Reforma Tributária: quando o prato fica mais caro do que a receita

por chef Renata Porto

FLáVIA GAVIOLI
13/10/2025 09h54 - Atualizado há 16 horas

Reforma Tributária: quando o prato fica mais caro do que a receita
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A tão esperada Reforma Tributária, que entrará em vigor em 2026, foi apresentada como uma solução para simplificar a complexa cobrança de impostos no Brasil. No entanto, para bares e restaurantes, a medida pode representar um enorme desafio: o risco de transformar a já estreita margem de lucro em um prejuízo anunciado.
Segundo a Associação Nacional de Restaurantes (ANR), a unificação dos tributos federais (PIS e Cofins), estaduais (ICMS) e municipais (ISS) elevará a carga tributária do setor dos atuais 7–8% para algo em torno de 14–15%. Para um segmento cuja rentabilidade média é de 10%, isso significa, na prática, operar sem lucro. Para sobreviver, muitos empresários precisarão reajustar os preços em 15 a 20%, um aumento difícil de ser absorvido pelo consumidor, ainda mais em um país onde a inflação dos alimentos pesa diretamente no orçamento familiar.
O problema vai além dos números. O setor de alimentação fora do lar foi um dos mais impactados durante a pandemia e vinha sendo protagonista da recuperação econômica nos últimos anos. O aumento de impostos ameaça frear essa retomada, conter o crescimento de pequenos negócios e estimular a informalidade e a sonegação.

Falo aqui como empresária. Há mais de dez anos administro um restaurante de comida saudável e, recentemente, expandi para o segmento de refeições coletivas. Sei de perto o quanto cada detalhe da operação importa: o preço dos ingredientes, o custo da energia, da equipe, da logística. Quando a margem é apertada, qualquer alteração no imposto faz diferença. Se cada quilo de arroz ou litro de óleo carregar um tributo maior, a conta final pesa tanto para quem compra quanto para quem vende.
O consumidor já está sensível a reajustes. E nós, empresários, buscamos constantemente equilibrar qualidade, acessibilidade e sustentabilidade. Aumentar preços pode afastar clientes, mas não repassá-los significa inviabilizar o negócio. É uma equação injusta que recai principalmente sobre pequenos e médios empreendedores, aqueles que geram empregos e movimentam a economia local.
Não se trata apenas de números. Bares e restaurantes fazem parte da cultura brasileira, são espaços de convivência, empregam milhões de pessoas e garantem alimentação acessível a diferentes públicos. Se a reforma não vier acompanhada de medidas específicas para proteger o setor, corremos o risco de enfraquecer uma cadeia que sustenta a vida econômica e social do país.
A Reforma Tributária é necessária, mas não pode ser feita às custas de um setor que todos os dias coloca comida na mesa de milhões de brasileiros. Que este debate seja ampliado e que se pense em alternativas justas, para que o prato cheio não seja apenas para os impostos.

Mini biografia – Chef Renata Porto
Renata Porto é empreendedora nata e construiu uma jornada que transita do jornalismo corporativo ao universo da gastronomia, espaço em que encontrou a verdadeira vocação. Pioneira na gastronomia funcional no Vale do Paraíba, dedica-se há mais de uma década a promover e transformar a ali mentação saudável, unindo sabor e bem-estar. Proprietária de quatro marcas gastronômicas de destaque na região, consolidou um lega do de inovação e qualidade. Além da atuação empresarial, participa de programas de TV, inspirando o público a redescobrir o prazer de comer bem com saúde e criatividade. A experiência como gestora também foi reconhecida na literatura: ela assina o capítulo “Quem sabe aonde vai chega!” na obra coletiva “Negócios com Identidade” (Editora Gente, que será lançada em novembro deste ano, onde compartilha aprendizados sobre liderança, propósito e gestão no setor de gastronomia.
 

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FLAVIA MORENO GAVIOLI
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