O 10º Congresso Estadual de Agronomia (CEA) promove, no dia 11 de setembro das 16h30 às 18h30, o painel “Mudanças Climáticas e segurança hídrica para populações, rebanhos e plantações”, um encontro crucial diante do cenário de instabilidade climática. Segundo dados da ONU e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média global já subiu cerca de 1,1 °C desde a era pré-industrial, provocando aumento na frequência e intensidade de eventos extremos como secas prolongadas, ondas de calor e chuvas intensas. No Brasil, esses fenômenos têm impactado fortemente o setor agropecuário: entre 2013 e 2022, o calor excessivo gerou perdas estimadas em US$ 19,5 bilhões por ano em produtividade e renda agrícola.
O painel será moderado pelo meteorologista Anselmo de Souza Pontes, conselheiro da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) no CREA-RJ, e terá como relator o engenheiro agrônomo Pedro Luiz de Freitas, pesquisador da Embrapa Solos. Entre os palestrantes estará o professor José Carlos Mendonça da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), responsável pelo acompanhamento técnico e meteorológico que inspirou o Projeto de Lei 1440/19, que previa incluir municípios do Norte e Noroeste Fluminense na área definida como semiárido, estender a eles o benefício do Garantia-Safra e criar o Fundo de Desenvolvimento Econômico da região.
Mendonça explica que, como pesquisador da UENF, vem há algum tempo estudando a redução das chuvas e o consequente aumento do déficit hídrico. Com o agravamento dos períodos de estiagem, nossos dados motivaram os representantes políticos da região a buscar soluções, resultando na proposta do projeto de lei. “Os principais sinais das mudanças climáticas no campo são os eventos climáticos extremos, fora dos padrões de recorrência, que geram incertezas, baixa previsibilidade e riscos à produção. A adaptação passa por práticas conservacionistas como plantio direto, manejo agrosilvopastoril, proteção de nascentes e conservação de água e solo”.
Outro destaque do painel será o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, engenheiro agrônomo Bruno José Rodrigues Alves, que reforça a importância da ciência para reduzir incertezas e orientar políticas públicas eficazes. Ele explica que os trabalhos realizados por técnicos da Embrapa e de instituições parceiras permitem compreender melhor os desafios da agropecuária e propor soluções com base em evidências, e que o trabalho em redes nacionais e internacionais acelera esse processo. “Quando o conhecimento se solidifica, há redução de riscos em soluções tecnológicas e maior segurança na formulação de políticas públicas, como já ocorre em programas como o Plano ABC+, o PNCPD e a Política Nacional para o Pagamento de Serviços Ambientais”, afirma.
Na avaliação de Bruno, o Norte Fluminense enfrenta o desafio de lidar com emissões significativas de metano provenientes da pecuária e de óxido nitroso, principalmente pelo uso de fertilizantes e deposição de dejetos em pastagens. Ele ressalta que “pesquisas da Embrapa em parceria com universidades apontam que consórcios de braquiária com leguminosas forrageiras, como o amendoim forrageiro e o desmódio, conseguem reduzir em torno de 30% essas emissões, além de aumentar o acúmulo de carbono no solo”. O pesquisador acrescenta que o uso de bioinsumos, como inoculantes na soja e no milho, também aparece como alternativa eficiente, já que reduz a necessidade de fertilizantes nitrogenados e diminui a pegada ambiental.
Ele observa ainda que estratégias como o plantio direto com rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária-floresta podem ampliar o sequestro de carbono no solo e tornar os sistemas de produção mais eficientes no uso de insumos. “A introdução de árvores é especialmente relevante por contribuir para a compensação de emissões de forma mensurável, favorecendo a entrada do produtor em mercados de carbono”, explica.
Quando o assunto é a fixação biológica de nitrogênio (FBN), Bruno aponta que a soja já se mostra uma cultura de excelência, com grande retorno financeiro e capacidade de deixar excedentes de nitrogênio no sistema, que podem beneficiar cultivos sucessores. “Para a pecuária, a alternativa mais promissora está na implantação de pastagens consorciadas com leguminosas forrageiras, embora ainda sejam necessárias mais pesquisas regionais para identificar espécies adaptadas ao regime de chuvas do Norte Fluminense”, destaca.
Ele também acredita que a ciência brasileira tem potencial de liderança internacional no uso de ferramentas de monitoramento, como os isótopos estáveis, que ajudam a ajustar o manejo de fertilizantes, identificar cultivares mais eficientes no uso da água e compreender a persistência da matéria orgânica no solo. “Esse tipo de pesquisa, aliado ao monitoramento de gases de efeito estufa, permite gerar parâmetros regionalizados que retratam com mais realismo os impactos da agropecuária nos ambientes tropicais”, explica o pesquisador.
O painel contará ainda com a participação de Frederico Paes, presidente da Coagro e vice-prefeito de Campos dos Goytacazes, que avalia que “a sustentabilidade hídrica é hoje um fator de competitividade para o agronegócio. Quem não se adaptar vai perder espaço no mercado”, alerta. Também estará presente o secretário de Agricultura de Campos dos Goytacazes, Almy Junior Cordeiro de Carvalho, que defende que “a política pública precisa caminhar de mãos dadas com a ciência para que possamos garantir produção e segurança alimentar”.
Para Mendonça, encontros como o 10º CEA cumprem um papel estratégico ao integrar pesquisa e extensão rural: “É preciso aproximar pesquisadores, extensionistas e a comunidade do agro como um todo”, conclui. O 10º Congresso Estadual de Agronomia (CEA) acontece de 11 a 13 de setembro, no Centro de Convenções da UENF, em Campos dos Goytacazes (RJ), reunindo especialistas para discutir inovação, sustentabilidade e valorização profissional no setor.
Sobre a AEARJ: A Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado do Rio de Janeiro (AEARJ) é uma entidade sem fins lucrativos que representa e valoriza os profissionais da Agronomia no estado. Com atuação voltada ao fortalecimento da categoria, à defesa da profissão e ao desenvolvimento sustentável do setor agropecuário e ambiental, a AEARJ promove eventos técnicos, debates, cursos e iniciativas que aproximam os engenheiros agrônomos da sociedade. Também atua em articulação com instituições públicas e privadas para incentivar políticas agrícolas, inovação e boas práticas no campo. Reconhecida como voz ativa do agronegócio fluminense, a AEARJ busca contribuir para a segurança alimentar, a preservação dos recursos naturais e o avanço científico e tecnológico no meio rural.
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VIVIAN TEIXEIRA DA SILVA
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