15/10/2024 às 10h14min - Atualizada em 16/10/2024 às 00h13min

Especial Casa Flip+ CCR: Cada palavra em seu lugar

A escritora Noemi Jaffe e a editora Vanessa Ferrari discutem, na Casa CCR, na 22ª Flip, se é possível ensinar a escrita. Se escrever é mais do que usar boas maneiras, técnicas e regras, como ajudar aqueles que têm uma boa ideia, mas não sabem por onde começar?

DÉBORA ÁLVARES
Charles Trigueiro/ Divulgação CCR

Paraty, outubro de 2024 – Uma conversa recorrente na edição 2024 da Flip é o desejo latente de começar a escrever. Este foi o tema do painel “Cada palavra em seu lugar”, com a escritora, professora e crítica literária Noemi Jaffe e a editora e mestre em crítica textual pela Universidade de São Paulo (USP) Vanessa Ferrari. Elas bateram um papo sobre o assunto, mediado pelo escritor e poeta brasileiro Joca Reiners Terron, na mesa que encerrou a programação da Casa CCR, durante a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Noemi dá oficinas de criação de texto em grupos também. “Não existem regras. E essa é uma das características da literatura. Também não acredito em fórmulas. Mas são pressupostos norteadores para quem quer escrever literatura para que possam se imbuir desses princípios”, disse ela, que já usava esses conceitos em sua própria produção, mas nunca tinha colocado no papel antes. A mesa “Cada palavra em seu lugar” fez parte da programação gratuita oferecida pelo Instituto CCR, patrocinador e parceiro oficial de mobilidade do festival.

Inspiração para escrever existe em todo lugar, ela garantiu, e é fruto de muito trabalho e dedicação. Escrever não é diferente de tocar um instrumento ou praticar um esporte. “À escrita, é reservada uma mitologia divina que, para outras práticas, não existem. E, no fundo, é só escrever”, afirmou. O texto vive em transformação. “Não é que a escrita esteja isenta do mistério. O mistério existe. Mas como ele chega? Trabalhando”, completou.

Vanessa contou que, quando começou a ser editora na Companhia das Letras, estava animada para receber o trabalho de novos autores. E foi frustrante para ela perceber, ao longo dos anos, a quantidade de novos autores que tinham textos muito escolares. Ela percebeu um padrão constante no material que lia e classificou as decisões narrativas em cinco tipos de narrador: o poético, o saudosista, o conciso, o erudito e o autobiográfico. “Precisamos discutir a linguagem profissionalmente. Todo mundo pode contar uma história. Para isso, precisamos não apenas não errar, mas também colocar critérios literários que não aprendemos na escola. Oficinas literárias são importantes para formatar esses conceitos”, ela explicou. 

Ela ainda trouxe a importância de evitar escalas de hierarquia na língua. “Quando se olha a língua de maneira mais abrangente, e se vê todas as variações possíveis, com a beleza que cada uma delas têm, a gente aprende outras coisas para além do que damos como certo que se trata de uma boa escrita. Em constante movimento, as grandes questões literárias passam por expressões regionalizadas também”, explicou, tirando o foco da linguagem dos grandes centros. 

O que motiva as pessoas a quererem escrever?
Esta pergunta é uma constante nas mesas da Flip. O que faz com que alguém se interesse por começar um texto? “De forma geral, expressar a própria dor, questões subjetivas e admiração por literatura que fazem ter vontade de manifestar-se verbalmente. Porém, o pior motivo para começar a escrever é pensar em publicar. Escrever e publicar são coisas diferentes. A publicação é consequência da escrita, não pode ser a causa”, disse Noemi. 

Ela admitiu dar uma bronca em quem só começa escrever para expressar a subjetividade – isso seria algo a se fazer na terapia, mas o simples ato de colocar sentimentos no papel não é literatura ainda. O processo de escrita é longo, lento, e passa por reescrever. “É um momento em que seu corpo está escrevendo, e não a sua cabeça. Não passa pelo filtro da vaidade, censura. A escrita é sobre o outro. Mesmo que se escreva sobre si, você vira o outro”, ela afirmou. 

Mas e se não gostarem do que eu escrevi?
Vanessa contou que é comum se sentir diminuída por críticas ao seu texto, algo que vem desde a infância, no colégio. “Mas é o jeito de falar que mágoa. Parece que fica esquecido que literatura é o manejo da língua”, disse. 

As oficinas de Noemi são de duas turmas de pessoas que escrevem há muito tempo. Tem gente que está com ela há 12 anos. Segundo ela, o trabalho da oficina é de muita escuta, e esse é um dos grandes privilégios do exercício em grupo. 99% das pessoas ali aceitam as críticas que realmente são feitas com afeto, respeito, profissionalismo e verdade. É importante os escritores saberem articular frases mais longas e frases mais curtas, por exemplo.

