Legenda: Luiz Paulo Pinto / Créditos: Divulgação O presidente da Associação Brasileira de Hormonologia (ASBRAH), Luiz Paulo Pinto, criticou a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que suspendeu, em 18 de outubro, a manipulação, comercialização, propaganda e o uso de implantes hormonais manipulados. Para o representante da entidade, a resolução teria sido "mal embasada, deixando pacientes sem tratamento".
A medida da Anvisa foi adotada a partir de denúncias apresentadas por entidades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), que aponta um crescimento do atendimento de pacientes com problemas devido ao uso de implantes que misturam diversos hormônios, em formato implantável.
Em contrapartida à decisão no Brasil, o presidente da ASBRAH diz que esse tipo de tratamento é usado em larga escala nos Estados Unidos e no continente europeu. No entendimento da associação, a medida prejudica pessoas que estão com tratamentos em curso e não apresentam efeitos colaterais. "Pacientes que usam e têm bons resultados acabaram punidos por conta de possíveis efeitos adversos que afetaram uma minoria, segundo relatos obtidos em uma plataforma sem nenhum critério de veracidade", entende o presidente da entidade.
"A ASBRAH tem como objetivo orientar o estudo das terapias hormonais de forma correta. Eu sou médico e trabalho com implantes hormonais desde 2016, sendo que os implantes são usados no Brasil há mais de 20 anos. Houve uma carta de diversas sociedades médicas solicitando a proibição dos implantes hormonais manipulados, cujas referências são de artigos que não falam de implantes especificamente, mas acabou levando a Anvisa a se posicionar de forma equivocada", avalia Luiz Paulo Pinto.
O presidente da Associação de Hormonologia ainda afirma que existem riscos em todo tratamento médico e que eles devem ser informados ao paciente previamente. "E o uso dos implantes hormonais manipulados é uma decisão do médico em conjunto com o seu paciente, tanto que o paciente é instruído acerca dos efeitos colaterais possíveis e somente fará qualquer tipo de tratamento com implante se assinar um termo concordando", diz.
Pacientes em uso do implante
Luiz Paulo Pinto aponta que existem dois principais tipos de implantes hormonais manipulados: um modelo absorvível, com duração de até 6 meses, e um modelo silastico, com duração de até 12 meses. Os principais hormônios utilizados são gestrinona, estradiol e testosterona.
Ele reforça que muitas mulheres usam os implantes hormonais para alívio de sintomas da menopausa e da endometriose, uma vez que o Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da resolução 2.333/2023, proíbe o uso desses implantes para finalidades estéticas e de performance.
É o caso de Angela Celia Donasiki Filipini, que relata ter sofrido com uma série de sintomas após entrar na menopausa aos 42 anos. "Foi um acontecimento devastador na minha vida. Os sintomas de calorão e suores noturnos não eram nada perto dos problemas psíquicos que tive. Tais problemas inclusive me levaram a pedir demissão de uma carreira de 23 anos de trabalho", afirma.
"Após diversas tentativas frustadas de reposição oral e gel, tive a oportunidade de fazer colocação de implante de estradiol e testosterona. E, graças aos implantes, consegui voltar a viver. Não sei o que será da minha vida com essa suspensão”, completa Angela.
Pesquisa
Na visão de Luiz Paulo Pinto, uma interrupção do tratamento em caso de uso para redução de sintomas de doenças pode ter consequências graves para os pacientes. "Esse recurso é utilizado principalmente por mulheres que sofrem de endometriose, sintomas da menopausa e transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). O implante com o hormônio pode ajudar a conter as fortes cólicas, os sangramentos intensos e a enxaqueca. E essa população não pode perder acesso ao tratamento de uma hora para a outra", reafirma.
Ele cita um estudo publicado na National Library Of Medicine como base para seus argumentos. A pesquisa teve como objetivo observar se houve melhora na densidade mineral óssea ao longo de 5 anos em mulheres mais velhas usando implantes de estradiol. Foram avaliadas 18 mulheres que começaram a terapia de reposição hormonal por volta dos 60 anos. Cada uma recebeu implantes subcutâneos de 50 mg de estradiol a cada 6 meses.
Os pesquisadores compararam os resultados delas com os resultados de 12 mulheres não tratadas que fizeram cintilografias ósseas no início e após 5 anos. O resultado foi que, em 5 anos de tratamento, o grupo tratado com implante de estradiol melhorou significativamente as densidades minerais ósseas em comparação com o grupo não tratado.
Por fim, o presidente da ASBRAH comenta que existem alternativas para esses pacientes, mas avalia que "não são as melhores". "Para alguns pacientes a prescrição de géis manipulados é uma alternativa para tentar amenizar os sintomas. Mas é difícil falar em boas alternativas, porque muitos pacientes escolheram os implantes por entenderem que eram melhores do que outras opções existentes no mercado, e muitos deles já testaram as outras alternativas, mas sem bons resultados terapêuticos", defende Luiz Paulo Pinto.
O que diz a Anvisa
De acordo com a Anvisa, pacientes que utilizam esses produtos devem procurar seus médicos e solicitar orientação em relação ao tratamento. Qualquer paciente que venha a ter reações pelo uso deste tipo de produto deve fazer uma notificação ao órgão.
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ANA KAROLLINE ANSELMO RODRIGUES
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