Nos últimos anos, o Brasil viveu uma explosão da chamada “música regional” nos streamings, com gêneros como pisadinha, arrocha e pagodão baiano ganhando o país. Mas em meio a esse movimento de popularização de sons periféricos, a música da Amazônia — e em especial a paraense — ainda segue à margem das grandes playlists nacionais. Na contramão desse apagamento, artistas como Rhenan Sanches estão reescrevendo essa história com batida, identidade e repertório.
À frente do projeto “Os Sons que Vêm do Pará”, o cantor e diretor artístico se organiza para percorrer o Brasil com um espetáculo que é tanto show quanto manifesto cultural. Brega, lambada e tecnomelody se fundem em uma performance que traduz o som do Norte com linguagem do presente — videoclipe, coreografias, visual pop e narrativa digital.
“A lambada me educou musicalmente. O brega me ensinou a cantar. E o tecnomelody me deu voz para contar histórias com a cara da minha geração”, afirma Rhenan, que nasceu em Belém e cresceu nos bastidores de bandas locais, influenciado por artistas como Beto Barbosa, Banda Calypso e seu padrasto Manoel Cordeiro, um dos criadores da lambada nos anos 1980.
O show virou DVD ao vivo, que em breve estará disponível em plataformas como YouTube e Spotify, e tem como diferencial a capacidade de traduzir um repertório afetivo regional em produto cultural competitivo, visualmente potente e dançante. Com figurinos assinados por estilistas locais e coreografias desenvolvidas com artistas da região, Rhenan conecta tradição e modernidade com autenticidade.
Enquanto muitos artistas apostam em adaptações de hits para alcançar o público nacional, Rhenan aposta no contrário: levar a essência do Norte com voz própria para o centro do debate musical brasileiro.
Em um mercado que cresceu 21,7% em 2024 e colocou o Brasil na 9ª posição global entre os maiores mercados fonográficos do mundo, segundo o relatório anual da IFPI, a diversidade regional ainda é um desafio. O mesmo relatório aponta que o consumo digital está cada vez mais descentralizado, mas a curadoria de destaque ainda privilegia artistas do eixo Rio-São Paulo.
“O Brasil conhece a lambada, canta tecnobrega, dança ao som do calypso. Mas quando olha para o Norte, ainda busca folclore, não contemporaneidade. Meu trabalho quer romper com isso”, afirma o artista.
A proposta estética de Rhenan é estratégica: ele não apenas canta, mas performa a cultura paraense com ares de show pop internacional. Isso se traduz em shows com iluminação de alta tecnologia, vídeos cenográficos, elementos coreográficos e uma narrativa que valoriza o protagonismo da Amazônia urbana.
O tecnomelody — ritmo originado nas periferias de Belém, com batidas eletrônicas e letras românticas — é o carro-chefe do repertório. Mas ganha roupagem híbrida, com influências de trap, house, reggaeton e beats contemporâneos. Tudo sem descaracterizar a matriz original.
“Tem uma geração inteira aqui fazendo música com computador, celular, software livre e muita criatividade. Isso também é inovação. A Amazônia não quer ser só cenário, quer ser produtora de tendência”, reforça Rhenan.
Apesar do sucesso crescente, a presença de artistas nortistas nos principais festivais do Brasil ainda é tímida. Levantamento não oficial aponta que em 10 anos de Rock in Rio, apenas um artista paraense solo integrou a programação — e nenhum representando ritmos como o tecnomelody ou a lambada. No The Town 2023, os dados foram semelhantes.
Por isso, Rhenan aposta na construção direta com o público, usando redes sociais, circuitos alternativos e parcerias locais para furar a bolha do digital e da curadoria tradicional. Seu público é diverso: de jovens da periferia urbana a pesquisadores culturais e amantes da música popular.
“A gente tem a missão de mostrar que a Amazônia também é pop, dançante, urbana e plural. E que a nossa música merece palco, não só aplauso exótico”, conclui.
Cantor e compositor de Belém (Pará), Rhenan transitou entre ritmos como brega, lambada, carimbó, forró e tecnomelody ao longo de cerca de 20 anos de carreira.
Ele é conhecido pelo estilo que mistura música popular regional com uma estética pop contemporânea, ganhando o apelido de “pop amazônico”.
Possui sete álbuns lançados e já gravou cerca de quatro projetos audiovisuais importantes, incluindo DVD ao vivo.
Ficou conhecido com o clipe “Bumbum Pra Trás”, divulgado pelo projeto Sons do Pará, e com o single “Sigilo”, considerado um marco do retorno ao tecnomelody.
Seu trabalho alcançou vídeos com mais de 6,5 milhões de visualizações no YouTube e cerca de 25 mil ouvintes mensais no Spotify.
Rhenan se destaca por unir musicalidade regional com linguagem moderna, produzindo para dança e festa, mas sem perder conexão com suas raízes culturais. O artista transita entre show pop e performances que valorizam a identidade amazônica.
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PAULO NOVAIS PACHECO
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