Veja como foi a soltura inédita de lontras na natureza em Florianópolis

Filhotes que foram destinados à Lagoa do Peri são descendentes de Nanã, lontra resgatada ainda bebê após ser localizada mamando no corpo da mãe sem vida sob a Ponte Hercílio Luz

Ana Cirico
05/06/2025 09h34 - Atualizado há 17 horas

Veja como foi a soltura inédita de lontras na natureza em Florianópolis
Projeto Ekko Lontra
Uma ação inédita marcou a soltura de duas lontras (da espécie Lontra longicaudis) na natureza, no dia 4 de junho, em Florianópolis. Os animais foram destinados à Lagoa do Peri, inserida numa Unidade de Conservação no Sul da Ilha, em uma iniciativa do Instituto Ekko Brasil/Projeto Lontra — uma Organização da Sociedade Civil, que atua há quase quatro décadas na pesquisa e conservação da espécie — em parceria com o Grupo Oceanic, responsável pelo maior aquário do Sul do país.

Com cerca de oito meses de idade, os filhotes, um macho e uma fêmea, são filhos de Nanã, lontra resgatada ainda bebê em 2016 pela Polícia Ambiental sob a Ponte Hercílio Luz, cartão-postal da capital catarinense. Ela foi encontrada tentando mamar no corpo da mãe que, de acordo com a necropsia, morreu por traumatismo craniano em decorrência de agressões. Lucky, pai dos bebês, foi entregue voluntariamente para um zoológico e, posteriormente, encaminhado ao projeto.


De acordo com os responsáveis, o nascimento e a soltura dos filhotes - carinhosamente apelidados de “gêmeos” - representam um marco na conservação da espécie no Brasil. “Essa é uma oportunidade de transformar histórias de sofrimento em esperança para a biodiversidade”, afirma Marcelo Tosatti, Presidente do IEB e gerente administrativo do Projeto Lontra.

Recomeço

A iniciativa oferece uma nova chance para animais que, vítimas de maus-tratos, ações humanas ou impactos das mudanças climáticas, não podem retornar diretamente à natureza, mas ainda assim contribuem para a continuidade de sua espécie. Diferentemente dos órfãos resgatados, os filhotes nascidos sob cuidados humanos apresentam um perfil mais favorável para readaptação, o que aumenta a expectativa de sucesso na soltura.

“Além dos programas de conservação desenvolvidos no Oceanic Aquarium, apoiar o Projeto Lontra, tanto técnica quanto financeiramente, é uma forma concreta de contribuir com a reintrodução de espécies nativas e com a saúde dos nossos ecossistemas. Estamos muito orgulhosos de fazer parte dessa iniciativa pioneira que transforma cuidado e ciência em ação real pela natureza. Quero parabenizar o projeto pelo trabalho sério, comprometimento e dedicação com a causa”, afirma Kiko Buerger, CEO do Grupo Oceanic.

Acompanhamento na natureza

Após a soltura, os animais serão monitorados por meio de armadilhas fotográficas, observações de campo e análise de vestígios como pegadas, fezes e marcações odoríferas — métodos que auxiliam na identificação dos hábitos e na avaliação da adaptação ao novo ambiente. Na região já foram mapeadas sete tocas habitadas por lontras. O acompanhamento também se estenderá aos corredores ecológicos que conectam fragmentos de vegetação nativa e garantem o fluxo da fauna e flora locais.

A iniciativa conta com o apoio e a supervisão de órgãos ambientais como o IBAMA, o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM). Em oito anos, 14 filhotes nasceram sob os cuidados do projeto. Com a formação de uma população de segurança e a publicação do Plano de Manejo da Lagoa do Peri, em 2024, iniciou-se uma nova etapa: o retorno dos animais à natureza.

Espécie ameaçada

As lontras estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Embora no Brasil a espécie seja classificada como “Quase Ameaçada” (NT), em países vizinhos como a Argentina, ela já figura como “Em Perigo” (EN).

Além da perda de habitat, as lontras também sofrem com a poluição dos rios, caça ilegal e tráfico de animais silvestres. A iniciativa em Florianópolis pretende não apenas reintroduzir os animais na natureza, mas também aumentar a conscientização sobre os desafios que a espécie enfrenta.

Animais sob cuidados humanos

Outra ação em prol da conservação da fauna é a educação ambiental. Muitos indivíduos que não podem voltar para a natureza são destinados à aquários, zoológicos, mantenedores, entre outros projetos, e inseridos em atividades educativas. No Oceanic Aquarium, por exemplo, vivem Jean Miguel e Carlos Daniel, duas lontras resgatadas ainda filhotes em Belém do Pará (PA) pela Polícia Militar Ambiental. A dupla permite aos visitantes conhecerem mais sobre os hábitos, características e as curiosidades da espécie e fica em um dos ambientes mais procurados pelo público. 

Sobre o Grupo Oceanic

Fundado em Balneário Camboriú (SC), hoje o grupo tem cinco atrativos turísticos na cidade: Oceanic Aquarium, Parque Aventura Jurássica, Classic Car Show, Aventura Pirata e é sócio fundador do Space Adventure. Além de Santa Catarina, o Grupo Oceanic está presente também em São Paulo e Rio Grande do Sul. Na capital paulista, o grupo administra o Reserva Paulista, que inclui o Zoo SP – maior zoológico da América Latina, Jardim Botânico e o Simba Safari (reabertura em julho). Na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul, é sócio fundador do Space Adventure e pretende inaugurar em 2026 o Gramado Aquarium, com investimento inicial de R$100 milhões. Hoje o grupo contempla nos três estados mais de mil colaboradores. 

Projeto Lontra

Criado em 1986, o Projeto Lontra desenvolve atividades de pesquisa, educação ambiental e mobilização social na Lagoa do Peri, em Florianópolis. Entre suas ações estão o levantamento populacional das lontras na região, parcerias com universidades e autoridades, e atividades com escolas e comunidades locais.

Sobre o Instituto Ekko Brasil

O Instituto Ekko Brasil (IEB), fundado em 2004 em Santa Catarina, é uma ONG dedicada à conservação da biodiversidade e ao turismo de conservação. Por meio de pesquisa, educação ambiental e mobilização social, o IEB busca contribuir para o bem-estar das comunidades e deixar um legado positivo para as futuras gerações.

Com atuação nacional, o IEB desenvolve projetos em biomas como a Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal. Entre eles estão: Projeto Lontra, Refúgio Animal, PAIE (Programa de Atendimento às Instituições de Ensino), Projeto Tucano, Projeto Ariranha e o Programa Ecovoluntário. A instituição também mantém parcerias com outras organizações e universidades, como o Projeto Sea Horse (em colaboração com a UFPB), o Projeto Bioinvasores Marinhos (com ICMBio e UFSC) e o Projeto Recrutamento e Dinâmica da Comunidade Bêntica(com ICMBio e UFSC), na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo.

Mais imagens aqui: https://drive.google.com/drive/folders/1p-zqIjqVZYEFHvhcQwOzdCEYMKjJFXmw
 

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ANA CRISTINA MOSER CIRICO
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FONTE: Grupo Oceanic
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