Com prefácio de Ruy Guerra, Carla Brasil estreia com “Cronofagia”: uma poesia suja, sarcástica e brutalmente sensível sobre o tempo e os abismos do agora

Estreia literária da multiartista funde palavra e imagem para criar uma obra cortante que confronta os paradoxos da existência contemporânea; obra será lançada na Bienal do Rio de Janeiro

VERIANA RIBEIRO
30/05/2025 11h02 - Atualizado há 2 dias

Com prefácio de Ruy Guerra, Carla Brasil estreia com “Cronofagia”: uma poesia suja, sarcástica e brutalmente sensível sobre o tempo e os abismos do agora
Acervo Pessoal

Carla Brasil (@carlabrasil.art) não chega devagar. Sua estreia literária com “Cronofagia” (Editora Appris) é uma explosão estética e existencial. O livro reúne 37 poemas que não pedem licença: urram, debocham, sangram — e voltam em forma de versos para mastigar o absurdo do tempo presente. Não se trata apenas de uma coletânea de poemas — é um manifesto poético que escancara as feridas de um tempo que nos consome enquanto promete liberdade. A autora irá lançar a obra durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, com sessão de autógrafos marcada para dia 20 de junho, às 21h, no estande do Escreva, Garota!. O livro será comercializado durante todos os dez dias de feira no estande da Editora Appris.

 

Com prefácio do cineasta, dramaturgo e também poeta Ruy Guerra, a obra já nasce com o peso de uma validação rara: “É muito bom ler uma jovem poeta, como Carla Brasil, que na sua primeira arremetida chega tão longe. Me dá vontade de usar um daqueles sonoros palavrões descarados, para  escancarar o meu entusiasmo”, escreve ele.

 

Multiartista de formação e atuação, Carla Brasil assina também a direção criativa do projeto gráfico do livro. Desde a concepção da capa até o conceito das ilustrações (criadas por Daniel Uires), sua visão estética integra o pensamento poético da obra. “Essas intersecções entre palavra e imagem não são apenas ilustrativas — fazem parte da narrativa do livro”, ressalta.

O tempo como devorador — e como matéria poética

Na tensão entre lirismo e brutalidade, Carla Brasil transforma o tempo — esse algoz invisível e onipresente da contemporaneidade — em personagem central. Os poemas abordam a ansiedade digital, a compressão da subjetividade, o esgotamento da produtividade e a ironia cruel de uma era que promete ganho de tempo, mas só oferece cansaço. “Esse jogo perverso entre aceleração e esgotamento está no cerne do livro”, explica a autora.

Carla Brasil compartilha suas inquietações com versos que usam jogos de palavras, vasto vocabulário, ironia e sarcasmo para provocar o leitor. Para ela, o tempo não é um bem que possuímos, mas uma força que nos atravessa, nos escapa, e ao mesmo tempo, nos consome. A partir dessa convicção, o livro sugere que a identidade é fluida, a memória é seletiva, o amor pode ser um hiato ou um delírio, e a existência, em si, um jogo entre o absurdo e a poesia.

Mas “Cronofagia” não é um inventário das angústias modernas. É um campo de batalha onde a linguagem — afiada, sarcástica, melancólica — enfrenta o colapso cotidiano com vigor poético. “É o retrato impiedoso de um tempo ansioso, barulhento e vazio”, define a sinopse. Uma escrita que recusa o conforto, provoca o leitor e reivindica o direito de ainda sentir — mesmo que doa.

Ruy Guerra e a poética do abismo

Se o tempo é o protagonista desses poemas, o território que a autora habita detalha os contornos críticos que a obra propõe: “Carla Brasil abre o seu livro com uma paródia sofrida e indignada do hino nacional, marcando a sua vocação do abismo. Os adjetivos patrióticos da letra original são trocados por palavras catárticas, no limite de sua intensidade, para falar do ontem e do hoje”, destaca Ruy Guerra.

 

O poeta enxerga a densidade da escrita de Carla Brasil — sua capacidade de ir do escracho ao sutil, da filosofia ao esgoto, sempre com domínio da forma e da fúria. O Brasil, o hoje e tudo aquilo que é percebido pelo eu-lírico são representados por Carla Brasil a partir de um léxico misto: há brutalidade e crueza em suas escolhas linguísticas, mas também há lirismo e uma certa melancolia. 

 

Ruy Guerra ainda define Carla Brasil como "nefelibata com pés no esgoto", celebrando sua capacidade única de conjugar abstração filosófica e crueza do cotidiano. "A poeta não foge do sujo, vai até o limite, sempre em favor da ideia", escreve, destacando como a autora constrói imagens que "beiram o sórdido".

Uma autora que integra linguagens e provoca territórios

Carla Brasil é poeta, escritora e multiartista, vivendo e criando no Rio de Janeiro. Sua produção transita entre literatura, design, artes plásticas e fotografia, sempre com um olhar inquieto e provocador. Sua poesia é marcada por um tom irônico e melancólico, misturando lirismo, crítica social e uma dose afiada de sarcasmo e refletindo paradoxos da contemporaneidade.

Seu talento já foi reconhecido em premiações literárias nacionais, como o Prêmio Poesia Agora – Primavera 2020, da Editora Trevo, e a Seleção Poesia Brasileira, Poetize 2021, da Vivara Editora Nacional, na qual teve poemas selecionados entre milhares de inscritos."Cronofagia" marca sua estreia no universo literário.

 

Trecho do poema Hino Marginal Brasileiro:

 

"Distante da sua própria natureza,

És cego, és pobre, esquálido, corroso,

E o teu futuro espelha essa fraqueza.

 

Terra calada,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

A mais roubada!

Pros filhos deste solo és tão hostil,

Pátria amarga,

Brasil!"

 

Trecho do poema “Clichês do tempo”:

 

"corre o tempo e eu não corro

ele salta colinas

eu me destroço em pedregulhos

ele voa absorto

e eu fico na lama,

no rastro bastardo do seu pecado

 

passa com seu olhar perfilado

seu fôlego arbitrário

o riso sarcástico e dissimulado

de um deus ordinário"

 

Adquira “Cronofagia” em breve no site da editora: https://editoraappris.com.br 


 

Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
VERIANA RIBEIRO ALVES
[email protected]


Notícias Relacionadas »