Nesta quarta-feira (31), o mercado financeiro acompanha com expectativa a chamada “Super Quarta”, dia marcado por decisões simultâneas sobre as taxas básicas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central quanto o Federal Reserve (Fed) americano devem anunciar a manutenção dos juros, mas os investidores estão atentos aos sinais que podem indicar os próximos passos das autoridades monetárias em um cenário de inflação pressionada, incertezas fiscais e riscos geopolíticos.
No Brasil, a expectativa é de manutenção da taxa Selic no atual patamar de 15% ao ano, diante de uma inflação ainda resistente e da deterioração recente de indicadores. “O IPCA-15 acabou vindo acima do esperado, o que aumenta a projeção da inflação oficial. O mercado está assustado com essa possibilidade de aumento da inflação, mesmo com o Focus projetando inflação de 5,09%”, afirma Bruno Cotrim, economista e sócio da casa de análise Top Gain. Segundo ele, “não teremos nenhum guidance sobre as próximas reuniões e nenhum indicativo se vem no comunicado”. Para Cotrim, o Banco Central deve manter uma postura cautelosa até que a inflação se aproxime do teto da meta, que é de 4,5%.
Além do impacto dos preços, o economista destaca o efeito de tarifas e políticas públicas sobre o cenário macroeconômico. “A tarifa começa a assustar de verdade a indústria brasileira. Com uma tarifa dessas, ninguém vai comprar, e a indústria não se sustenta atendendo só com o mercado interno sem exportar”, avalia. Ele também aponta que a incerteza com novas taxações prejudica o apetite de investidores estrangeiros.
Nos Estados Unidos, o mercado também projeta que o Fed manterá a taxa de juros no intervalo atual entre 5,25% e 5,50% ao ano. “A decisão do Fed para mim vem em uma manutenção da taxa de juros. E o Powell, que está sofrendo ataques rotineiros do senhor Donald Trump, não deve colocar lenha nessa fogueira”, diz Cotrim. Segundo ele, “o corte deve ficar para setembro”, acompanhando as projeções do painel da Bolsa de Chicago. Dados como geração de vagas e ganho médio por hora devem ser decisivos para esse movimento.
Com o cenário de juros altos por mais tempo nos dois países, investidores têm buscado estratégias de proteção e ganho previsível. “Com a taxa Selic em 15% ao ano, aplicações em renda fixa se tornam as mais vantajosas em termos de risco-retorno”, afirma Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP®. Segundo ele, CDBs, LCIs e LCAs atrelados ao CDI, além de Tesouro Selic e Tesouro IPCA+, oferecem retornos atrativos e proteção contra a volatilidade. “Um CDB que pague 110% do CDI pode atualmente render mais de 16% ao ano. Já as LCIs e LCAs, por serem isentas de IR, oferecem um benefício tributário adicional especialmente atrativo para prazos médios”, explica.
A visão é compartilhada por Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital. “CDBs atrelados ao CDI, Tesouro Selic e fundos de renda fixa com ativos pós-fixados são mais vantajosos nesse cenário. Eles evitam perdas com marcação a mercado e garantem um retorno previsível”, afirma. Para horizontes mais longos, ela recomenda os títulos atrelados à inflação, “desde que mantidos até o vencimento ou em cenários de inflação elevada”.
Para quem busca diversificação e está disposto a assumir um pouco mais de risco, os prefixados ganham espaço. “Hoje, considero o prefixado o mais interessante”, avalia Fernando Gonçalves, sócio da The Hill Capital. “As taxas já refletem um cenário de juros altos e incertezas fiscais, o que abre espaço para ganho se houver qualquer melhora no ambiente econômico.” Ele recomenda papéis com vencimentos entre 2027 e 2031, que equilibram risco e retorno. “No cenário atual, os vencimentos intermediários fazem mais sentido. Os curtos são defensivos, mas limitam o retorno. Os longos são mais voláteis e sensíveis a ruídos fiscais.”
Nicolas Gass, head de alocação da GT Capital, reforça que os pós-fixados continuam sendo a melhor escolha no curto prazo. “Para esse momento de curto prazo, o pós não tem erro. Juros estão muito altos e o rendimento é muito bom no pós-fixado”, diz. Para o médio prazo, ele vê espaço para prefixados. “Gosto muito dos vencimentos 2031 e 2033. Quando os juros começarem a cair no ano que vem, esses papéis vão valer super a pena.”
Gass também alerta para os fatores que devem influenciar os preços dos títulos públicos até o fim do ano: tarifas internacionais, ruídos fiscais e as eleições de 2026. “Temos até o final da semana para definir se as tarifas do Trump vão ser postergadas. Isso gerou um grau de incerteza muito grande. Além disso, o governo não tem dado sinais de corte de gastos, o que preocupa o mercado”, diz.
Já Gonçalves aponta a inflação como principal fator a ser monitorado. “Se o IPCA continuar acima da meta, o mercado tende a exigir prêmios maiores, principalmente nos papéis atrelados à inflação. Qualquer ruído fiscal pode elevar o risco e pressionar as taxas”. Ele também chama atenção para o ambiente externo, citando as tarifas comerciais dos EUA e o apetite dos investidores por risco.
Com a Super Quarta colocando holofotes sobre os dois principais bancos centrais do mundo, o consenso entre os especialistas é de que o momento ainda pede cautela. A manutenção da Selic e dos juros americanos indica que a travessia da política monetária rumo à normalização será mais lenta do que muitos esperavam no início do ano, o que reforça a atratividade da renda fixa como instrumento de proteção, previsibilidade e rentabilidade neste cenário prolongado de juros elevados.
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Guilherme Hanna Adario
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