Acordo Mercosul-UE: uma resposta ao protecionismo global e uma oportunidade estratégica para o Brasil
DAVID FLORIM
11/06/2025 11h47 - Atualizado há 1 dia
Cristiane Fais é CEO da Accrom Consultoria em Logística Internacional
Por Cristiane Fais, CEO da Accrom Consultoria em Logística Internacional Em recente declaração durante a Cúpula do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser a resposta ao “unilateralismo de Trump” — em referência à crescente onda protecionista que marcou a política comercial dos Estados Unidos desde o governo do ex-presidente Donald Trump. A declaração do Presidente da República, aponta uma visão estratégica de sua equipe econômica. Ela toca em um ponto central do debate sobre comércio internacional hoje: em um mundo cada vez mais fragmentado por disputas comerciais, acordos regionais e bilaterais ganham importância estratégica. E o Brasil não pode ficar de fora. O termo “unilateralismo” diz respeito à adoção de medidas comerciais isoladas, sem diálogo multilateral, como barreiras tarifárias, sanções ou a saída de blocos e acordos internacionais. Foi essa a marca da política externa de Trump, que, por exemplo, retirou os EUA da Parceria Transpacífica (TPP) e iniciou guerras comerciais com países como China e México. Para o Brasil, esse cenário trouxe desafios e oportunidades. Mas, acima de tudo, evidenciou a urgência de fortalecer alianças comerciais estáveis e baseadas em regras claras. É neste contexto que o acordo entre Mercosul e União Europeia, negociado por mais de duas décadas, volta ao centro da pauta. Como especialista em logística internacional e comércio exterior, vejo com otimismo o potencial desse acordo. Caso seja ratificado, ele poderá trazer impactos significativos para diversos setores da economia brasileira: 1. Acesso privilegiado a um dos maiores mercados do mundo A União Europeia é composta por 27 países, com um mercado de mais de 440 milhões de consumidores e alto poder aquisitivo. A eliminação ou redução de tarifas pode impulsionar as exportações brasileiras, especialmente de produtos agropecuários, alimentos processados, maquinário e manufaturados. 2. Ganho de competitividade logística Com previsibilidade e redução de custos alfandegários, empresas brasileiras poderão planejar rotas, estoques e operações com mais eficiência, algo essencial para a competitividade logística. O comércio se torna mais ágil e previsível, reduzindo gargalos operacionais. 3. Padronização e integração regulatória O acordo prevê avanços na harmonização de regras sanitárias, ambientais e técnicas, o que facilitará a entrada de produtos brasileiros na Europa. Isso exige uma adaptação por parte do setor produtivo, mas também cria novos patamares de qualidade e governança. 4. Atração de investimentos estrangeiros Com um ambiente de maior estabilidade jurídica e comercial, o Brasil tende a se tornar mais atrativo para investimentos europeus em infraestrutura, tecnologia e logística, especialmente em portos, ferrovias e centros de distribuição. É importante lembrar que o acordo também traz desafios, especialmente para pequenas e médias empresas brasileiras que podem enfrentar concorrência europeia mais intensa. Por isso, será essencial contar com políticas públicas de capacitação, financiamento e modernização da cadeia produtiva nacional. Além disso, o setor logístico precisa estar preparado para novas exigências de rastreabilidade, sustentabilidade e digitalização, que são prioridades para o mercado europeu. A declaração do Presidente da República, aponta uma visão estratégica de sua equipe econômica: O Brasil vem se consolidando cada vez mais - desde o início do embate de Trump com diversas economias como China, União Europeia, entre outros - como um ator global relevante, equilibrando relações com diferentes blocos econômicos, sem depender exclusivamente dos Estados Unidos, da China ou de acordos bilaterais isolados. O acordo do Mercosul com a União Europeia já trazia até então bons presságios para o Brasil, e no atual cenário, representa mais passo em direção a um comércio mais aberto, moderno e baseado em confiança mútua — justamente o oposto do unilateralismo. Se queremos um país mais competitivo, com empresas mais conectadas ao mundo e um comércio exterior eficiente, precisamos apoiar esse tipo de iniciativa e, principalmente, nos preparar para aproveitá-la com inteligência e planejamento. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
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