*Por Amanda Oliveira e Rodolfo Garcia
Quando paramos para pensar nas grandes pautas que movimentaram o mercado nos últimos anos, certamente, a temática ESG (Environmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança, em português) deixou de ser um tema emergente para se firmar como uma abordagem estratégica essencial para diferentes setores, incluindo, sem dúvidas, a indústria.
Seu crescimento foi impulsionado ainda no contexto de pandemia, que trouxe à tona a necessidade de uma gestão de riscos mais robusta e integrada, com foco em práticas que promovam a aplicação dos três eixos da sustentabilidade: o crescimento econômico, o progresso social e a preservação ambiental.
Um dado que comprova o avanço dessa agenda é o de que os ativos globais vinculados ao ESG podem ultrapassar US$ 53 trilhões até 2025, segundo relatório da Bloomberg Intelligence, refletindo a importância de um tema que atualmente se consolida como força motriz no ambiente de investimentos global.
E no Brasil não é diferente: dados da Anbima mostram que o patrimônio líquido de fundos ESG teve um crescimento significativo nos últimos anos, evidenciando o interesse crescente de investidores e empresas.
Sustentabilidade: mais que uma simples tendência, uma necessidade
No âmbito industrial, um desafio significativo é que as mudanças climáticas já impactam diretamente muitas operações, seja por eventos extremos ou pela escassez de recursos naturais, como água.
No Brasil, a indústria tem sentido os efeitos das secas, que afetam a produção de energia e a gestão de recursos hídricos, reforçando que práticas cada vez mais sustentáveis são uma questão de sobrevivência no mercado e não apenas de discurso institucional.
Neste panorama, é fundamental diferenciar greenwashing — ações superficiais que visam apenas criar uma imagem sustentável — de práticas ESG consistentes. Empresas que desejam se destacar, nesse sentido, precisam ir além da legislação e critérios regulamentares adotando processos sólidos com novas abordagens, de forma a maximizar valor e influenciar mudanças que roborem a agenda ESG em um contexto mais extensivo.
No pilar ambiental, a ISO 14001, por exemplo, é uma certificação que exige uma abordagem sistemática para a gestão ambiental nas operações de uma indústria, garantindo compromisso real com a sustentabilidade e a melhoria contínua dos processos considerando aspectos ambientais.
Boas práticas ESG na indústria
A boa notícia é que a maturidade das empresas brasileiras em relação ao ESG está em ascensão. De acordo com pesquisa recente realizada em parceria entre a Beon ESG, Nexus e Aberje, 51% das empresas no Brasil já têm estratégias de sustentabilidade estabelecidas.
Se, por um lado, esse é um farol importante para a indústria, o dado demonstra também que ainda há muito espaço para o crescimento de práticas que podem consolidar um ambiente de negócios realmente mais sustentável.
Daí a importância, dentre outros pontos, do uso de indicadores consistentes capazes de medir, por exemplo, a emissão de gases de efeito estufa, a gestão de resíduos gerados, o consumo de energia de fontes renováveis e a reciclabilidade dos produtos desenvolvidos na indústria.
É importante frisar ainda que tais indicadores não só garantem transparência, mas também atraem investidores em um mercado financeiro que, como vimos, tem na agenda ESG uma de suas principais diretrizes contemporâneas.
Investir em diversidade, por sua vez, é um dos pilares sociais prioritários para a indústria. Isso inclui o aumento da presença de mulheres em cargos de liderança e a criação de ações de impacto que fortaleçam o vínculo do setor com as comunidades de seu entorno. É válido lembrar, aliás, que diversidade não é apenas uma questão ética, mas também estratégica, e diferentes estudos demonstram como equipes mais plurais tendem a ser mais inovadoras.
Benefícios da agenda ESG para a indústria: tendências e oportunidades
Adotar práticas ESG não só ajuda as empresas a mitigarem riscos, mas também traz benefícios tangíveis para seus resultados financeiros e operacionais. Empresas alinhadas ao ESG experimentam redução de custos, captação de investimentos e uma maior atratividade para aquisições. Além disso, a promoção de um ambiente organizacional saudável reduz o turnover e melhora o clima interno, resultando em equipes mais engajadas.
Com tudo isso, a tendência é de um aumento de lucratividade que pode ser fundamental na jornada de fortalecimento da indústria brasileira para os próximos anos. Sobre esse ponto, a pesquisa “ESG Radar 2023” já demonstrou que empresas mais alinhadas com princípios sustentáveis são até 10% mais lucrativas.
E, olhando para as tendências e práticas mais significativas que podem impulsionar adoção da agenda ESG no setor industrial, destacam-se o uso de embalagens que geram menor impacto no meio ambiente e as estratégias de inovação voltadas para o desenvolvimento de produtos com maior índice de reciclabilidade após fim de vida útil. Além disso, iniciativas de economia circular, que reaproveitam materiais dentro da própria cadeia produtiva, estão entre os eixos principais dos esforços ESG na indústria.
Em todo esse contexto, é indispensável ainda que não se perca de vista a adequação às regulações, incluindo leis de cunho ambiental, uma vez que empresas que investem em uma governança sólida aumentam a confiança de stakeholders e reduzem riscos.
Para que tantos pilares sejam atendidos, a jornada ESG exige consistência. É preciso superar a visão de curto prazo e tratar a sustentabilidade como parte integrante das estratégias do negócio.
Afinal de contas, o avanço das práticas ESG na indústria é também um reflexo de um mercado consumidor cada vez mais consciente e exigente.
*Amanda Oliveira é Analista de Sustentabilidade da Starrett, e Rodolfo Garcia é Coordenador de ESG na Starrett
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
STEPHANIE FERREIRA
[email protected]