O esporte sempre foi uma das ferramentas mais poderosas de transformação social. No entanto, no Brasil, o acesso a diversas modalidades ainda está longe de ser igualitário, especialmente quando falamos de esportes radicais e da juventude das periferias. Como atleta e apoiador de novos talentos, convivo diariamente com os obstáculos que se interpõem entre jovens promissores e suas oportunidades de florescer. Ainda assim, também vejo soluções. Tornar o esporte mais acessível é um compromisso coletivo e urgente.
Para muitos jovens de baixa renda, os esportes radicais ainda são vistos como algo distante. Faltam pistas, centros de treinamento, equipamentos acessíveis e, principalmente, incentivo. Modalidades como skate, BMX, snowboard ou surfe exigem estruturas específicas, o que torna o acesso mais caro e limitado. Segundo uma pesquisa da Ipsos realizada em 2021, 53% dos brasileiros gostariam de praticar mais esportes, mas apenas 40% estão satisfeitos com a frequência atual. Isso mostra que o desejo existe, mas continua travado por barreiras como falta de infraestrutura, segurança e acessibilidade, especialmente nas periferias urbanas.
Quando bem estruturado, o esporte é um dos caminhos mais eficazes para inclusão social. O relatório “Esporte que protege contra violências”, publicado pelo UNICEF em 2023, reforça que a prática esportiva, aliada ao desenvolvimento socioemocional e à inclusão, fortalece competências que ajudam a prevenir situações de risco entre crianças e adolescentes. Mais do que gerar medalhas, o esporte oferece pertencimento. Cria redes de apoio, fortalece a autoestima e desenvolve habilidades de vida que ajudam os jovens a resistirem a contextos adversos. Especialmente nos esportes radicais, onde superação e coragem fazem parte da essência, os ganhos emocionais e sociais são ainda mais potentes.
Algumas ações já mostram que é possível avançar. O programa Maré Inclusiva, do Ministério do Esporte, promove o parasurfe e adapta o litoral brasileiro para receber atletas com deficiência. Em Campo Grande (MS), o projeto Inclusão Radical leva esportes como escalada, trilhas e rapel às escolas municipais, aproximando os jovens de práticas antes inacessíveis. Também surgem modelos inspiradores no setor privado. Algumas iniciativas destinam seus lucros para patrocinar atletas, oferecendo suporte técnico, gestão de carreira e acesso a competições. Isso vai além do apoio pontual: é a construção de uma comunidade de incentivo contínuo, um ecossistema que realmente transforma.
Quando a base existe, os resultados aparecem. O pequeno Andrey Toledo, de apenas 10 anos, já é tricampeão paulista de BMX. Carol Suzaki, com 11, é bicampeã de skate street. Maya Reis deu início à carreira no surfe com apoio integral. Esses jovens mostram que talento existe, e que estrutura faz toda a diferença para que ele floresça.
Para que a transformação se amplifique, é preciso ir além. Políticas públicas robustas, centros esportivos populares, programas de base e incentivos fiscais para marcas que apoiam atletas são fundamentais. Também é urgente consolidar um sistema nacional de fomento aos esportes radicais como ferramenta de cidadania. Dados do Datafolha mostram que apenas 47% dos brasileiros acima de 16 anos praticam atividades físicas com regularidade. A desigualdade no acesso é clara. E a própria UNESCO já destacou que o esporte deve ser entendido como um indutor de transformação e inclusão social.
O Brasil tem talento. O que falta é oportunidade. Democratizar os esportes radicais não é apenas uma questão de justiça social, é uma estratégia para formar cidadãos mais saudáveis, criativos e resilientes. Ao abrir as portas para a prática esportiva nas periferias, estamos investindo em um país mais forte, mais plural e mais humano. E essa transformação começa quando decidimos não apenas enxergar o potencial desses jovens, mas garantir que ele tenha espaço para crescer.
*Stefan Santille é um visionário no universo dos esportes radicais. Após 20 anos na Suíça, onde se especializou em marketing e se apaixonou pelo snowboard, voltou ao Brasil com o desejo de transformar realidades. Fundou a Ursofrango como uma plataforma de apoio integral ao desenvolvimento de jovens atletas. Sua atuação tem ajudado a revelar talentos emergentes e a consolidar os esportes radicais como instrumento de inclusão no país.
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JOÃO PEDRO COSTA SANTOS
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