Menos pessoas, mais problemas?

*Aline Mara Gumz Eberspacher

JULIA ESTEVAM
15/07/2025 09h09 - Atualizado há 11 horas

Menos pessoas, mais problemas?
Rodrigo Leal

A questão demográfica mundial tem despertado intensas reflexões e preocupações nos últimos anos. Atualmente, somos mais de 8 bilhões de habitantes no planeta, e as projeções da ONU indicam que até 2050 esse número poderá atingir a marca de 10 bilhões, um marco considerado crítico para a humanidade. Contudo, após esse pico, espera-se uma tendência de redução populacional em escala global.

Diversos fatores contribuem para essa possível queda nos índices de natalidade. A crescente participação das mulheres no mercado de trabalho trouxe novos desafios na conciliação entre carreira e maternidade. Além disso, o alto custo de vida, as incertezas econômicas e as crescentes preocupações com a sustentabilidade ambiental têm levado muitas famílias a repensarem o número de filhos que desejam ter. Não podemos esquecer também os impactos das guerras e conflitos, que, mesmo em pleno século XXI, continuam a afetar profundamente a estabilidade social e demográfica em diversas regiões.

Ambientalistas alertam que o planeta está se aproximando dos seus limites, com o esgotamento de recursos naturais e uma pressão crescente para a proteção e cuidado do meio ambiente. A mídia reforça esse cenário de alerta, destacando a saturação das cidades, a escassez de água potável, o aumento da poluição e a intensificação da disputa por recursos básicos.

Se, por um lado, a redução da taxa de natalidade pode parecer positiva sob a ótica da sustentabilidade ambiental, por outro, ela traz sérias preocupações para os governos e economias.

Diversos países já têm implementado políticas públicas para estimular o aumento da natalidade. O Japão, por exemplo, aumentou o valor da ajuda para custear partos nos hospitais. França e Alemanha oferecem subsídios financeiros para famílias com filhos e auxílios que cobrem parte dos custos com educação. Os países nórdicos se destacam por oferecer os benefícios mais generosos, incluindo licenças parentais prolongadas e apoio financeiro contínuo às famílias.

Por outro lado, as taxas de natalidade continuam altas em países da África Subsaariana, onde, infelizmente, a maior parte da população enfrenta dificuldades relacionadas à baixa escolaridade e qualificação profissional. Isso cria um paradoxo global: enquanto países desenvolvidos lutam contra o envelhecimento populacional e a falta de mão de obra, imigrantes de regiões com alta natalidade enfrentam barreiras, preconceitos e dificuldades para ingressar nos mercados de trabalho mais competitivos.

A preocupação é tão real que até líderes empresariais, como Elon Musk, já manifestaram receio sobre os impactos da redução populacional na disponibilidade de trabalhadores para setores-chave da economia. Além disso, o envelhecimento populacional tende a sobrecarregar os sistemas de saúde, aumentar os gastos públicos com aposentadorias e provocar um desequilíbrio fiscal de longo prazo.

Contudo, ao analisarmos a questão de forma mais ampla e estratégica, é necessário reconhecer que a redução populacional também trará uma inevitável redefinição geográfica e econômica no cenário mundial. A distribuição de pessoas pelo globo afetará diretamente o equilíbrio de poder entre as nações. Países que antes ocupavam posições de destaque por sua grande população economicamente ativa podem enfrentar um enfraquecimento geopolítico.

Nações com baixo índice de natalidade e crescente envelhecimento populacional correm o risco de perder competitividade, não apenas na economia, mas também em sua capacidade de defesa nacional. A manutenção de exércitos, por exemplo, dependerá da existência de uma base populacional jovem e saudável. Em um cenário de conflito, a falta de contingente militar pode se tornar um fator de vulnerabilidade, deixando países expostos a ameaças externas ou incapazes de proteger seus interesses estratégicos.

Por outro lado, países com crescimento populacional controlado e políticas de desenvolvimento humano adequadas poderão se beneficiar desse novo mapa geopolítico. Nações da África, Ásia e América Latina, tradicionalmente vistas como periféricas no cenário econômico mundial, podem se tornar grandes protagonistas caso consigam transformar seu potencial demográfico em força econômica e social. A escassez de mão de obra em países desenvolvidos também poderá abrir portas para fluxos migratórios mais organizados e, consequentemente, novas oportunidades de enriquecimento para nações hoje menos desenvolvidas.

A disputa por recursos humanos será tão estratégica quanto a disputa por petróleo ou tecnologia. Países que souberem atrair e reter talentos, promover a integração de imigrantes e investir em inovação e automação terão mais chances de prosperar. Já aqueles que insistirem em políticas protecionistas ou que não enfrentarem o desafio demográfico com planejamento podem mergulhar em recessão, instabilidade social e perda de influência internacional.

Portanto, a redução populacional, vista por muitos como uma ameaça, precisa ser encarada como um processo natural de ajuste global. O verdadeiro desafio está em como cada país vai se posicionar diante dessa nova realidade. O crescimento exponencial, além de insustentável, já demonstrou seus limites sociais, econômicos e ambientais. Cabe agora aos líderes e à sociedade civil pensar soluções inovadoras, que respeitem os limites do planeta e promovam um equilíbrio mais justo e sustentável entre as nações. O futuro será, inevitavelmente, daqueles que souberem se adaptar.

*Aline Mara Gumz Eberspacher é doutora em Sociologia pela Université Paul Valéry, na França, e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter.

 


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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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