3 Luas - vestir o axé com beleza, ancestralidade e amor

Quando a moda e a fé agem como cura

AMANDA SILVEIRA
04/07/2025 07h24 - Atualizado há 6 horas

3 Luas - vestir o axé com beleza, ancestralidade e amor
Comunicação 3 Luas
A marca 3 Luas, criada por Taymara Mello Pienaro Marotta, nasceu de uma mistura potente: memória afetiva, ancestralidade, espiritualidade e uma vontade profunda de curar e criar com as próprias mãos. Hoje, é uma marca de roupas afrocentradas, voltada principalmente para mulheres cultuadoras de orixá, mas que veste com beleza e axé qualquer pessoa que deseje se reconectar com suas raízes e sua força.
Taymara cresceu entre tecidos, linhas e máquinas de costura. A mãe, dona de uma tradicional loja, no interior da Zona da Mata Mineira, e a madrinha, costureira de vestidos de festa e de noivas, foram suas primeiras inspirações. “Na infância, eu via, absorvia. Brincava na máquina de pedal. Tudo isso ficou guardado em mim”, conta.
Na adolescência, a moda virou um território sensível. “Era gordinha e não encontrava roupa que coubesse bem. Então comecei a desenhar minhas roupas e mandar fazer”. Esse Foi o primeiro exercício criativo de liberdade e autoestima.

Ela pensou em fazer faculdade de moda, mas, em 1997, só havia uma opção particular no Rio de Janeiro, em seu primeiro ano de turma. Achou arriscado e seguiu outro chamado: psicologia, que também se tornaria uma paixão e profissão.
Anos depois, já adulta, Taymara sentiu o peso da rotina e decidiu buscar um hobby. Foi quando voltou ao desejo de adolescência e matriculou-se num curso de corte e costura. “Nunca tinha ligado uma máquina. Costurava tudo torto, mas tinha boas ideias. Aprendi insistindo”, relata achando engraçadas as experiências.
Começou costurando para si — peças simples, feitas com carinho. Até que sua companheira, incentivadora desde o início e hoje parte essencial da marca, pediu: ‘Faz uma roupa pra mim?’ Seguidoras dos cultos de Ifá e Umbanda, ambas valorizavam as roupas rituais coloridas e Taymara se desafiou a fazer um conjunto para ela e um vestido para si mesma. E, segundo ela, ficou tudo lindo.
Foi então que os filhos do centro começaram a pedir também. ‘Faz um vestido desse para mim? Uma calça igual para minha filha, meu filho?’ E ela foi fazendo. Um dia, levaram alguns vestidos — todos feitos para o seu tamanho — para a casa de um amigo e, sem querer, venderam todos.
A resposta foi imediata. “Cheguei em casa e minha esposa falou: faz mais. Você faz direitinho”. A companheira investiu, comprou tecidos e Taymara costurou outras peças, levadas a um festival, onde foram todas vendidas. “Paguei o investimento, reinvesti. Começou assim. Eu demorava muito, porque ainda não tinha prática, mas ali tudo mudou”, relata ela.
No início, nem etiqueta havia. Mas Taymara já sonhava com um nome. Ela queria uma coisa ligada à natureza. A lua sempre permeou sua mente. A imagem das três fases — cheia, crescente e minguante — sempre a agradou, a comovia. Já tinha visto esse símbolo em acessórios, joias... Ao pesquisar, descobriu que o número três carrega um simbolismo importante nas religiosidades afro-brasileiras, como Ifá e Umbanda. A lua já foi a luz da noite e é um orixá ligado a Oxum, que carrega consigo força e beleza. “Vi também que o símbolo das três luas aparece em cultos antigos, cultos femininos de várias culturas e civilizações. Mulheres que cultuavam a natureza sob a luz da lua, sem teto, em conexão direta com os deuses. E tudo isso fazia sentido para mim”.
O nome 3 Luas surgiu da intuição e foi confirmado pela pesquisa e pelo sentir. “Eu queria o mistério, eu queria a natureza, eu queria o poder do feminino. Porque o feminino gera, cria, cura”. E é assim a costura para Taymara Mello. Uma criação. Uma cura. Um reviver de boas memórias.
Foi nesse reinvestimento, já com as vendas crescendo, que ela mandou fazer as primeiras etiquetas com o nome 3 Luas. Ali, a marca nascia oficialmente. Mesmo conciliando com outras rotinas — o trabalho como psicóloga clínica, a atuação em consultoria de RH, as tarefas domésticas — Taymara nunca parou. “Era tudo muito na raça, conciliando com a vida. Porque até então era um hobby”.
Hoje, o hobby virou missão. Taymara continua costurando, desenhando, se aperfeiçoando. Atualmente, a 3 Luas oferece vestidos retos, batas, saias, conjuntos masculinos e peças autorais como o vestido Queen. São roupas de axé, mas também de identidade. Servem ao culto, mas também ao cotidiano, à festa, ao passeio, ao cuidar de si. “Quero que quem vista se sinta bonita. Que sinta força, pertencimento, beleza. Que se sinta deusa”, destaca.
Formalmente individual, a marca é sustentada pelo coletivo. “Sem minha esposa, eu não teria dado esse passo. Ela acreditou, investiu, divulgou, segurou minha mão”.  Hoje, Taymara sonha em profissionalizar as redes sociais, crescer em produção e fazer da 3 Luas sua principal fonte de renda. Mas sem nunca perder o eixo. Crescimento, para ela, é consequência. O mais importante é sua realização.
3 Luas é isso: uma marca nascida da escuta, do sagrado, do feminino criador. Uma marca feita com axé, com alma e com verdade.

 

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AMANDA MARIA SILVEIRA
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