16/09/2024 às 10h18min - Atualizada em 17/09/2024 às 08h00min

Especialista alerta sobre uso de crianças em publicidades de jogos online

"Elas podem não entender o conceito de risco, probabilidade ou perda financeira, o que torna a exposição a esse tipo de conteúdo potencialmente prejudicial.”

Karina Pinto
Karina Pinto - Assessoria de Imprensa
Imagem de Feepik

Com uma linguagem infantil, aparentemente inofensiva, eles vão ganhando mais e mais adeptos para as casas de apostas, afinal, como não ficar encantado ao ver um anúncio tão “fofo”? Basta uma rápida visita a timeline das redes sociais e os vídeos com meninas e meninos menores de 11 anos fazendo publicidade de jogos online, surgem na tela. 

Para especialistas em saúde mental e pesquisadores sobre o comportamento humano, essas crianças estão sendo expostas de forma perigosa, e isso precisa ser analisado pelas autoridades o quanto antes. “Crianças nessa faixa etária ainda estão em uma fase de desenvolvimento em que não possuem maturidade emocional e capacidade cognitiva suficientes para compreender completamente as implicações dos jogos de apostas. Elas podem não entender o conceito de risco, probabilidade ou perda financeira, o que torna a exposição a esse tipo de conteúdo potencialmente prejudicial.” explica Amanda Souza, psicanalista.  

Publicidade de jogos de apostas pode romantizar a ideia de ganhar dinheiro facilmente, sem destacar de forma clara os riscos associados, o que pode levar a uma visão distorcida sobre dinheiro e sorte. “O vídeo em jogos online se tornou uma epidemia no Brasil, as pessoas estão perdendo seus ganhos financeiros, vendendo bens, fazendo empréstimos e perdendo o emprego por conta da dependência nas apostas. Famílias se desestruturam, e pessoas adoecendo de forma grave a ponto de tentarem tirar a própria vida, levadas pelo desespero de não ter como pagar o que devem, e agora, ainda temos crianças sendo envolvidas nesse meio que já se mostrou extremamente perigoso.”, alerta a especialista.  

A participação em campanhas publicitárias de jogos de apostas também pode influenciar negativamente o comportamento das crianças, especialmente se elas forem vistas como figuras de autoridade ou influência por outras crianças. Isso pode normalizar o comportamento de apostar entre seus pares, criando uma percepção equivocada de que esse tipo de atividade é apropriado ou desejável para sua idade.

Outro aspecto importante é a pressão psicológica que a participação em publicidade pode colocar sobre a criança. Elas podem sentir-se pressionadas a desempenhar certos papéis ou atender às expectativas de adultos, o que pode impactar sua autoestima e desenvolvimento emocional. Além disso, envolver-se em publicidade relacionada a jogos de azar pode gerar uma dissonância entre o que é esperado de uma criança e o conteúdo adulto associado ao jogo de apostas.

Do ponto de vista ético, há uma preocupação sobre o uso de crianças para promover atividades que podem não ser apropriadas para sua faixa etária, como jogos de apostas. Além disso, é importante considerar as legislações locais que regulam a publicidade infantil e a promoção de jogos de azar.

“Permitir que crianças menores de 11 anos façam publicidade de jogos online de apostas não é saudável, tanto para o seu desenvolvimento pessoal quanto para a mensagem que isso pode passar para outras crianças. Em vez disso, seria mais apropriado promover conteúdos que estejam alinhados com o estágio de desenvolvimento dessas crianças e que contribuam para seu crescimento emocional e cognitivo de maneira positiva.”, destaca. 

Para a psicanalista, o uso de crianças em publicidade de jogos online, não é casual, mas intencional, e isso precisa entrar no radar das autoridades. Para Amanda, a intenção é clara, criar novos jogadores, preparar apostadores realmente aficionados, que cresceram ouvindo que as apostas são algo natural. “O cérebro de uma criança ainda está em desenvolvimento, especialmente nas áreas responsáveis pelo autocontrole, tomada de decisões e regulação emocional, como o córtex pré-frontal. Isso significa que crianças são mais vulneráveis a desenvolver vícios, pois a capacidade de resistir a impulsos e de avaliar as consequências a longo prazo ainda não está totalmente formada. Um vício adquirido na infância pode se enraizar mais profundamente, influenciando o desenvolvimento do cérebro e moldando padrões comportamentais que podem persistir na vida adulta.” 

Quando o vício se instala na infância, ele pode moldar padrões de comportamento que se tornam automáticos. Por exemplo, uma criança que desenvolve dependência de videogames ou substâncias pode crescer priorizando essa atividade sobre outras áreas importantes da vida, como a escola, o trabalho ou os relacionamentos. Esses padrões de comportamento podem ser mais difíceis de mudar na vida adulta, uma vez que foram estabelecidos ao longo de anos durante um período crítico de desenvolvimento.

Embora o vício na vida adulta também seja desafiador, os adultos geralmente têm uma capacidade maior de autocontrole e uma melhor compreensão das consequências de seus comportamentos. Isso significa que, embora o vício ainda possa ser prejudicial, o adulto pode ter mais ferramentas cognitivas e emocionais para lidar com ele, como a capacidade de buscar ajuda, reconhecer padrões destrutivos e tentar modificar seu comportamento. 

Muitas redes sociais, como Facebook, Instagram e TikTok, estabelecem uma idade mínima de 13 anos para criar uma conta. Isso está alinhado com a Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças (COPPA) nos Estados Unidos, que exige o consentimento dos pais para a coleta de dados de menores de 13 anos. Esse limite é uma tentativa de proteger as crianças da exposição a conteúdos inadequados e da coleta indiscriminada de dados. No Brasil, o projeto de lei 2.628/2022 que proíbe a criação de contas em redes sociais por menores de 12 anos está tramitando no senado. 


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KARINA DA SILVA SOUZA PINTO
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