Quem cuida de quem cuida? O impacto silencioso da pressão sobre os C-Levels

Por trás da performance e dos resultados, há líderes sobrecarregados, solitários e muitas vezes sem espaço seguro para acolher seus próprios limites.

Bendita Letra
18/08/2025 16h47 - Atualizado há 3 horas

Quem cuida de quem cuida? O impacto silencioso da pressão sobre os C-Levels
Arquivo Pessoal/Divulgação

A saúde mental nas empresas finalmente ganhou espaço nas discussões estratégicas. Aumentaram os investimentos em programas de bem-estar, ações de escuta, canais de apoio e campanhas de prevenção ao burnout. Mas, enquanto muitos esforços miram as bases da pirâmide organizacional, uma pergunta ainda pouco enfrentada persiste no topo: quem cuida de quem cuida?

A solidão da alta liderança é um fenômeno silencioso — e frequentemente ignorado. Presidentes, diretores e executivos C-levels ocupam posições de alto prestígio e responsabilidade, mas muitas vezes não têm com quem compartilhar suas angústias, dúvidas ou limitações. São pressionados a entregar resultados, manter a imagem de força, tomar decisões difíceis e cuidar dos outros — mesmo quando não têm espaço interno ou externo para lidar com suas próprias vulnerabilidades.

Existe uma ilusão de que quem lidera precisa estar sempre pronto, sempre forte, sempre resolvido. Mas isso não é real. Líderes também sofrem, se cobram, adoecem. E quando não têm espaço seguro para isso, os impactos podem ser graves — para eles, para suas equipes e para o negócio”, afirma Renata Livramento, psicóloga, doutora em administração e especialista em desenvolvimento de lideranças e saúde emocional no ambiente corporativo.

Com 30 anos de atuação, Renata acompanha de perto executivos de alto escalão em contextos complexos. Ela relata que, nos bastidores, é comum encontrar sintomas como ansiedade, insônia, culpa, cansaço extremo e até quadros de depressão. Muitos resistem a pedir ajuda por medo de parecerem frágeis ou despreparados. “É um sofrimento sofisticado, que muitas vezes passa despercebido — inclusive para o próprio líder, que aprende a funcionar em modo sobrevivência.”

Dados e impacto

Estudos recentes apontam que líderes sêniores estão entre os mais afetados pela exaustão emocional. Uma pesquisa global da Deloitte (2022) com mais de 2 mil líderes mostrou que 70% consideram deixar o cargo atual em busca de mais equilíbrio e saúde mental. No Brasil, dados da ISMA-BR indicam que cerca de 30% dos executivos apresentam sintomas de burnout — número semelhante ao de níveis operacionais, mas menos discutido publicamente.

O custo do silêncio é alto. Líderes emocionalmente esgotados tendem a se tornar reativos, distantes, autoritários ou inconsistentes. Isso afeta diretamente o clima da equipe, a qualidade das decisões e a capacidade de inovação. Além disso, a perpetuação da cultura da “liderança inabalável” cria um ciclo tóxico onde pedir ajuda é visto como fraqueza.

O que precisa mudar

Segundo Renata, cuidar da alta liderança exige sair do modelo de “heróis corporativos” e reconhecer que liderar é uma experiência emocional intensa, que envolve risco, exposição e ambiguidade. “Um CEO que não dorme, não se permite errar e não tem com quem conversar tende a se desconectar de si mesmo — e dos outros. Isso compromete a clareza estratégica e a saúde do ambiente como um todo.”

Entre as práticas recomendadas estão a criação de espaços de escuta qualificada para líderes, desenvolvimento emocional contínuo, mentorias sensíveis ao humano e não apenas ao negócio, e políticas organizacionais que legitimem o cuidado também no topo.

“Se a cultura da empresa espera que os líderes cuidem de todos, mas não oferece estrutura para que eles também sejam cuidados, algo está fora de equilíbrio. Sustentabilidade emocional começa no topo — e se espalha a partir dele”, conclui.

Saiba mais sobre o trabalho da Renata Livramento:
@renata.livramento


 

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MARIA JULIA HENRIQUES NASCIMENTO
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FONTE: Renata Livramento — Psicóloga | Doutora em administração | Especialista em gestão de saúde corporativa
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