Uso indiscriminado de suplementos pode comprometer o sistema hormonal e causar efeitos tóxicos, alertam especialistas

Componentes como creatina, glutamina, ômega 3 e vitamina D têm benefícios comprovados, mas exigem cautela no consumo sem orientação

JOãO PEDRO
15/09/2025 15h31 - Atualizado há 4 horas

Uso indiscriminado de suplementos pode comprometer o sistema hormonal e causar efeitos tóxicos, alertam
Divulgação
O mercado de suplementos naturais segue em expansão no Brasil. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) apontam que, entre janeiro e setembro de 2023, o consumo de complementos alimentares e suplementos vitamínicos cresceu 8,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em um cenário marcado pelo culto à alta performance e pela ampla disseminação de conteúdos sobre saúde e bem-estar nas redes sociais, a suplementação alimentar ganha cada vez mais importância na rotina dos brasileiros. De acordo com especialistas, embora esses compostos tenham benefícios comprovados para a saúde, o uso sem acompanhamento profissional pode trazer riscos.

Alguns suplementos, especialmente os hormonais ou pró-hormonais - como certos compostos utilizados em academias - podem afetar a produção natural de testosterona, cortisol, insulina, entre outros. Além disso, mesmo vitaminas e minerais, se consumidos em excesso, podem causar efeitos tóxicos. Todo nutriente deve ser ingerido em quantidades adequadas”, comenta Andressa Acioli, nutricionista e professora da universidade Unigranrio Afya.


O avanço das pesquisas científicas é um dos principais responsáveis pelo aumento das prescrições de suplementos alimentares. Entre os mais populares, a creatina tem papel importante não só no ganho de massa muscular, mas também na função cognitiva e na saúde neuromuscular. O ômega 3 possui efeitos anti-inflamatórios importantes e benefícios comprovados para a saúde cardiovascular e cerebral.

Do ponto de vista clínico, o que a gente observa é que os hábitos alimentares modernos, associados à rotina estressante e à baixa exposição solar, acabam favorecendo deficiências nutricionais. O suplemento entra como uma forma segura de corrigir essas lacunas”, explica Andressa.

Diante da popularização dos suplementos, especialistas reforçam que exageros ou deficiências podem provocar sintomas físicos e comportamentais importantes, como insônia, irritabilidade, fadiga, alterações gastrointestinais e baixa imunidade. A recomendação é que a suplementação seja sempre individualizada e baseada em exames laboratoriais e necessidades de cada pessoa.

Para a Drª Laura Velloso, nutróloga e professora da Afya Educação Médica do Rio, os hormônios anabolizantes podem causar o bloqueio do eixo hormonal natural, tanto em homens quanto em mulheres, sendo os efeitos mais acentuados nelas. “Entre os principais riscos estão: hipertrofia do clitóris, engrossamento da voz, aumento excessivo de pelos, alterações na libido e infertilidade. O uso prolongado pode provocar danos ao fígado, com possibilidade de evolução para um câncer hepático. Também são comuns efeitos como acne, queda de cabelo e afinamento dos fios, principalmente em mulheres”, explica Laura.

Embora alguns suplementos — como creatina, ômega 3, vitamina D, magnésio e probióticos — sejam considerados mais seguros quando utilizados em doses adequadas, isso não elimina a necessidade da avaliação por um especialista.

“O uso de suplementos naturais sem orientação pode trazer riscos. A vitamina D é uma das mais utilizadas de forma indiscriminada, com sobreposição de doses, o que pode causar hipercalemia e desmineralização óssea. O magnésio também é amplamente usado, apesar da pouca evidência de eficácia prática. Seu uso excessivo, especialmente em combinações, pode causar diarreia. Já o ômega 3, ao contrário do senso comum, não previne doenças cardiovasculares. Ele é indicado apenas para gestantes ou pessoas com baixa ingestão alimentar desse nutriente. A suplementação deve ser sempre criteriosa”, esclarece Laura. 

A suplementação segura e individualizada começa com uma anamnese bem-feita, que considera as queixas, a alimentação, a fase de vida do paciente e os suplementos que ele já utiliza. “Uma avaliação alimentar minuciosa permite identificar possíveis carências nutricionais e, a partir disso, pensar na necessidade de suplementação. A combinação da história clínica com uma boa anamnese alimentar é fundamental para uma prescrição eficaz e segura”, finaliza a nutróloga e professora da Afya Educação Médica.


 

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