Em meio ao concreto das cidades, onde o verde parece cada vez mais raro, as hortas comunitárias emergem como uma resposta criativa, sustentável e saudável aos desafios urbanos. Mais do que espaços de cultivo, elas representam uma nova forma de empreender, pelo viés do empreendedorismo social, e gerir recursos, pessoas e ideias. Em tempos de busca por soluções que aliem impacto social, consciência ambiental e inovação, iniciativas dessa natureza ganham força e relevância.
A ideia de transformar terrenos baldios, praças subutilizadas ou áreas públicas em espaços produtivos não é nova, mas tem ganhado novos contornos. Um exemplo emblemático vem de Birigui, no interior de São Paulo, onde as primeiras hortas comunitárias surgiram ainda na década de 1980, como alternativa para revitalizar áreas abandonadas e tomadas pelo lixo. Hoje, a cidade conta com dezenas delas espalhadas por diferentes bairros, todas organizadas e mantidas por moradores com apoio da prefeitura.
As hortas comunitárias não são apenas locais de plantio, mas verdadeiros laboratórios de cidadania, educação ambiental e empreendedorismo social. Elas envolvem moradores, escolas, organizações e até empresas em uma rede colaborativa que compartilha saberes, alimentos e responsabilidades.
Do ponto de vista da gestão, esses espaços exigem organização, planejamento e liderança, sendo preciso definir regras de uso, cronogramas de cultivo, divisão de tarefas e estratégias de manutenção. A gestão (democrática), baseada na escuta e na participação, é essencial para garantir o engajamento dos envolvidos e a sustentabilidade do projeto. Além disso, a transparência na tomada de decisões e o respeito à diversidade de opiniões fortalecem o senso de pertencimento e a coesão do grupo.
No entanto, os desafios são muitos. A burocracia para uso de espaços públicos, a falta de apoio institucional, os conflitos entre vizinhos e a escassez de recursos são obstáculos recorrentes. Por isso, é fundamental que políticas públicas incentivem e regulamentem essas iniciativas, oferecendo suporte técnico, jurídico e financeiro. A articulação com universidades, organizações da sociedade civil (OSCs) e empresas também pode fortalecer os projetos, ampliando sua capacidade de inovação e impacto.
Em Curitiba, no Paraná, por exemplo, diversas hortas comunitárias têm se destacado pela organização e pelos resultados. Algumas contam com apoio da prefeitura (por meio do Departamento de Estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional), outras surgiram da mobilização espontânea de moradores. Em comum, todas revelam o potencial transformador da agricultura urbana quando bem gerida e conectada com os interesses da comunidade.
Diante disso, cabe perguntar: estamos preparados para reconhecer e apoiar as hortas comunitárias como espaços legítimos de empreendedorismo e gestão? A resposta passa por uma mudança de olhar. Uma vez que as hortas comunitárias são sementes de um futuro mais justo, sustentável e colaborativo. Assim, cabe a nós “regá-las” com políticas públicas, educação e participação.
Ao integrar práticas sustentáveis com modelos colaborativos de administração, as hortas comunitárias se tornam verdadeiros espaços de formação. Reconhecer esse potencial é essencial para que essas iniciativas deixem de ser apenas ações pontuais e passem a ocupar lugar de destaque nas políticas urbanas e nos currículos de formação cidadã.
* Sérgio Vogt é Doutor em Administração, graduado Bacharel em Administração. É professor do Centro Universitário Internacional - Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Gestão Estratégica Empresarial e Gestão Comercial.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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