Por Sérgio Drumond, Diretor de Engenharia da Tractebel
A Engenharia de Valor (EV) é uma metodologia estratégica que busca maximizar o valor de projetos ao otimizar recursos sem comprometer a qualidade final. A metodologia ganha mais importância em tempos de orçamentos apertados e restrições de investimento, quando gestores de grandes projetos enfrentam o desafio de fazer mais com menos.
A essência da EV está em identificar as necessidades essenciais de um produto ou projeto, eliminar custos desnecessários, adotando as melhores práticas de engenharia e tecnologia de forma a manter o desempenho requerido. O objetivo é encontrar o melhor balanço entre custo, qualidade e benefício, reduzindo gastos supérfluos e garantindo a entrega do valor e da qualidade desejados.
O conceito de Engenharia de Valor foi criado no pós-guerra, em 1947, desembarcou no Brasil na década de 70, e ganhou relevância a partir dos anos 80. Nos últimos anos, frente aos desafios de investir em infraestrutura de forma eficiente, a metodologia ganhou relevância como ferramenta estratégica.
Consolidada no mundo e em expansão no Brasil
No cenário internacional, a Engenharia de Valor é prática consolidada. Nos Estados Unidos, desde 1959 há leis exigindo EV em obras públicas – o Pentágono, por exemplo, incorporou a metodologia em todos os projetos do Departamento de Defesa. Países europeus adotaram normas específicas (como a EN 1325 na UE) e no Reino Unido a EV integra a sistemática de projetos desde 2001, para garantir objetivos estratégicos em obras públicas. No Japão, sua aplicação é mandatória em serviços municipais e amplamente utilizada na indústria.
No Brasil, apesar de a EV ser conhecida, seu uso não é tão difundido. Especialistas apontam que muitas vezes há banalização da metodologia, restringindo-a a ações pontuais de redução de custo, sem empregá-la em todo seu potencial. Também pesa o fator cultural: espera-se retorno imediato, e nem sempre as organizações investem tempo e recursos na fase de planejamento – quando o conceito deve ser aplicado. Mas, isso vem mudando gradualmente.
Grandes empresas de engenharia e construção no país vêm incorporando a EV em seus processos e já existem consultorias especializadas, potencializando a implementação da metodologia. Um ponto importante é que a EV tem sinergia com demandas atuais e relacionadas à ESG: otimizar recursos também significa reduzir impactos ambientais e sociais negativos. Projetos mais enxutos consomem menos insumos naturais e geram menos resíduos; e cronogramas otimizados causam menos transtorno às comunidades.
Engenharia de Valor no setor de Energia: redução de custos e riscos
No setor de energia, que abrange geração elétrica, transmissão/distribuição, petróleo e gás, a Engenharia de Valor desempenha um papel estratégico. Projetos de energia são intensivos em capital e tecnologia, com longos ciclos de vida – por isso, otimizações na fase de projeto podem resultar em economias milionárias ao longo dos anos. A EV é aplicada tanto em infraestruturas convencionais (usinas, redes de transmissão, refinarias) quanto em projetos de energias renováveis e eficiência energética.
Um exemplo está na planificação de sistemas elétricos: empresas de consultoria em energia realizam revisões para reduzir riscos e maximizar a redução de custos, atendendo aos rigorosos requisitos de segurança operacional e ambiental. Isso pode significar, por exemplo, otimizar o arranjo de subestações para diminuir perdas e usar equipamentos mais confiáveis e eficientes.
Em projetos de geração, a EV ajuda a definir a configuração ótima: número e posicionamento de aerogeradores, tipo de fundação com menor custo, porém adequada ao solo, ou o espaçamento entre placas solares que maximize a geração pelo menor custo de instalação.
O Brasil pode ampliar o uso da Engenharia de Valor nos próximos anos: a difusão de benchmarkings públicos e casos de sucesso deve estimular sua adoção. É possível que, no futuro, grandes empreendimentos de infraestrutura passem a exigir estudos de EV em suas etapas de aprovação – semelhante ao que ocorre nos EUA e UE, onde é comum órgãos contratantes solicitarem uma “revisão de valor” independente antes de bater o martelo em um projeto. Essa institucionalização traria economia aos cofres públicos e mais profissionalização ao setor.
A Engenharia de Valor representa uma mudança de mentalidade: sair do modo reativo (corrigir problemas depois que surgem) para o modo proativo e preventivo, atacando as ineficiências na origem. Em um país com tantas necessidades de infraestrutura de qualidade cada ganho de valor conta. A experiência mostra que a EV pode trazer esses ganhos; cabe a nós expandir e consolidar sua aplicação para construirmos um Brasil com obras bem-sucedidas, entregues no prazo e que melhorem a vida da população, sem desperdícios. Esse é o verdadeiro valor entregue pela engenharia.
Sobre a Tractebel
A Tractebel é uma multinacional de consultoria em engenharia que desenvolve soluções integradas para projetos sustentáveis de energia, infraestrutura, saneamento, hidrologia, geotecnia, nuclear e meio ambiente. Apoiada por 160 anos de experiência combinados com conhecimentos locais, a Tractebel é capaz de solucionar projetos complexos orientados para neutralização de carbono. Ao conectar estratégia, engenharia e gestão de projetos, a comunidade de mais de 5.600 especialistas ajuda empresas e autoridades públicas a criar um impacto positivo em direção a um mundo sustentável, onde as pessoas, o planeta e os negócios prosperam coletivamente. Possui escritórios na Europa, Oriente Médio, América do Norte e do Sul, e faz parte do Grupo ENGIE, referência global em energia e serviços de baixo carbono.
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EMILIA BERTOLLI PATRIZI
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