A tradição de passar o ofício de pai para filho é um traço marcante em muitas profissões artesanais no Brasil, e a joalheria talvez seja uma das mais simbólicas nesse sentido. No setor das gemas e joias, onde habilidade técnica e sensibilidade andam lado a lado, histórias de hereditariedade são comuns, mas poucas são tão emblemáticas quanto as das famílias Coelho e Vianna, que seguem construindo legados a partir do brilho das pedras.
O setor de joias no Brasil tem esse perfil fortemente familiar. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), cerca de 70% das empresas do setor são de pequeno ou médio porte e têm estrutura familiar, com foco na preservação de técnicas tradicionais. Já uma pesquisa da Universidade de Oxford, publicada em 2021, aponta que filhos de artesãos têm quase cinco vezes mais chances de seguir o mesmo ofício dos pais. A explicação passa por diversos fatores, incluindo acesso precoce ao ambiente de trabalho, valorização simbólica do fazer manual e, principalmente, o vínculo emocional criado ao longo dos anos.
É assim que é contada a história da família Coelho, detentores da Itagemas. Bruno Coelho cresceu observando o pai, Itamar, tratar cada pedra com respeito quase cerimonial. A disciplina e o cuidado com o trabalho não passaram despercebidos. Afinal, o patriarca fundou a empresa em 1978, mas desde os 13 anos de idade já trabalhava nas bancas de lapidação. Foi por volta dos 16 anos que Bruno começou a frequentar com mais constância a empresa da família, em Minas Gerais, e logo entendeu que ali havia mais do que um negócio: havia propósito.
“O que me inspirou foi a vontade do meu pai de fazer tudo da melhor forma possível. Isso me marcou. Hoje, à frente da empresa, consigo definir que o produto que assinamos é feito para um público exigente, com um olhar dedicado para as cores”, ele conta. E, se tivesse algo a dizer ao pai neste Dia dos Pais, diria com simplicidade: “Eu te admiro.”
A admiração também move os irmãos Rômulo e Ricardo Vianna, que herdaram do pai, Raymundo, e do avô, o Sr. Mundinho, o amor pelo ofício e a ligação profunda com as pedras brasileiras. A história dos Vianna remonta à década de 1970, quando o pequeno Rômulo, a caminho da escola, passava pela loja do avô e se encantava com o brilho das vitrines e com o trabalho minucioso que acontecia no segundo andar da loja.
A paixão só se consolidou nos anos 1980. Enquanto cursava engenharia elétrica, Rômulo começou a ajudar o pai na produção de joias e, diante de uma crise econômica, Raymundo e os dois filhos decidiram abrir o próprio negócio. “Foi nessa convivência com o papai que fui me apaixonando por esse universo. Criar uma joia é algo muito especial. Lidar com o design, com a raridade das pedras, com as combinações de cores… tudo isso nos encantou. Hoje somos uma pedra bruta que foi lapidada para trazer brilho e beleza”, resume Rômulo.
Já Ricardo, irmão e sócio, começou ainda mais cedo. Aos 10 anos, já ajudava o avô na loja. “Consertava pulseira, trocava bateria de relógio e vendia alianças de casamento. A paixão pelo ramo surgiu ali, vendo o cuidado do meu pai e do meu avô. O que resta do mundo é a família. E eles foram nossa inspiração”, conta.
No caso das famílias Coelho e Vianna, mais do que negócios bem-sucedidos, o que se transmite é a ideia de continuidade. Uma pedra, por mais preciosa que seja, só revela seu brilho depois de lapidada. E são essas mãos, que se sucedem de pai para filho e que fazem esse brilho existir. Neste Dia dos Pais, as joias carregam ainda mais significado. São, mais do que nunca, metáforas de herança, afeto e permanência.
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ICARO ALISSON ROSA AMBROSIO
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