Mais de 400 mil processos envolvendo assédio moral e sexual foram julgados entre 2020 e 2023, de acordo com a Justiça do Trabalho. Já em 2024, o número de casos cresceu 28% na comparação com o ano anterior. Com o objetivo de alcançar a dimensão real do problema e fornecer dados que possam apoiar as empresas na criação de ambientes mais seguros, inclusivos e respeitosos, a CLA Brasil lançou a pesquisa “Assédio: causas, consequências e remediação”, com informações inéditas do perfil dos assediados, dos assediadores, o posicionamento e atitude das empresas sobre o tema.
O estudo ouviu mais de 400 pessoas de diferentes profissões, situações socioeconômicas e posições hierárquicas nas empresas entre março e julho de 2025. Na pauta, os tipos de assédio, a periodicidade com que ocorrem e as ações tomadas pela vítima / testemunha, além da cultura organizacional e programas de integridade das empresas em relação à prevenção e remediações dos casos. “O tema ainda é cercado de silêncio e subnotificações. Queremos contribuir para a conscientização, estimular a discussão e, principalmente, apoiar as organizações a transformar políticas em práticas eficazes”, diz Mariana Laselva, sócia da CLA Brasil.
Perfil das vítimas
O maior número de respondentes foi de mulheres (63%), entre 25 e 34 anos (38%), ocupando cargos de analista ou similares (36%), trabalhando em empresas de médio porte (55%) do setor de serviços (47%). Dessas, 54% disseram que já sofreram ou presenciaram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho, sendo 48% dos casos de assédio moral, 13% de assédio sexual e 16% por discriminação de raça, gênero, orientação sexual ou outro tipo.
Em relação às mulheres como principais alvos, a executiva diz: “assédio, no fundo, não é só sobre comportamento, mas sobre poder. E nas estruturas corporativas, o poder ainda é amplamente masculino. As mulheres ocupam menos posições de liderança, ganham menos, não estão tão presentes em áreas estratégicas e, frequentemente, têm seu valor atrelado à aparência ou à emoção, e não à competência”.
Perfil dos agressores e cultura de aceitação
Ao mesmo tempo, o levantamento apontou que o perfil majoritário dos assediadores é de homens (66%), com idades entre 35 e 44 anos (39%), ocupando posições formais de alta e média liderança (85%), sendo 43% em cargos de gestão/coordenação e 42% em posição executiva/diretoria. Esse dado é particularmente alarmante, pois mostra que o assédio não está restrito a interações horizontais ou entre colegas de mesmo nível hierárquico, mas é fortemente associado ao exercício abusivo do poder formal.
O estudo mostra, ainda, o papel fundamental da liderança na jornada contra o assédio. Os gestores intermediários, por exemplo, são apontados como responsáveis por reforçar ou enfraquecer, no dia a dia, os valores corporativos. “As atitudes dos gestores servem como exemplo para os demais e indicam quais condutas são esperadas pelas companhias. Quando um líder ignora um comentário inapropriado, minimiza uma denúncia ou promove alguém conhecido por comportamentos tóxicos, gera uma cultura de aceitação do assédio, que passa a ser normalizado. O mesmo ocorre quando a ação é justificada e atrelada a metas e resultados. Por outro lado, quando a atitude é coerente, a equipe é ouvida e há limites claros, o gestor marca o que é correto para todos”, completa Mariana.
Conduta das empresas
Sobre a percepção dos respondentes em relação às ferramentas e ações contra o assédio, a pesquisa apontou um cenário de maturidade parcial. Do total, 54% percebem que a empresa tem postura clara contra o assédio e 47% confiam nos canais de denúncia. Outros 57% dizem que há ações de conscientização, mas só 36% afirmam que elas ocorrem com frequência.
O cenário mais alarmante, entretanto, entrega que 53% nunca participaram de treinamentos ou campanhas sobre assédio. Para Mariana, algumas medidas podem e precisam ser adotadas para sair do discurso à prática. “Criar e implementar políticas claras e abrangentes de prevenção, promover treinamentos contínuos e fortalecer a cultura organizacional de maneira a enfatizar, também, as reações dos profissionais em casos de denúncia. É muito importante, ainda, mitigar os receios de retaliações e exposições. As respostas devem ser rápidas e efetivas, com casos solucionados de forma justa, eficaz e transparente”, conclui a sócia da CLA Brasil.
A pesquisa completa está disponível para download no link: https://claglobal.com.br/pesquisa-assedio/
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FERNANDA CRISTINA VENTURA MANERA
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