Muitos tutores ainda enxergam cães e gatos como presentes para filhos, parceiros ou familiares em datas comemorativas. Porém, essa prática, comum em aniversários, Natal e Dia das Crianças, pode ter consequências graves. Quando a decisão não é planejada, o resultado costuma ser abandono, maus-tratos e frustração tanto para o tutor quanto para o animal.
Segundo dados da World Animal Protection (WAP) e de ONGs brasileiras, milhares de animais são abandonados todos os anos após poucos meses de adoção ou compra. No Brasil, a Abinpet estima que cerca de 30 milhões de animais vivem em situação de abandono, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães.
Adoção responsável não é apenas “dar um lar”, mas assumir um compromisso de longo prazo com alimentação adequada, cuidados veterinários, carinho e atenção. Isso inclui:
Avaliar a rotina da família: tempo disponível para passeios, brincadeiras e socialização.
Condições financeiras: despesas com ração, vacinas, vermifugação, consultas e emergências.
Espaço físico: cães grandes e ativos, por exemplo, sofrem em locais muito restritos.
Expectativa de vida: cães vivem em média 12 a 15 anos; gatos, de 15 a 20 anos.
Transformar um animal em presente, sem levar esses fatores em conta, é desconsiderar que ele é um ser senciente – capaz de sentir dor, medo, alegria e afeto.
A compra por impulso em pet shops, feiras ou até pela internet ignora o aspecto emocional e prático de ter um animal de estimação. Muitas vezes, o tutor não está preparado para lidar com:
Comportamento natural dos animais (latido, arranhões, xixi fora do lugar).
Custos veterinários inesperados (doenças, emergências, cirurgias).
Mudanças na rotina (viagens, mudanças de residência, chegada de um bebê).
O resultado? Animais descartados em ruas, praças ou abrigos superlotados.
O abandono não afeta apenas os animais, mas toda a sociedade. Animais soltos podem transmitir zoonoses (raiva, leptospirose, esporotricose), causar acidentes de trânsito e agravar problemas ambientais urbanos.
Por isso, o tema envolve Saúde Única (One Health): quando cuidamos da saúde e bem-estar dos pets, protegemos também as pessoas e o meio ambiente.
Nós, médicos-veterinários, temos a responsabilidade de orientar tutores e conscientizar sobre os riscos do abandono e da adoção impulsiva. A educação é a maior ferramenta para reduzir estatísticas alarmantes.
Campanhas de adoção responsável, esterilização e atendimento domiciliar ajudam a fortalecer o vínculo tutor-pet e prevenir o sofrimento de milhares de animais.
Adotar ou comprar um animal nunca deve ser um ato impulsivo. É uma decisão que envolve vida, cuidado e responsabilidade. Um cão ou gato não é brinquedo nem acessório de moda: é um membro da família que depende inteiramente da nossa dedicação.
Adoção responsável é mais do que dar um lar: é oferecer respeito, amor e compromisso por toda a vida do animal.
Dr. Marcelo Müller é Médico-Veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, bem-estar animal e atendimento veterinário domiciliar. Atua na promoção de saúde preventiva e integrativa, com foco no diagnóstico precoce, respeito à senciência animal e fortalecimento do vínculo entre pets e tutores. Autor do livro “Meu Pet… Meu Mundo…”.
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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