Empreendedorismo Feminino: Quando o Incentivo é Mais que Econômico — é Social e Político

ANA LOPES|AL9 COMUNICAçãO
10/07/2025 10h15 - Atualizado há 7 horas

Empreendedorismo Feminino: Quando o Incentivo é Mais que Econômico — é Social e Político
Foto: iStock
Por Adriana Ramalho
 
Falar em empreendedorismo feminino no Brasil, hoje, é muito mais do que discutir números de CNPJs abertos por mulheres. É tocar em questões profundas que envolvem autonomia, justiça social, acesso a oportunidades e políticas públicas eficazes.
As mulheres brasileiras têm mostrado, há tempos, sua força criativa e empreendedora. Em meio à desigualdade de salários, à informalidade e à sobrecarga do trabalho doméstico, milhares delas decidiram empreender como alternativa — muitas vezes por necessidade, e não por escolha. Mas isso não diminui o mérito, muito pelo contrário: evidencia uma resiliência que move a economia nas margens e no centro.

Segundo dados recentes do Sebrae, as mulheres já comandam cerca de 34% dos negócios no país. É um número significativo, mas que ainda esconde desigualdades profundas. Afinal, o que isso significa quando se olha com mais atenção? Significa que elas continuam a enfrentar barreiras que os homens não enfrentam com a mesma intensidade: dificuldade de acesso a crédito, preconceito no ambiente empresarial, ausência de políticas de cuidado que permitam conciliar maternidade e carreira.

Apoiar empreendedoras é fazer política pública com foco em justiça
É por isso que políticas públicas voltadas ao empreendedorismo feminino não são concessões — são obrigações de um Estado que se pretende justo e moderno. Iniciativas como o Brasil pra Elas e o Sebrae Delas são importantes, mas ainda insuficientes frente ao tamanho do desafio. A transformação real passa por reconhecer que as mulheres não partem do mesmo ponto, e que os programas precisam ter um olhar sensível à interseccionalidade: mulheres negras, indígenas, trans, mães solo e moradoras de periferias precisam de apoio específico e direcionado.

Não é só sobre crédito. É sobre confiança, acesso, espaço
Quando falamos de empreendedorismo, falamos também de autoestima e pertencimento. Quantas mulheres ainda duvidam de sua capacidade de liderar, de negociar, de ocupar espaços majoritariamente masculinos? Quantas foram socializadas para servir, e não para empreender?
Incentivar o empreendedorismo feminino é, também, desconstruir o machismo estrutural que ainda dita regras no ambiente de negócios. É oferecer mentorias, formação, apoio psicológico e redes de troca que fortaleçam não só os negócios, mas as trajetórias pessoais.

O setor privado também precisa fazer sua parte
É animador ver o surgimento de iniciativas privadas que olham para o empreendedorismo com um viés social, como os programas Delas, do Santander, ou o Ela Pode, do Instituto Rede Mulher Empreendedora. No entanto, ainda é preciso que o setor privado assuma compromissos mais robustos e duradouros, inclusive dentro das suas próprias estruturas — valorizando a diversidade em cargos de liderança e financiando negócios liderados por mulheres.

Empreender é resistir, mas não deveria ser só isso
Não podemos romantizar a mulher empreendedora como a heroína que dá conta de tudo. Isso é cruel. Empreender não deveria ser um ato de sobrevivência, mas de escolha consciente, com apoio real. O Estado, a sociedade e o mercado precisam garantir que essa escolha venha acompanhada de condições dignas, de segurança econômica e de liberdade.
O empreendedorismo feminino tem um potencial extraordinário de transformar realidades, gerar empregos, movimentar comunidades e criar novas referências. Mas para que isso aconteça de forma justa e sustentável, é preciso que as políticas públicas deixem de ser pontuais e passem a ser estruturantes.
Afinal, quando uma mulher empreende, não é só ela que cresce — é toda uma rede ao seu redor que se fortalece. E isso, mais do que desenvolvimento econômico, é avanço civilizatório.

Adriana Ramalho, bacharel em Direito, é Política (vereadora em SP 2016/2020), ativista social e palestrante sobre combate a violência doméstica, alienação parental, empreendedorismo feminino, e saúde mental.
 
Fonte: AL9 Comunicação

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ANA MARIA DE SOUZA LOPES
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