Tecido Rio, obra que será exposta em Cosmologia Tecida
Por meio de trinta obras, a artista visual cearense Ana Cristina Mendes contribui com discussões latentes nas artes sobre ecologia, reflexões sobre o feminino e também as interações entre diferentes espécies humanas e não-humanas na mostra inédita Cosmologia Tecida, aberta para visitação a partir do dia 25 de outubro, sábado, 14h, no Massapê (R. Fortunato, 68 - Santa Cecilia, São Paulo).
A mostra, com curadoria de Lucas Dilacerda, é o recorte de obras que revelam uma imersão profunda na relação entre corpo, natureza e tecido, que conecta todos os seres, convidando o público a adentrar em uma memória que ultrapassa o tempo linear, fluido mas também convergente, como a própria água. Em Cosmologia Tecida, o público é convidado a entrar em contato com materialidades de diferentes texturas e cores, além de experimentar uma imersão por meio de obras de grande porte.
As questões trazidas pelos trabalhos estabelecem um diálogo direto com as discussões dos debates atuais e urgentes sobre o meio ambiente expressas na 36ª Bienal de São Paulo. A pesquisa de Ana parte da imersão do corpo na natureza e deságua em várias linguagens artísticas, como desenho, escultura, pintura, vídeo-performance e instalações, que desvelam, sobretudo, a força primal da memória e da ancestralidade.
Entre as obras em exibição, destacam-se: “Tecido rio”, uma escultura textil de 10 x 1 m composta por camadas de tecido e desenhos, “Mulherriotecida (Camparska Capari Macedônia)”, uma impressão fine art de 92 x 136 cm; as pinturas “Meditação I, II e III” em acrílica sobre tela; a instalação “Bicho do rio”, desenhos escultóricos e relicários com elementos que remetem a mistérios e segredos do rio; as aquarelas da “Série Pouso”; a série “Sertão de dentro” e a obra “Pedra do mar que virou sertão”.
A materialidade do tecido é um fio condutor na obra de Ana Cristina Mendes, que desde sua história de vida ligada à moda e aos têxteis, traz essa característica nos seus trabalhos. Sobre os tecidos escolhidos para as obras de Cosmologia Tecida, ela os descreve como porosos, capazes de trazerem marcas que diminuem as distâncias. Eles também têm uma característica elástica, que alcança e retrai. “Eu vejo esses tecidos como abarcadores de mundos, já que ao levá-los para a natureza, eles ganham elementos dela”, explica Ana Cristina, reforçando que a areia, a vegetação e o sal são alguns dos elementos que se incorporam neles.
Segundo Lucas Dilacerda, curador da mostra, a poética de Ana Cristina Mendes emerge como um contínuo de forças vitais, em que corpo, água e tempo se entrelaçam para fabular modos de existir para além do humano. “Sua criação é movida por um vitalismo que reconhece a vida como energia em permanente metamorfose: tudo se expande e se contrai, como um elástico de forças que se transforma sem cessar. Nessa cosmologia, além de elemento, a água é máquina do tempo e arquivo vivo, portadora de memórias ancestrais que atravessam a terra e o corpo", diz Lucas
A pesquisa da artista, nos termos da memória afetiva e ancestral, conecta-se diretamente ao Rio Jaguaribe, no Ceará, onde sua mãe, avó e tataravó nasceram. Inclusive, a instalação "Bicho do Rio", inspirada na lenda sobre uma criatura híbrida associada ao feminino, é composta por relíquias do rio e objetos pessoais da casa da avó de Ana Cristina, em Jucás (CE). “A ancestralidade que atravessa essa poética não se restringe ao humano: é cósmica, vegetal, mineral, espiritual", reforça o curador.
Texto curatorial
Tecido vital, por Lucas Dilacerda
A poética de Ana Cristina Mendes emerge como um contínuo de forças vitais, em que corpo, água e tempo se entrelaçam para fabular modos de existir para além do humano. Sua criação é movida por um vitalismo que reconhece a vida como energia em permanente metamorfose: tudo se expande e se contrai, como um elástico de forças que se transforma sem cessar. Nessa cosmologia, além de elemento, a água é máquina do tempo e arquivo vivo, portadora de memórias ancestrais que atravessam a terra e o corpo. Ausência e excesso, seca e inundação, a água transporta histórias de migrações, deslocamentos e renascimentos, fazendo do corpo um campo de ressonâncias onde memória e futuro se dobram um no outro.
O corpo, em sua materialidade porosa, não se fecha em fronteiras humanas; torna-se mangue, rio, animal, ecossistema. É um corpo que se hibridiza, que escuta e negocia com outros seres em uma convivência multiespécie. A experiência de “humanar”, como evoca Bonaventure, convoca uma prática de humildade e escuta, na qual a humanidade só se cumpre em simbiose com o que a excede. Por isso, aqui, a performance é um ritual de despertar de memórias, em que o corpo se faz arquivo e mediador, termômetro de tempos não lineares.
A ancestralidade que atravessa essa poética não se restringe ao humano: é cósmica, vegetal, mineral, espiritual. Como nas espirais de tempo descritas por Leda Maria Martins, passado e por vir coexistem em um presente em fluxo. Cada movimento é um ato de transubstancialidade, como afirma Denise Ferreira da Silva: o corpo se transmuta, absorve, dilui e renasce. Entre queda e voo, entre silêncio e sopro, Ana Cristina Mendes convoca um espaço de escuta em que a arte torna-se prática de recomposição do mundo. Sua cosmologia, tecida de água e memória, nos convida a sentir no corpo a circularidade da vida, onde nascer, morrer e renascer são um só gesto.
Sobre Ana Cristina Mendes
Artista-pesquisadora, mestra em Artes pelo PPGArtes ICA-UFC. Desenvolve sua pesquisa corpo-paisagem tendo o feminino, a natureza e a subjetividade como eixos, relacionando-os ao tecido como lugar de transformações, transmutações de seres em novos corpos, multiespécies, paisagens. A partir de experiências imersivas, sua poética transita do individual às ações colaborativas em performances e desdobramentos em outras linguagens. Discute memória, matéria e ancestralidade em recorrência no espaço-tempo e nas coisas ao derredor, do cotidiano, isto sob a perspectiva do universo feminino, da ausência que move corpos e histórias. Participou de exposições coletivas, individuais, residências artísticas em âmbito nacional e internacional. Foi premiada em duas edições da Unifor Plástica (2205 e 2011), Secultfor (2010/2011) e Minc (2015). Foi selecionada para o Salão de Abril em 2024 e 2025 e é artista colaboradora da Ponte Cultura Alemanha/Brasil
Ficha técnica
Artista: Ana Cristina Mendes
Curadoria: Lucas Dilacerda
Assessoria: Flávia Castelo
Assessoria de Imprensa: Pevi 56 - Angelina Colicchio e Diogo Locci
Mídias, catálogo, flyer: Lívia Magalhães
Audiovisual: Sarah Lídice
Serviço
Cosmologia Tecida
Local: Massapê (Rua Fortunato, 68. Santa Cecília, São Paulo, SP)
Abertura: 25/10/25, sábado, das 14h às 20h
Período expositivo: 26/10/25 a 31/10/25, das 10h às 19h
Classificação etária: livre
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