Nos espelhos e nos salões, um movimento silencioso tem ganhado força: mulheres de todas as idades estão desistindo das químicas alisantes para se reconectar com sua textura natural. Conhecida como transição capilar, essa jornada é, para muitas, uma forma de resgatar a autoestima, romper com padrões impostos e reconstruir a relação com o próprio corpo.
Mas o caminho entre a raiz crespa e as pontas lisas nem sempre é fácil — e pode vir carregado de inseguranças, dúvidas e julgamentos. “A transição capilar é um processo profundo de autoconhecimento. Não é só sobre cabelo, é sobre identidade, aceitação e liberdade”, explica a cabeleireira Thay Sant’Anna, especialista em tratamentos personalizados e coloração.
Segundo Thay, o Brasil vive um paradoxo: embora mais de 60% das brasileiras tenham cabelos crespos, cacheados ou ondulados, a maioria cresceu ouvindo que seus fios eram “difíceis”, “rebeldes” ou “feios”. “Essa carga emocional aparece no salão. A cliente chega pedindo uma mudança, mas carrega medos e traumas que a acompanham há anos”, conta.
Thay explica que a transição costuma durar entre 8 e 18 meses, dependendo da velocidade de crescimento e da decisão da cliente de fazer ou não o corte total (big chop). Durante esse período, o cabelo apresenta duas texturas visíveis: a natural (que está nascendo) e a alisada (que permanece nas pontas). Isso pode gerar frizz, embaraço excessivo e dificuldade de modelagem.
Para lidar com isso, a profissional recomenda:
De acordo com um levantamento da Kantar, a busca por produtos para cabelos cacheados cresceu 38% nos últimos cinco anos no Brasil. Em contrapartida, o mercado de alisantes caiu 24% no mesmo período. No YouTube, vídeos com a hashtag #transiçãocapilar já somam mais de 500 milhões de visualizações.
“Esses números mostram que a tendência é real e crescente. Mas ela precisa ser acompanhada por profissionais que acolham essas mulheres com respeito, técnica e afeto. Não se trata de modismo — é uma reparação histórica”, reforça Thay.
Para muitas mulheres, o momento de cortar a química também marca um recomeço pessoal. É comum que a transição aconteça após términos, maternidade, mudanças de carreira ou redescobertas emocionais. “Eu já atendi clientes que choraram no lavatório — não por tristeza, mas por se verem, pela primeira vez, de verdade”, conta Thay.
A profissional acredita que o papel do cabeleireiro vai muito além da estética. “Nós não cuidamos só de fios, mas de histórias, inseguranças, traumas e vitórias. É um trabalho de autoestima, de reconstrução emocional
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ABIGAIL BORGES DOS REIS
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