Paraty, outubro de 2024 – A relação com a cidade, os caminhos que traçamos e a maneira como os ambientes nos tratam nos ajudam a como entender o mundo em que vivemos foram alguns dos temas abordados pela advogada e filósofa Bianca Tavolari, mestre em direito e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), e pelo escritor gaúcho José Falero, conhecido pelo romance Os Supridores (2020), que problematiza questões sociais com base em pensadores como Marx, na mesa “Cidades visíveis e invisíveis”. O encontro ocorreu na Casa CCR, durante a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Mediada pela jornalista Micheline Alves, a mesa faz parte da programação gratuita oferecida pelo Instituto CCR, patrocinador e parceiro oficial de mobilidade da Flip 2024.
O primeiro livro de Falero, Vila Sapo, é sobre o bairro de Pinheiro, na periferia de Porto Alegre (RS), onde ele nasceu. Vila, aliás, é comumente traduzida como a “favela do sul”, mas o escritor explica que não é bem isso: vila é um pedaço de algum lugar precarizado. “Pinheiro é longe e todo mundo que vem de lá tem uma relação forte com o bairro. Não sei se foi por ter sido criado nesse lugar que me fez ser assim, ou ser assim e ter um pensamento crítico mais aguçado que me permitiu observar esse lugar.”
Bianca tem a experiência de crescer em uma cidade grande, o Rio de Janeiro, em bairros abastados. “Saí do Rio com 15 anos e fui morar no bairro do Morumbi, conhecido por uma foto de varandas com piscinas ao lado de uma favela. Eu vivia ali muito perto, em um lugar de privilégios”, ela contou sobre o bairro de elite paulistano que foi feito para os carros. “O espaço (urbano) é feito de uma maneira que diz quem você é e te coloca no seu lugar o tempo todo.”
As cidades, segundo Falero, são invisibilizadas por motivos diversos. “Pinheiro fica sem água 20 dias durante o verão. Tem a cidade que a gente não quer ver e aquela que a gente não tem sensibilidade para ver. O fato de pensar sobre isso me fez ver esse lugar onde nasci”, disse. Ele contou que recebeu o prêmio de cidadão porto-alegrense e saiu para receber o prêmio sem tomar banho, pois era verão e não havia água no bairro. “Era um prêmio de cidadão, mas as pessoas do meu bairro, eu incluso, não têm direito à cidadania”, afirmou.
E o transporte?
Micheline pergunta aos convidados se o Brasil que privilegia os carros em vez do transporte público tem solução. As maneiras como as pessoas usam os espaços urbanos, explicou Bianca, vai depender da nossa experiência. “A ideia de que aprendemos a cidade como um todo nunca vai existir. A cidade fica no lugar da palavra, como uma representação: conhecemos os mapas, mas não a cidade toda. Mas a mobilidade urbana não é discussão de ir ao ponto a ou ponto b, é tempo de vida. Há quem demora três horas para chegar no trabalho e quem demora 10 minutos. Isso é um marco da desigualdade social”, ela afirmou. Nesse contexto, ela diz, é uma ilusão achar que alguém vai ler ou aproveitar o tempo de alguma forma em um ônibus lotado. É impossível.
Chuvas em Porto Alegre
Falero não estava em Porto Alegre durante as chuvas deste ano. Mas, de Belo Horizonte (MG), viu o que havia acontecido na tragédia, agoniado com a impossibilidade de ajudar a limpar e reconstruir as casas das pessoas.
“Eu tenho medo de dizer uma coisa dessas para não confundir com falta de sensibilidade. Mas eu tenho a impressão de que quando as tragédias acontecem no Sul, existe muita solidariedade. O Rio Grande do Sul é um estado majoritariamente branco e isso contribuiu para a compaixão das pessoas. Mas nosso país é uma tragédia nas ruas todos os dias, não precisa alagar”, ele disse, explicando ter a impressão de que pessoas pobres não geram tanta empatia quanto classes mais abastadas. Ele citou o exemplo de São Paulo: um lugar onde 80 mil pessoas moram na rua deveria ser notícia o tempo todo e todos deveriam querer ajudar.
