O tarifaço de 50 % imposto pelo presidente Donald Trump sobre importações brasileiras, válido a partir de agosto de 2025, revela que a política comercial dos Estados Unidos passou a ser conduzida menos por fundamentos econômicos e mais por motivações de ordem política. Embora o discurso oficial alegue a necessidade de proteger a indústria nacional, é evidente que a medida consiste numa retaliação à mudança de direção diplomática do governo Lula e às investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Tal iniciativa tem impactos imediatos sobre o comércio exterior brasileiro, ao mesmo tempo em que expõe fragilidades da nova estratégia protecionista norte-americana.
Apesar do caráter abrangente das sobretaxas, o governo Trump decidiu excluir determinados produtos considerados estratégicos para o funcionamento de cadeias produtivas internas dos Estados Unidos. Permaneceram isentos da sobretaxa o suco de laranja, fertilizantes, celulose, cobre refinado e aeronaves produzidas pela Embraer. Essa seleção não foi aleatória: o Brasil é o principal fornecedor global de suco de laranja, imprescindível para o mercado norte-americano, sobretudo diante da crise fitossanitária que afeta pomares da Flórida.
De igual modo, fertilizantes exportados pelo Brasil são utilizados em larga escala no cinturão agrícola norte-americano e, se taxados, poderiam gerar aumento de custos e inflação. A celulose brasileira sustenta o pujante setor de embalagens estadunidense, diretamente ligado ao comércio eletrônico. No que diz respeito às aeronaves regionais, companhias como SkyWest e Republic Airways pressionaram o governo norte-americano para manter as importações da Embraer.
Setores brasileiros como carne bovina, frutas, etanol e café foram severamente atingidos. O banco JP Morgan estima que a tarifa efetiva média aplicada sobre esses produtos pode alcançar 32,7 %, com potencial de reduzir o crescimento do PIB brasileiro em 0,6 ponto percentual em 2025. O café, responsável por movimentar cerca de US$ 4,4 bilhões por ano nas exportações para os Estados Unidos, chegou a ser afetado inicialmente, gerando insegurança contratual mesmo após sua exclusão posterior do decreto tarifário. Pequenos e médios produtores rurais são os mais vulneráveis, dada sua forte dependência do mercado norte-americano.
Em resposta, o governo brasileiro optou por encaminhar um pedido de arbitragem à Organização Mundial do Comércio e anunciou medidas de apoio financeiro para mitigar perdas setoriais. A Lei de Reciprocidade Comercial nº 15.122/2025 autoriza o Brasil a adotar contramedidas, contudo o Executivo decidiu agir com cautela para evitar escaladas que possam prejudicar outros segmentos do agronegócio. É importante destacar que, em 2024, os Estados Unidos registraram superávit superior a US$ 7 bilhões na balança bilateral com o Brasil, o que enfraquece o argumento de proteção econômica utilizado por Trump.
No plano internacional, a medida vem sendo severamente criticada. O Financial Times alertou para os riscos de desestabilização do sistema multilateral de comércio, enquanto o New Yorker classificou o tarifaço como um ato movido por ressentimento político, com potencial de corroer normas internacionais. O índice DXY (que mede o valor do dólar americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras) de confiança dos investidores, por sua vez, recuou para 3,7 logo após o anúncio, sinalizando o aumento da percepção de risco.
Mais do que um revés conjuntural, o episódio evidencia a condição de vulnerabilidade de economias exportadoras excessivamente concentradas em poucos parceiros. Para o Brasil, impõe-se a necessidade de acelerar a diversificação de mercados, fortalecer o BRICS, ampliar o valor agregado de suas exportações e intensificar sua autonomia tecnológica. Em um cenário de diplomacia volátil, sobreviverão aqueles países capazes de negociar a partir da robustez — e não da dependência.
*Paula Cristiane Oliveira Braz é Administradora, especialista em Agronegócios e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional UNINTER
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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