Mempodera cria metodologia exclusiva e ensina de forma lúdica e empoderada

A metodologia criada pela organização aposta no esporte como um ambiente acolhedor e pode ser replicada em outros projetos sociais, colégios e ambientes corporativos

JéSSICA AMARAL
12/06/2025 22h14 - Atualizado há 15 horas

Mempodera cria metodologia exclusiva e ensina de forma lúdica e empoderada
Divulgação

O empoderamento feminino, racial e social nem sempre está presente desde o início, mas pode ser desenvolvido ao longo da vida. Estar em ambientes que estimulam esse processo e contar com pessoas que inspiram faz toda a diferença. Na Mempodera, organização que oferece wrestling e inglês de forma gratuita para meninas, a metodologia utilizada é totalmente focada em empoderar. Atualmente, 292 meninas praticam a modalidade – historicamente dominada por homens – nas cidades onde a organização atua, mas cerca de 800 jovens já passaram por lá.

A metodologia foi desenvolvida pela organização e se refere a forma de ensinar. Todas as pessoas que formam a equipe nos núcleos em que a Mempodera atua, são treinadas para agir com base nos cinco pilares em que o método se fundamenta: ambiente seguro, postura acolhedora da equipe, inclusão e diversidade, intencionalidade, cooperação e jogos e brincadeiras. 

Mais do que uma prática esportiva, o projeto é uma ação afirmativa. Além da luta, a Mempodera oferece as atividades de inglês como uma maneira de garantir que o futuro das jovens seja com maiores oportunidades, e oficinas com temas como saúde, política e equidade de gênero, trazendo questões de cidadania e autonomia. O projeto utiliza o lúdico para ensinar os mais diversos assuntos para meninas entre seis e 17 anos de Cubatão, Itariri, Pedro de Toledo (SP) e São Luís (MA). 

“Trilhamos um caminho até chegar a essa forma de desenvolver as atividades com o lúdico, de ensinar o wrestling e o inglês desta forma, e até os dois em conjunto. A nossa metodologia se refere à forma Mempodera de ensinar. Dentro disso tudo do lúdico, temos muitas outras questões que nós defendemos. Queremos que as alunas e a equipe consigam crescer dentro da instituição e possam trabalhar e estudar em um ambiente saudável”, explica Mayara Graciano, coordenadora da Mempodera. 

A liderança e formação da equipe também é estimulada a se desenvolver e se fortalecer. As três fundadoras são mulheres pretas, 93% das pessoas contratadas são mulheres, sendo que do total, mais de 85% são pretas ou pardas, mais de 7% são pessoas trans e 35% pessoas LGBTQIAP+.

Seis pilares fundamentais da metodologia

A metodologia foi criada pela Mempodera e demorou cerca de dois anos para ser pensada e executada. Uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais de diferentes áreas, como psicologia, pedagogia e esportiva, fez parte da equipe de criação. O método de ensino é baseado no respeito aos direitos das crianças, sempre pensando em cada fase, além de provar que, para se desenvolver, um ser humano não precisa passar por punições e castigos, mas sim se reconhecer em uma comunidade. 

A metodologia conta com seis princípios inegociáveis, sendo o primeiro pilar, construir um ambiente seguro, que contempla ambiente para as meninas, segurança física, psicológica - contra abusos e humilhações - e privacidade, com salas fechadas, por exemplo. “Por que ter um espaço só para as meninas é mais seguro? O projeto era só para elas, mas em algum momento abrimos para um público misto devido às parcerias, e acabou que com os meninos entrando, as meninas saíram. E entender essa questão é importante para seguir atuando e propiciando esses espaços seguros”, afirma Mayara, que ainda destaca a importância que a experiência tida pela Mempodera, reflete na replicação da metodologia.  

Outro princípio da metodologia é a postura dos professores e da equipe. Neste pilar, todos devem ser treinados a não gritar ou punir, sempre focando na conversa e na escuta empática, mostrando que o projeto social é um espaço de acolhimento e confiança. O terceiro pilar é a inclusão e não-exclusão uma maneira prática de fazer com que crianças de idades e fases de desenvolvimento diferentes estejam juntas; é oportunizar atividades que todas consigam participar. 

O quarto pilar são os jogos e brincadeiras, uma das características principais da metodologia, onde o brincar - uma das principais formas de expressão das crianças - é utilizado com uma intenção. Um exemplo na Mempodera, é ensinar algum golpe do wrestling ou até mesmo uma nova palavra em inglês por meio de uma brincadeira. O quinto, é a intencionalidade. “Todas as nossas atividades socioeducativas são interligadas. Então, quando um assistente social vai para campo fazer uma atividade com as crianças, vai a partir de algo que foi observado dentro do projeto. Nenhum tema trabalhado é vazio ou levado sem motivo”, ressalta Mayara. 

No último pilar está a cooperação e cuidado com o espaço, que é o senso de time e equipe entre as participantes. Todas devem ser ensinadas a cuidar e zelar pelo espaço físico, fazendo com que a sala e a infraestrutura do projeto se mantenham limpas, organizadas e em harmonia. Em todos os princípios, o empoderamento feminino é trabalhado na organização, que ensina uma luta majoritariamente masculina para meninas. 

Expansão da metodologia

Com o objetivo de expandir a forma de atuação para outras organizações da sociedade civil, principalmente as que atuam com crianças e precisam criar um ambiente seguro para o público feminino, colégios e até ambientes corporativos, a Mempodera realiza o processo de replicação da metodologia. Em maio, a coordenadora e o assistente de processos administrativos e fundador do Coletivo AMEM, Gabriel da Silva, palestraram no Sesc de Mogi das Cruzes (SP) para mais de 20 líderes e gestores de organizações sociais do entorno.

Mayara destacou a criação de um espaço seguro para as meninas no esporte, já Gabriel focou na parte metodológica que abrange temas como a decolonialidade e o letramento racial. “Usamos saberes acerca de políticas sociais e decoloniais na intenção de que nossas beneficiárias se empoderem e tenham conhecimento das suas potências como pessoas e como cidadãs”, ressalta.

Até mesmo em temas sociais, o lúdico é utilizado para trazer a conscientização. “Atuamos em parceria com escolas do sistema público de ensino, associações e mais instituições que se interessam em ter a Mempodera como uma de suas atividades. Mas o foco é sempre em ajudar o empoderamento de meninas de regiões periféricas”, frisa Gabriel.

Sobre a Mempodera

A Mempodera é uma organização que oferece atividades de wrestling e inglês introdutório ao esporte para crianças e adolescentes de seis a 17 anos, de forma gratuita, desde 2018 com apoio do Ministério do Esporte, por meio da Lei de Incentivo Federal. O projeto promove a igualdade de gênero por meio do esporte, da educação e do fortalecimento de vínculos. Atuando em Cubatão, Itariri e Pedro de Toledo (SP) e São Luís (MA), mais de 750 jovens já passaram pela organização e tiveram suas vidas transformadas. Mais informações em www.mempodera.com


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JESSICA HENRIQUES DE MELLO PEIXOTO AMARAL CORDEIRO
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