O Plano de Mobilidade Urbana (PMU), instituído pela Lei Federal nº 12.587/2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana), é um instrumento fundamental para o planejamento e a gestão do deslocamento de pessoas e cargas nas cidades. Sua importância transcende a mera organização do tráfego, alcançando aspectos sociais, econômicos e ambientais que impactam diretamente a qualidade de vida nos centros urbanos, como a redução de congestionamentos, que otimiza o tempo de deslocamento e a fluidez urbana. Além disso, norteia os investimentos e adequações na infraestrutura viária, priorizando a acessibilidade do pedestre e a atratividade do transporte público. Contudo, este instrumento tem sido subestimado pelos gestores municipais.
Apesar da exigência legal, a implantação do PMU em território nacional tem enfrentado desafios: o prazo inicial legal para que os municípios elaborassem seus planos foi sucessivamente prorrogado – o que evidencia a complexidade do tema e as dificuldades enfrentadas pelos municípios, muitos deles, sob a alegação de falta de recursos técnicos e financeiros. Infelizmente, o prazo dado pela última lei venceu em 12 de abril deste ano. Nesse sentido, é importante destacar que, caso não houvesse prorrogações, os municípios enfrentariam implicações legais significativas, entre as quais, a responsabilização dos gestores e a vedação do recebimento de recursos orçamentários federais destinados a projetos e obras de mobilidade urbana.
Com efeito, dados do site do Ministério da Cidade, mostram que mesmo após diversas prorrogações, boa parte dos municípios obrigados não conseguiu implantar seus PMUs. Dos 116 municípios com mais de 250 mil habitantes que são obrigados a elaborá-los, 85 possuem o plano aprovado, o que representa cerca de 73% do total. Ainda assim, não há garantia de que todos estejam efetivamente aplicados – como é o caso de Goiânia (GO), cujo projeto, batizado de PlanmobGyn e instituído pelo Decreto nº 1.350, de 12 de abril de 2024, até agora não saiu do papel. Já nos municípios entre 20 mil e 250 mil habitantes, o cenário é ainda mais desafiador, uma vez que dos 1.795 municípios nessa faixa populacional, que possuem obrigação legal, apenas 270 (cerca de 15%) possuem o documento aprovado.
Cabe ressaltar que há um leque de ferramentas e programas para apoiar e financiar os municípios na desafiadora, mas essencial tarefa de elaborar e implantar os seus PMU’s, a exemplo de bancos estatais como a Caixa Econômica que tem programa de financiamento para elaboração de PMU. Outro exemplo são os órgãos como a Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana (SEMOB), do Ministério das Cidades, que publicou uma Cartilha de Apoio à elaboração de Planos de Mobilidade Urbana, bem como disponibilizou uma plataforma em ambiente digital colaborativo para facilitar a sua elaboração. Contudo, tais instrumentos não foram suficientes para sensibilizar os prefeitos. Agora, lamentavelmente, resta torcer para uma nova prorrogação.
Jeovalter Correia é consultor em Gestão Pública e integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade
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CAROLINA OLIVEIRA DE ASSIS
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