Bianca acha que estamos ainda muito longe de uma fase em pensar o meio ambiente como um tema mais importante do que as outras questões urbanas, mas isso deveria ser imediato. “Está difícil habitar esse mundo como está. Por enquanto ‘morrer de calor’ é metafórico, mas já está deixando de ser. Se estamos falando de adiar o fim do mundo, temos que falar sobre nossas escolhas, especialmente se estamos em lugar privilegiado”, disse.
Falero encerra a mesa falando sobre a relação da festividade de rua como opção de esquecer a opressão da própria cidade. Um escape. “Mas ninguém pensa nas pessoas que estão vendendo cerveja na festa”, lembrou Bianca.
O papo se volta para a importância de reestabelecer o diálogo. “Como voltamos a conversar com as pessoas? A gente tem que parar de achar que fala com quem concorda com a gente e ter um cuidado na fala para não estigmatizar as populações diferentes de nós, como se tivéssemos entendido melhor que eles. Não estamos lendo bem muita coisa. É hora de baixar a bola”, completou Bianca.
Grupo CCR na Flip
O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, ampliou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o maior evento do gênero no País. Por meio do Instituto CCR, é a primeira vez que oferece um espaço com programação. Ao longo de três dias, serão apresentadas nove mesas de discussão, com a presença de escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos.
Os debates irão abordar temas como mobilidade urbana, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário. Este último assunto está relacionado ao jornalista e autor João do Rio, reconhecido como um dos mais influentes escritores do início do século XX no Rio de Janeiro e o homenageado pelo evento na edição deste ano.
Além da Casa CCR, o Grupo CCR é novamente o parceiro oficial de mobilidade da Flip. A Companhia irá oferecer transporte gratuito por meio de vans e barcas para os moradores de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas na região de Paraty. Seis rotas foram planejadas para facilitar o acesso dessas comunidades ao centro histórico, com horários definidos de acordo com a programação do festival.
Em linha com sua agenda de sustentabilidade, o Grupo CCR também implementou a coleta seletiva de resíduos na Flip, em colaboração com a Associação de Catadores e Catadoras de Recicláveis de Paraty, uma cooperativa local. Um carrinho elétrico está percorrendo o Centro Histórico durante o evento, recolhendo materiais recicláveis e destinando para uma caçamba de reciclagem instalada na praça.
Sobre o Instituto CCR | Entidade privada sem fins lucrativos, gerencia o investimento social do Grupo CCR, com o objetivo de proporcionar transformação social nas regiões de suas concessões de rodovias, aeroportos e mobilidade. Os projetos do ICCR são implementados por meio de recursos próprios ou verbas incentivadas. Entre os projetos proprietários de impacto, merecem destaque: Caminhos para a Cidadania, que capacita mais de 3 mil professores em 1.600 escolas anualmente, e o Caminhos para a Saúde, que oferece atendimentos de saúde a caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e passageiros de trens urbanos e metrôs. Seu foco são iniciativas nas frentes de Mobilidade e Cidades Sustentáveis, Cultura e Educação, Saúde e Segurança. Desde 2014, as ações do Instituto já beneficiaram mais de 18 milhões de pessoas. Saiba mais em www.institutoccr.com.br.
Sobre o Grupo CCR | O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, atua nas plataformas de Rodovias, Mobilidade Urbana e Aeroportos. São 39 ativos, em 13 estados brasileiros e mais de 17 mil colaboradores. O Grupo é responsável pela gestão e manutenção de 3.615 quilômetros de rodovias, realizando cerca de 3,6 mil atendimentos diariamente. Em mobilidade urbana, por meio da gestão de metrôs, trens, VLT e barcas, transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Em aeroportos, com 17 unidades no Brasil e três no exterior, embarca 43 milhões de clientes anualmente. A companhia está listada há 13 anos no hall de sustentabilidade da B3. Mais em: grupoccr.com.br.
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