“Em um contexto no qual os investidores levam cada vez mais em consideração as informações ESG para tomada de decisão na hora de alocar capital, o estudo sugere que a falta de verificação externa, capaz de inibir a propagação de relatos equivocados e a promoção do greenwashing, tende a despontar como desafio a ser superado internamente, principalmente porque, a partir de 2027, a divulgação deve torna-se obrigatória”, afirma Wesley Mendes, principal autor do Anuário. Desde novembro do ano passado, pontua o pesquisador em inovações financeiras, vigora no Brasil a Resolução nº 59 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), voltada à uniformização do reporte de ESG por parte de empresas e fundos, iniciativa pioneira no mundo.
O levantamento da Bells & Bayes revela uma série de outros achados, entre eles, que 82% das companhias analisadas informaram não possuir, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. Além disso, a pesquisa detectou que em 50% das empresas as mulheres não estão presentes na diretoria; enquanto que no conselho de administração o índice é de 27%.
“A diversidade, entendida como a presença de pessoas tecnicamente habilitadas, com diferentes origens, experiências, habilidades e perspectivas na alta administração, exerce papel fundamental na criação de valor econômico e no impulsionamento da inovação e do desempenho empresarial”, destaca o relatório, que, ao mesmo tempo, identifica nas informações divulgadas por diversas empresas discursos vagos, sem posicionamentos objetivos a respeito do tema.
Na avaliação de Mendes, o cenário deve começar a mudar em breve. “Ao longo dos próximos dois anos, as empresas terão de adequar a novas obrigações impostas pela B3 quanto à composição da administração, adotando critérios de diversidade ao elegerem os membros da sua alta gestão, indicando ao menos uma mulher (considerada qualquer pessoa que se identifique com o gênero feminino) e/ou um membro de comunidade assumida como sub-representada (assim entendido como qualquer pessoa que seja ‘preta’, ‘parda’ ou ‘indígena’, integrante da comunidade LGBTQIA+, ou pessoa com deficiência), para cargos de titulares do conselho de administração ou da diretoria estatutária.”
Outras conclusões do “ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024” incluem:
● 24% das empresas informaram que consideram aspectos ESG na remuneração da alta administração;
● 32% (61) das Companhias não reportam ou não consideram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU);
● Mais de 70% (135) das companhias mencionam considerar aspectos ESG como oportunidades a explorar no plano de negócio;
● Em termos de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 aparece como monitorado em 46%.
● 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela de companhias é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos.
● 70,7% (135) informaram considerar oportunidades ESG em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).
● 64% (132) das Companhias seguem GRI (Global Reporting Initiative) em termos de padrões e frameworks para apresentar relatórios de sustentabilidade.
● Enquanto o ODS-Objetivo de Desenvolvimento Sustentado mais frequente é o ODS8-Trabalho decente e crescimento econômico, citado por 58% das companhias, o ODS14- Vida na água é citado por 10% delas;
● 20% das Companhias não informam exposição a riscos de ordem social, em termos de aspectos ambientais esse percentual é 17%, e 23% para aspectos climáticos. Isto é, em torno de 40 Companhias não dedicam atenção a reportar riscos nessa agenda.
● O oferecimento de dados e informações uniformizadas, regulares e consistentes ao agente regulador por parte das empresas listadas permitirá o desenvolvimento de pesquisas futuras acerca da contribuição dos fatores ESG para o desempenho das companhias, além de servir como driver às decisões de (des)investimentos.
Método e coleta de dados do ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024: foram considerados inicialmente os Formulários de Referência (FRE) de todas as 193 Companhias listadas no Novo Mercado no início de março de 2024. Para 191 dessas (99%) foi viável acessar o FRE arquivado nos sistemas da CVM, mediante consultas realizadas entre 18/mar 2024 e 08/abr 2024, acessando a última versão do FRE disponibilizada pela companhia. Predominam empresas do setor de consumo cíclico (30%).
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PEDRO HENRIQUE DE CARVALHO CASSIANO
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