O cinema brasileiro vive um de seus momentos mais importantes. Em março, o Brasil venceu pela primeira vez um Oscar em sua história, o de Melhor Filme Internacional por Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Antes, em fevereiro, Fernanda Torres, atriz do filme, indicada ao Oscar, já havia vencido o Globo de Ouro como melhor atriz em filme dramático. No mesmo mês, o Brasil também seria premiado no Festival de Berlim, com o Urso de Prata para Gabriel Mascaro por O Último Azul. Para coroar o grande ano, O Agente Secreto venceu no mês passado duas das mais importantes premiações do Festival de Cannes – melhor direção para Kleber Mendonça Filho, e melhor ator para Wagner Moura, além do Prêmio da Crítica pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci).
Para celebrar seu excelente momento no cenário internacional, chega ao Peru este mês a 4ª edição do Festival de Cinema Brasileiro em Lima, no CCPUCP, de 20 a 25 de junho. Ao todo, são 10 longas-metragens contemporâneos, entre dramas, romance, biografia, comédia e documentário. O festival é uma parceria entre a Embaixada do Brasil em Lima, o IGR - Lima, a Linhas Produções Culturais e o Centro Cultural da Pontifícia Universidade Católica do Peru (CCPUCP).
Entre os destaques do festival está o documentário Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, lançado este ano sobre a carreira e a turnê de despedida de Milton Nascimento, um dos mais intérpretes e compositores da música brasileira. O filme mostra a dimensão mundial de Milton, capta a comoção que ele provoca nos fãs, explora a forte carga espiritual de sua obra e investiga as origens de sua musicalidade nas entranhas do Brasil profundo. Filmado ao longo de dois anos, o filme captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs.
O festival traz também Malu, de Pedro Freire, drama premiado no Festival do Rio de 2024 como Melhor Longa de Ficção, Melhor Roteiro, Melhor Atriz, e Melhores Atrizes Coadjuvantes, além de selecionado para o Sundance Film Festival. No filme, Malu, uma atriz desempregada de 50 anos, vive das lembranças de seu passado glorioso e divide uma casa decadente em uma favela do Rio de Janeiro com sua mãe conservadora. Ao mesmo tempo, ela tem que lidar com o relacionamento conturbado com sua própria filha.
Outro destaque é o drama A Vilã das Nove, de Teodoro Poppovic. O nome é uma alusão ao tradicional horário de exibição das principais novelas da TV aberta brasileira. No filme, Roberta está na melhor fase da vida. Recém-separada, vive ao lado da filha Nara e desfruta de uma liberdade que há muito tempo não experimentava. Até que ela vai a uma festa a convite de um aluno e assiste à estreia da novela “A Má Mãe”, de um autor consagrado. A atração torna-se um sucesso imediato de audiência. Mas há algo familiar para Roberta. Ela descobre que a trama da obra é baseada na sua vida. E o pior, ela é a vilã da novela.
Vitória, de Andrucha Waddington, também está entre as principais atrações deste ano. O filme, que tem no elenco a atriz Fernanda Montenegro, é baseado em fatos reais. Uma idosa solitária, angustiada com a violência que começa a se instalar em seu bairro e em conflito com os vizinhos, começa a filmar da janela de seu apartamento. Durante meses, ela registra em vídeo a movimentação de traficantes na região, com a intenção de auxiliar a polícia.
Completam a mostra os filmes Retrato de um Certo Oriente, de Marcelo Gomes, baseado na obra homônima do escritor Milton Hatoum, sobre a imigração de dois irmãos do Líbano para a Amazônia no final dos anos 50; Kasa Branca, de Luciano Vidigal, inspirado em fatos reais, sobre a história de três adolescentes negros que vivem na periferia do Rio de Janeiro e o relacionamento de um deles com avó que sofre de Alzheimer; A Metade de Nós, de Flávio Botelho, sobre um casal de terceira idade que acaba de perder o único filho e busca as motivações para se livrar de qualquer culpa diante da tragédia familiar; Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, que acompanha a história de dois homens cuja trajetória se entrelaça de forma trágica: ambos, abandonados pela mesma mulher, despertam uma rivalidade intensa e destrutiva; e Evidências do Amor, comédia de Pedro Antonio Paes e Zaga Martelleto que acompanha a a história de um casal que se apaixona após cantar a música Evidências – um dos maiores hits populares brasileiros - juntos em um karaokê. Além das estreias, o festival deste ano traz também uma sessão especial em homenagem ao maestro brasileiro João Carlos Martins, considerado um dos maiores intérpretes de Bach no mundo, com a exibição de João - O Maestro, de Mauro Lima.
Segundo o Embaixador do Brasil em Lima, Clemente Baena Soares, as recentes conquistas do cinema brasileiro certamente aumentaram ainda mais o interesse do público peruano pelos filmes do país. “Celebrar o cinema brasileiro em Lima, em um ano tão simbólico, é também celebrar a profunda conexão entre Brasil e Peru. Nossos povos compartilham raízes culturais, calor humano e uma forma vibrante de contar histórias. Existe uma afinidade natural entre nós — na música, na gastronomia, na alegria e na resistência do cotidiano. É emocionante ver como o público peruano se identifica com nossos filmes, como se reconhecesse ali partes de si mesmo”, ressalta.
Para Fernanda Bulhões, diretora da Linhas Produções Culturais, 2025 é um ano para entrar na história do cinema brasileiro. “Temos diretores, roteiristas, artistas e toda uma indústria de profissionais muito talentosos e cada vez mais recoinhecidos no mundo. E esse reconhecimento passa também pelo carinho e pela identificação que temos com nossos vizinhos da América Latina, em especial no Peru. Existe uma ponte afetiva e cultural que nos aproxima — contamos histórias que atravessam fronteiras porque falam de sentimentos universais, mas com um sotaque que é familiar a todos nós”, afirma.
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ERIC REALE FINGER
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