Ela mencionou ainda que há livros que poderiam ser menores e é preciso sugerir cortes. Noemi lembra que Guimarães Rosa cortou mais de 50% de Sagarana. Mas, para ambas, há um limite nas interferências que farão no trabalho dos escritores. “Quando pontuo o erro, o grupo também concorda e mesmo assim o autor se recusa a mudar, eu paro de falar sobre o assunto. Não dá para insistir tanto em apontar o que está errado se isso não está sendo bem aceito”, conta Noemi. 

Um erro recorrente para Vanessa é escritores inexperientes colocarem pessoas de classes mais baixas falando um português errado. “Pessoas abastadas também erram. Graciliano Ramos escreveu Vidas Secas inteirinho sobre uma família paupérrima e não há um erro de português no texto todo”, explicou. 

No painel, eles comentaram a quantidade das pessoas que querem ser escritores, mas não gostam de ler. No texto, ter bagagem literária ajuda a colocar o pé no chão para não achar que produziu algo melhor do que realmente fez. “E dá para falar mal de editor também: eles erram bastante. Um modo de errar menos é olhar para o livro pensando que existe uma fórmula para o sucesso. As histórias podem surpreender o editor”, Vanessa contou.

Noemi cita o exemplo do estilo de Joca Terron, cujas perguntas não levam ponto de interrogação. “É só conhecendo muito a gramática que é possível subvertê-la. É uma escolha estilística e quando, vemos que a pessoa não está só emulando outros autores, mas criando algo dela, é original. Originalidade é a colagem de influências. Não se cria o novo. A vida muda a escrita, mas a escrita muda a vida também”, finalizou.

Grupo CCR na Flip
O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, ampliou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o maior evento do gênero no País. Por meio do Instituto CCR, é a primeira vez que oferece um espaço com programação. Ao longo de três dias, serão apresentadas nove mesas de discussão, com a presença de escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos. 

Os debates abordaram temas como urbanismo, formar de narrar, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário. Este último assunto está relacionado ao jornalista e autor João do Rio, reconhecido como um dos mais influentes escritores do início do século XX no Rio de Janeiro e o homenageado pelo evento na edição deste ano.

Além da Casa CCR, o Grupo CCR é novamente o parceiro oficial de mobilidade da Flip. A Companhia ofereceu transporte gratuito por meio de vans e barcas para os moradores de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas na região de Paraty. Seis rotas foram planejadas para facilitar o acesso dessas comunidades ao centro histórico, com horários definidos de acordo com a programação do festival. 

Em linha com sua agenda de sustentabilidade, o Grupo CCR também implementou a coleta seletiva de resíduos na Flip, em colaboração com a Associação de Catadores e Catadoras de Recicláveis de Paraty, uma cooperativa local. Um carrinho elétrico percorreu o Centro Histórico durante o evento, recolhendo materiais recicláveis e destinando para uma caçamba de reciclagem instalada na praça. 

 

Sobre o Instituto CCR | Entidade privada sem fins lucrativos, gerencia o investimento social do Grupo CCR, com o objetivo de proporcionar transformação social nas regiões de suas concessões de rodovias, aeroportos e mobilidade. Os projetos do ICCR são implementados por meio de recursos próprios ou verbas incentivadas. Entre os projetos proprietários de impacto, merecem destaque: Caminhos para a Cidadania, que capacita mais de 3 mil professores em 1.600 escolas anualmente, e o Caminhos para a Saúde, que oferece atendimentos de saúde a caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e passageiros de trens urbanos e metrôs. Seu foco são iniciativas nas frentes de Mobilidade e Cidades Sustentáveis, Cultura e Educação, Saúde e Segurança. Desde 2014, as ações do Instituto já beneficiaram mais de 18 milhões de pessoas. Saiba mais em www.institutoccr.com.br.

Sobre o Grupo CCR | O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, atua nas plataformas de Rodovias, Mobilidade Urbana e Aeroportos. São 39 ativos, em 13 estados brasileiros e mais de 17 mil colaboradores. O Grupo é responsável pela gestão e manutenção de 3.615 quilômetros de rodovias, realizando cerca de 3,6 mil atendimentos diariamente. Em mobilidade urbana, por meio da gestão de metrôs, trens, VLT e barcas, transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Em aeroportos, com 17 unidades no Brasil e três no exterior, embarca 43 milhões de clientes anualmente. A companhia está listada há 13 anos no hall de sustentabilidade da B3. Mais em: grupoccr.com.br.

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