Belém recebe neste fim de semana mais de dois milhões de fiéis para a maior manifestação religiosa do Norte do Brasil. Entre as 13 procissões oficiais que marcam o Círio de Nazaré, um dos momentos de maior simbolismo é a participação de artistas locais que unem fé e música em homenagens espontâneas à padroeira da Amazônia. Entre eles está o cantor paraense Rhenan Sanches, que entoa cânticos marianos na Trasladação (sábado, 11) e na manhã do Círio (domingo, 12), na Casa da Nazinha, ao lado da Casa da Juventude e da cantora Juliana Sinimbú.
Diferente das apresentações de palco, a participação é composta por hinos religiosos e músicas devocionais, cantadas em clima de oração coletiva durante a passagem da berlinda. O ponto de encontro é a sede do Clube do Remo, onde tradicionalmente fiéis se reúnem para acompanhar o trajeto da imagem peregrina.
“Cantar nesse momento é rezar com o povo. Não é um show. É uma oferta, um agradecimento”, afirma Rhenan, que neste ano retorna à celebração em meio a conquistas importantes em sua carreira solo. “É um momento de gratidão e de conexão com a minha história.”
A participação do artista na festa tem raízes pessoais. Criado em família católica, Rhenan relembra a infância marcada por novenas, promessas e caminhadas descalço nas ruas de Belém. “Eu cresci no Círio. Desde pequeno participava das celebrações no bairro, com minha avó. Já puxei corda, já pedi graças, já cumpri promessas. Quem é paraense sabe que essa fé atravessa gerações.”
A Casa da Nazinha, onde ocorre a homenagem musical, é um dos pontos mais tradicionais do trajeto da Trasladação. Organizado pela comunidade católica Casa da Juventude, o local oferece apoio espiritual, oração, acolhimento e música. O espaço se torna um ponto de encontro entre fé e arte, com presença de artistas que levam sua voz em reverência à padroeira.
A dimensão cultural do Círio também é reconhecida oficialmente: a festividade foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN e da Humanidade pela UNESCO.
A presença de cantores e músicos no Círio não é novidade. Ícones como Fafá de Belém tornaram-se referência nacional na conexão entre música e devoção. No caso de Rhenan, o convite para participar da homenagem reforça a presença da nova geração da música nortista nos eventos de fé coletiva.
Com trajetória marcada por fusões entre brega, lambada, tecnomelody e carimbó, Rhenan Sanches se tornou um dos nomes do chamado "pop amazônico". Seu trabalho mistura sonoridade popular com estética contemporânea, o que tem ampliado sua projeção para além do Pará.
Mas no Círio, a prioridade é outra: “Não estou ali para mostrar minha arte. Estou ali para devolver o que recebi. É um ato de fé, que se expressa pela música, pelo canto coletivo e pela emoção de ver tanta gente caminhando com esperança no olhar”, diz o artista.
Segundo estimativas da Diretoria da Festa, a Trasladação reúne mais de 800 mil pessoas todos os anos. Muitas seguem o trajeto ajoelhadas ou descalças, em promessas silenciosas ou preces públicas. “Ali a música não é entretenimento. É sustento espiritual para quem carrega sua fé nos ombros e no coração”, conclui Rhenan.
Cantor e compositor de Belém (Pará), Rhenan transitou entre ritmos como brega, lambada, carimbó, forró e tecnomelody ao longo de cerca de 20 anos de carreira.
Ele é conhecido pelo estilo que mistura música popular regional com uma estética pop contemporânea, ganhando o apelido de “pop amazônico”.
Possui sete álbuns lançados e já gravou cerca de quatro projetos audiovisuais importantes, incluindo DVD ao vivo.
Ficou conhecido com o clipe “Bumbum Pra Trás”, divulgado pelo projeto Sons do Pará, e com o single “Sigilo”, considerado um marco do retorno ao tecnomelody.
Seu trabalho alcançou vídeos com mais de 6,5 milhões de visualizações no YouTube e cerca de 25 mil ouvintes mensais no Spotify.
Rhenan se destaca por unir musicalidade regional com linguagem moderna, produzindo para dança e festa, mas sem perder conexão com suas raízes culturais. O artista transita entre show pop e performances que valorizam a identidade amazônica
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PAULO NOVAIS PACHECO
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