Desigualdade marca tratamento de câncer de cabeça e pescoço no Brasil, apontam profissionais de saúde
Levantamento da ACBG Brasil e da UFSC com 173 especialistas revela gargalos no acesso à cirurgia, reabilitação precária e falta de capacitação em diversas regiões do país
SONIA DINIZ
04/08/2025 11h33 - Atualizado há 5 horas
Pixabay
Uma pesquisa inédita realizada pela Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço - ACBG Brasil e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revela como os profissionais da saúde percebem os desafios enfrentados por pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP) no Brasil. O levantamento foi feito com 173 especialistas (médicos, fonoaudiólogos, cirurgiões-dentistas, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais envolvidos no cuidado oncológico) de todo o país e mostra que, na visão deles, o tratamento e a reabilitação ainda são marcados por desigualdades regionais e fragilidades no sistema público de saúde. Os questionários foram aplicados em 2024. Os entrevistados apontam que o acesso ao tratamento cirúrgico é mais difícil nas regiões Norte e Nordeste, comprometendo as chances de cura para muitos pacientes. O mesmo vale para a reabilitação: os profissionais afirmam que os pacientes enfrentam barreiras para iniciar terapias essenciais após o tratamento, como fonoterapia, fisioterapia e uso de próteses, especialmente fora dos grandes centros urbanos. A opinião dos especialistas Em 70% das instituições em que os cirurgiões foram ouvidos há fila de espera para atendimento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, com tempo médio para a primeira consulta entre 30 e 180 dias. A análise das respostas dos cirurgiões participantes do estudo, por exemplo, revela um cenário de múltiplos entraves à realização de cirurgias no tempo adequado. Entre os motivos mais citados para a espera no tratamento cirúrgico estão: honorários médicos defasados, baixa divulgação da especialidade para a população, referenciamento inadequado, falta de turnos e dias disponíveis para cirurgias, número insuficiente de profissionais, falhas na regulação municipal e estadual, ausência de equipe multidisciplinar e deficiências no diagnóstico precoce. Como resultado, a maioria dos pacientes já chega à primeira consulta com um especialista em estágio avançado da doença, geralmente estágio III ou IV, que são os mais avançados, o que reduz significativamente as chances de sucesso no tratamento. Já entre os radioterapeutas, a pesquisa mostrou que há fila de espera para a realização da radioiodoterapia em 27,27% dos casos. Em situações que necessitem a realização de radioiodoterapia após a tireoidectomia (cirurgia da tireoide), em média, o paciente espera 114 dias para realizar essa modalidade de tratamento. De acordo com dados obtidos, apenas 52% dos profissionais de Enfermagem apresentavam capacitação para o atendimento de pacientes CCP, havendo uma carência no treinamento destes profissionais para as melhores práticas de cuidado. Como limitações apontadas pelos fonoaudiólogos entrevistados, há maior necessidade de disponibilização para o paciente oncológico de exames como laringoscopia, vídeo endoscopia da deglutição ou videodeglutograma, além de preparo técnico direcionado, sendo que apenas 31,57% dos profissionais de Fonoaudiologia apresentam capacitação para reabilitar pacientes CCP. Aproximadamente 40% dos profissionais da Odontologia apresentam capacitação para diagnosticar, tratar e/ou reabilitar pacientes de câncer de cabeça e pescoço e 56,25% dos profissionais atuaram no pré-tratamento para diagnóstico de lesões bucais, adequação do meio bucal, orientações especificamente sobre a cirurgia a ser realizada, possíveis complicações, detalhes técnicos da cirurgia, tempo de recuperação e sequelas. Os pesquisadores indicam que “foi possível constatar grandes desafios no campo de atendimento do paciente portador de CCP, que abrange limitações estruturais, recursos humanos e capacitação direcionada, que impactam diretamente na qualidade de vida do paciente e possivelmente na sobrevida global”. Julho Verde e a conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço
A pesquisa é divulgada durante a 9ª Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço - Julho Verde, promovida pela ACBG Brasil, traz em 2025 o tema “Da Boca aos Pulmões”, com foco na prevenção, diagnóstico precoce e reabilitação de pacientes com câncer de cabeça e pescoço. O tabagismo, principal fator de risco da doença, está no centro das ações de conscientização neste ano. A campanha busca ampliar o conhecimento da população sobre os sinais de alerta, combater o estigma e incentivar políticas públicas que melhorem o cuidado integral aos pacientes, do diagnóstico à reintegração social. Ao longo de julho, ações informativas, eventos e mobilizações ocorreram em todo o país, contando com o apoio de profissionais de saúde, pacientes, instituições e voluntários. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
LEANDRO ANTONIO FERRARI ANDRADE
[email protected]
FONTE: https://acbgbrasil.org/