Marcelo Müller
Enquanto observamos nossos animais de estimação no cotidiano, raramente nos damos conta que podem estar sofrendo em silêncio. Diferentemente dos humanos, que expressam desconforto de maneira clara e vocal, cães e gatos evoluíram para esconder sinais de vulnerabilidade – um mecanismo de sobrevivência que, ironicamente, dificulta o diagnóstico de condições dolorosas pelos tutores e até mesmo por profissionais veterinários.
"A chamada 'dor silenciosa' é um dos maiores desafios da medicina veterinária moderna," explica o Dr. Marcelo Müller, médico veterinário especializado em atendimento domiciliar. "Estima-se que mais de 60% dos animais de companhia com mais de sete anos sofram de alguma condição dolorosa crônica sem que seus tutores percebam."
Sinais sutis que passam despercebidos.
Segundo Dr. Müller, existem diversos comportamentos que podem indicar que o animal está enfrentando dor constante:
"Os pets não possuem a capacidade de nos dizer verbalmente que estão sentindo dor, mas usam uma linguagem corporal específica que precisamos aprender a interpretar," destaca o veterinário. "Durante minhas visitas domiciliares, frequentemente identifico sinais que passaram completamente despercebidos pelos tutores por meses ou até anos."
Entre os principais indicadores de dor silenciosa estão:
• Isolamento e busca por lugares escondidos
• Relutância em subir ou descer de móveis e escadas
• Lambedura excessiva em determinadas regiões do corpo
• Mudanças comportamentais como agressividade súbita ou apatia
• Alterações no apetite ou nos padrões de sono
• Diminuição do interesse por atividades antes prazerosas
• Respiração alterada mesmo em repouso
• Postura anormal (costas arqueadas ou "posição de prece")
• Tremores discretos sem relação com baixas temperaturas
• Expressão facial tensa ou olhar distante
• Vocalizações incomuns durante o descanso
• Negligência com a higiene pessoal (especialmente em felinos)
• Inquietação para encontrar posição confortável para dormir
Causas comuns de dor silenciosa
De acordo com Dr. Marcelo Müller, diversas condições podem estar por trás desse sofrimento invisível:
"Artrite, problemas dentários, inflamações internas e doença renal são apenas algumas das condições dolorosas que diagnostico regularmente em pets cujos tutores acreditavam que os comportamentos observados eram apenas 'parte do envelhecimento normal'," revela. "É essencial entender que apatia, isolamento e diminuição de atividade não são consequências naturais da idade avançada, mas frequentemente sintomas de dor crônica tratável."
O veterinário enfatiza que problemas como otites crônicas, doenças urinárias, condições gastrointestinais e até mesmo a ansiedade podem manifestar-se como dor física nos animais.
O benefício da avaliação domiciliar
Dr. Müller destaca uma vantagem significativa do atendimento veterinário em casa: "No ambiente doméstico, consigo observar o animal em seu contexto natural, sem o estresse da clínica. Isso permite identificar alterações sutis na movimentação, postura e interação social que são mascaradas pelo nervosismo durante consultas tradicionais."
O médico veterinário relata casos impressionantes de transformação após diagnóstico e tratamento corretos. "Recentemente atendi uma gata de 14 anos cujos tutores acreditavam estar 'apenas envelhecendo' quando passou a evitar pular na cama e a se isolar. Após identificar e tratar uma artrite, ela voltou a ter comportamentos típicos de um animal muito mais jovem, demonstrando que estava sofrendo silenciosamente por longo tempo."
Como identificar e agir
Dr. Marcelo Müller recomenda que tutores observem mudanças, mesmo sutis, nos hábitos de seus animais.
"Qualquer alteração comportamental persistente merece avaliação profissional. Um diagnóstico precoce pode significar a diferença entre uma vida de qualidade e anos de sofrimento silencioso," alerta.
O veterinário listou algumas orientações para identificar possíveis sinais de dor:
1. Compare o comportamento atual com padrões anteriores do animal
2. Observe a mobilidade, especialmente ao levantar-se após períodos de descanso
3. Fique atento a alterações no apetite e na ingestão de água
4. Note mudanças na interação social com humanos e outros animais
5. Registre comportamentos incomuns em vídeo para mostrar ao veterinário
"A tecnologia é uma grande aliada nesse processo. Tutores podem usar câmeras para monitorar seus pets quando estão sozinhos, revelando comportamentos que muitas vezes são mascarados na presença humana," sugere Dr. Marcelo Müller.
A importância do check-up regular
O médico veterinário enfatiza que
consultas periódicas são fundamentais para detectar precocemente problemas que possam causar dor, mesmo que o animal não apresente sintomas evidentes. "Recomendo avaliações no mínimo anuais para pets adultos e no mínimo semestrais para animais idosos ou com condições crônicas pré-existentes," orienta Dr. Marcelo Müller. "Durante essas consultas, realizo exames físicos minuciosos, incluindo palpação cuidadosa e avaliação da amplitude de movimentos, que muitas vezes revelam pontos de sensibilidade que o animal instintivamente tenta esconder."
Dr. Marcelo Müller conclui ressaltando a responsabilidade dos tutores:
"Nossos companheiros dependem completamente de nossa percepção e cuidado. Aprender a reconhecer a dor silenciosa é um ato de amor e respeito pelos seres que tanto enriquecem nossas vidas." Instagram: @marcelomullervet
Site: marcelomullervet.com.br
Bio: marcelomullervet.my.canva.site/
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MARCELO MÜLLER
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