiras, toda a comunidade trans no que eu faço. Então a gente não pode errar", afirmou Vicky Napolitano, Líder Inovadora em Pessoas e Cultura na Pismo.
Excluídos já nos processos de seleção
Outro ponto de destaque foi a discussão sobre neurodivergência, com foco nas dificuldades enfrentadas por pessoas com autismo. Muitas empresas ainda exigem nos processos de seleção habilidades de comunicação e interação social que podem não ser atingíveis para essas pessoas, criando barreiras significativas à inclusão profissional.
“A neurodiversidade traz a ideia de que não existe um cérebro igual ao outro. Somos todos neurodiversos, com diferentes habilidades, e algumas pessoas se afastam mais do padrão considerado típico. Ao falar de neurodiversidade, não nos referimos apenas ao modelo biomédico, mas a um modelo social que busca reduzir barreiras e promover acesso para essas pessoas", explicou Rute Rodrigues, diretora de Operações na Specialisterne Brasil.
A inclusão não se limita a minorias tradicionais. Muitas pessoas que não se identificam como parte de um grupo marginalizado podem, em algum momento, vivenciar a exclusão. O preconceito por idade, conhecido como etarismo, afeta homens e mulheres a partir dos 60 anos, que frequentemente se sentem invisíveis no mercado de trabalho, enfrentando dificuldades para se manter ativos, mesmo sendo qualificados.
Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de RH (ABRH), 63% dos profissionais acima de 50 anos se sentem discriminados no ambiente de trabalho, o que reforça a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre a inclusão de todas as idades.
“O etarismo, por definição, é qualquer preconceito baseado em idade. Quando você fala para alguém que é muito novo para ser promovido, ou muito novo para ter uma liderança, isso também é etarismo. É uma forma como a gente pensa o nosso estereótipo, como a gente sente o nosso preconceito, como a gente manifesta a discriminação", disse Pedro Pitella, head de Pessoas & Cultura da Sanofi Brasil.
Inclusão dos povos indígenas no Canadá
O Canadá, por sua vez, tem exemplos que podem agregar às práticas brasileiras. Um deles é seu avanço na inclusão dos povos indígenas, um tema raramente discutido no Brasil. O país implantou programas governamentais, por meio de seu Department of Crown-Indigenous Relations and Northern Affairs e ainda do Indigenous Services Canada, que visam incentivar a inclusão dessa população em diversos setores, promovendo equidade e reparação histórica.
“No Canadá, os povos indígenas estão crescendo a uma taxa cinco vezes maior do que a população não indígena. Somos o segmento populacional mais jovem e de expansão mais rápida no país. E isso está ganhando velocidade. Estamos começando negócios. Especificamente, as mulheres indígenas estão iniciando negócios a uma taxa nove vezes maior do que a média nacional, o que significa colocar dinheiro de volta na economia indígena, capacitando a próxima geração e criando oportunidades para os jovens se verem representados em espaços onde nunca foram bem-vindos," disse Mallory Yawnghwe, fundadora e Co-CEO da Indigenous Box Inc.
O terceiro Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão aconteceu em São Paulo, em outubro, organizado pela Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão (CDEI) da Câmara de Comércio Brasil Canadá, com co-organização do Consulado Geral do Canadá em São Paulo.

Sobre a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC):
A Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) é uma organização independente, mantida pelo setor privado e sem fins lucrativos, fundada em 1973. Há 50 anos, a CCBC aproxima pessoas, empresas, instituições públicas e privadas de vários setores nos dois países. Com escritórios no Brasil e no Canadá, a instituição atua na construção de conexões para alavancar negócios, investimentos, estimular a inovação e, o intercâmbio tecnológico e cultural bilateral.
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