Unifesp anuncia identificações de mais dois desaparecidos políticos

Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro foram identificados a partir de parceria da CEMDP, do MDHC, da Unifesp - por meio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) - e da Prefeitura de São Paulo

AIS. COMUNICAçãO E ESTRATéGIA
17/04/2025 12h42 - Atualizado há 1 dia

Unifesp anuncia identificações de mais dois desaparecidos políticos
Unifesp
Em um momento de reparação e compromisso com a memória, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sediou, neste dia 16 de abril, o evento  de anúncio da identificação de mais dois desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar no Brasil. 

Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro foram oficialmente reconhecidos após décadas de incerteza, graças ao trabalho do Projeto Perus, conduzido pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp), em parceria com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e a Prefeitura de São Paulo.


As identificações foram viabilizadas por novas tecnologias de análise genética, em colaboração com o laboratório da International Commission on Missing Persons (ICMP), marco que reforça o protagonismo do Brasil no enfrentamento das heranças da repressão.

O evento foi realizado no auditório da Reitoria da Unifesp e transmitido pelo canal Unifesp Ao Vivo no YouTube, com a presença da reitora da Unifesp, Raiane Assumpção, da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, do vice-coordenador do CAAF/Unifesp, Edson Teles, da procuradora regional da República e presidente da CEMDP, Eugênia Gonzaga, do representante do Comitê Científico do Projeto Perus, Samuel Ferreira, e da representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e doutora honoris causa da Unifesp, Amelinha Teles. O evento contou também com a participação de parlamentares, pró-reitores(as) e diretores(as) de campi e unidades acadêmicas da universidade, familiares dos desaparecidos políticos e de membros da comunidade acadêmica. 

Para a reitora da Unifesp, o momento representa que a universidade pública não apenas deve produzir conhecimento, mas também servir à verdade e à dignidade das famílias que há décadas lutam por respostas. “Quero reafirmar o compromisso da nossa universidade em continuar produzindo uma ciência que tem o compromisso com a memória, justiça, verdade e reparação, e com o entendimento de que é somente com esse modo de fazer é que temos condições de contribuir, de fato, com a sociedade brasileira”, declarou.

De acordo com a ministra Macaé Evaristo, o anúncio é um momento de vitória, mas também de muita consternação e  dor. “Meu papel aqui é reafirmar o compromisso do governo Lula com a agenda da memória e da verdade, garantindo que a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos tenha possibilidade efetiva de funcionar, e para que a gente consiga cada vez mais recursos para financiar o trabalho do CAAF”, garantiu.

"A identificação anunciada hoje representa um grande passo na reparação histórica sobre as violações de direitos na ditadura e, por outro lado, diz sobre o compromisso e a responsabilidade da Unifesp com a busca da história do país", reforça Edson Telles, vice-coordenador do CAAF.

Reconstruindo trajetórias interrompidas
Grenaldo de Jesus da Silva, natural de São Luís (MA), foi militar da Marinha. Preso em 1964 por reivindicar melhores condições de trabalho, foi expulso da corporação, viveu na clandestinidade e morreu em 30 de maio de 1972, após tentativa de captura de uma aeronave no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Seu corpo foi enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, onde permaneceu como desaparecido por mais de cinco décadas, até sua identificação em 2025.

Denis Casemiro nasceu em Votuporanga (SP), era pedreiro, trabalhador rural e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi preso em abril de 1971, torturado e executado por agentes do DOPS/SP, sob o comando do delegado Sérgio Fleury. À época, forjou-se uma versão de tentativa de fuga para justificar sua morte. Em 2018, os restos mortais de seu irmão, Dimas Antônio Casemiro, também foram identificados pelo Projeto Perus.

Compromisso com a verdade histórica
A Vala Clandestina de Perus, localizada no Cemitério Dom Bosco, zona noroeste de São Paulo, é um dos maiores símbolos das violações de direitos humanos cometidas pelo regime militar. Descoberta em 1990, abrigava corpos de indigentes, desconhecidos e perseguidos políticos. As ossadas passaram por diferentes instituições até serem transferidas para o CAAF/Unifesp, onde o trabalho de identificação foi retomado de forma sistemática e científica, com base em protocolos internacionais e respeito às famílias.
Em 24 de março de 2025, o Governo Federal formalizou um pedido de desculpas pela negligência histórica na guarda e identificação desses remanescentes. O anúncio realizado na Unifesp representa mais um passo concreto no caminho da reparação e da justiça — uma construção coletiva da qual a ciência forense, a universidade pública e a memória histórica são partes inseparáveis.
 

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LIGIA CARLA GABRIELLI BERTO
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