"Deságua", novo romance da escritora, pesquisadora e curadora literária gaúcha Dani Langer, é uma narrativa multifacetada sobre os abismos do luto. Publicado pela Editora Zouk (162 págs.), o livro acompanha Antonia, uma mulher jovem que, após perder a irmã mais velha para o suicídio, se vê obrigada a mergulhar em suas próprias memórias para entender não apenas a tragédia, mas seu próprio lugar no mundo.
A obra será lançada no dia 29/07, às 19h, na Livraria Simples. Além da sessão de autógrafos, a autora conversará com Angélica Freitas, em um bate-papo mediado por Leila de Souza Teixeira, que assina o posfácio do livro. Em seguida, no dia 31/7, às 11h, a autora marca presença na Flip 2025, com uma sessão de autógrafos no estande da com.tato, na Casa Escreva, Garota! (Travessa Gravatá 56c/d), em Paraty/RJ.
A gênese do romance remonta a 2007, quando Langer, durante uma visita a São Paulo, testemunhou uma cena aparentemente banal que se tornaria obsessão literária: "Vi uma pessoa debruçada na janela de um hotel de luxo na Alameda Santos. Por um instante, tive a sensação visceral de que aquela pessoa poderia saltar", relembra a autora, cuja formação em Publicidade pela PUC/RS e posterior migração para a Literatura a levou a pesquisar as poéticas do espaço e do deslocamento no mestrado em Escrita Criativa.
O processo criativo de “Deságua” foi marcado por camadas de investigação. A primeira versão, desenvolvida como dissertação de mestrado, passou por profundas transformações ao longo de quase uma década. "A voz narrativa inicial era segura, burocrática — não era a voz da Antonia", analisa Langer, que reescreveu integralmente o texto. Para encontrar o tom certo, a autora criou um elaborado sistema de pesquisa: linhas do tempo com post-its coloridos (amarelos para o presente, azuis para o passado), playlists temáticas no Spotify (como "iPod da Antonia", com trilha sonora de rock com clássicos como Patti Smith, David Bowie e The Cure), e um extenso arquivo de referências visuais que incluía desde fotografias pessoais até a obra do pintor Edward Hopper.
A estrutura fragmentada do romance reflete o estado mental da protagonista, e para tanto é organizado em capítulos curtos que alternam o presente urbano de Antonia — uma São Paulo chuvosa onde ela vagueia entre lembranças musicais e mensagens de sms — com cenas de uma infância no Pampa gaúcho à beira do rio. "'Deságua' é um romance aquático não apenas no tema, mas na própria fluidez da narrativa", explica Langer, que se inspirou em estudos sobre a poética da água, incluindo as reflexões de Gaston Bachelard.
Além do luto, a obra aborda com sensibilidade questões como a depressão e o suicídio como consequência do adoecimento psiquíco — "não como escolha filosófica, mas como sofrimento real que nossa sociedade ainda não sabe acolher", enfatiza a autora — e a complexidade das relações familiares. Um dos eixos centrais é justamente o silêncio que cerca o sofrimento psíquico: "As famílias criam mentiras em torno da dor, como se fingir que não existe fosse uma solução", analisa Langer, cuja experiência como jurada do Prêmio AGES de Literatura e mediadora do grupo de leitura Pororoka (focado em autoras mulheres) a fez refletir sobre as diversas formas de representação da saúde mental na literatura.
Destaque ainda para a construção da protagonista como uma mulher lésbica cujos conflitos centrais transcendem sua sexualidade. "Há uma expectativa reducionista de que personagens LGBTQIA+ devem sempre lidar com questões diretamente ligadas à orientação sexual", critica Langer, que buscou oferecer uma representação mais plural. Essa perspectiva se conecta ao seu trabalho de mediadora em eventos literários, como na mesa "Autorias sapatão: tema ou existência” na 15a Festipoa Literária, que contou com as presenças das poetas Angélica Freitas e Marília Floôr Kosby.
O título "Deságua" sintetiza a essência do romance: um fluxo contínuo entre passado e presente, entre a dor e a possibilidade de recomeço. A obra marca a consolidação de Dani Langer na literatura, após sua estreia com o livro de contos "No Inferno é Sempre Assim e Outras Histórias Longe do Céu" (Dublinense, 2011).
Sobre a autora
Natural de Porto Alegre, Dani Langer (1978) transitou da produção audiovisual e do design gráfico (quando trabalhou em projetos como Saneamento Básico - O Filme, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre) para a literatura, após ingressar na Oficina Literária de Charles Kiefer em 2005. Mestre em Escrita Criativa pela PUCRS, integra o coletivo Mulherio das Letras RS. Além da produção literária, dedica-se à curadoria do grupo de leitura Pororoka, à crítica literária e à docência em oficinas de criação.
Confira um trecho de “Deságua”:
Faz mais de duas semanas que Sofia caiu do décimo segundo andar. Quando o toque do celular me acordou, e isso pareceu ter sido um pouco depois que eu peguei no sono; quando não reconheci o número na tela, e meus olhos ardiam ainda pesados; quando interrompi o ruído estridente, dizendo alô com a voz pastosa, não pensei nela. A verdade é que, depois de adulta, pensei cada vez menos na minha irmã.
AGENDA DE EVENTOS
Lançamento em São Paulo
Participação na Flip 2025 (Paraty/RJ)
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VERIANA RIBEIRO ALVES
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