Políticas mais restritivas em relação ao uso de celulares nas escolas, defendidas por educadores e especialistas, buscam resgatar a concentração, melhorar a interação social e reduzir a ansiedade dos estudantes. Mas restringir o uso de telas é apenas parte da solução, afirma Meire Nocito, diretora institucional educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo: é preciso ensinar crianças e adolescentes a lidar com as emoções que surgem nesse processo e em um mundo de mudanças rápidas e imprevisíveis. É nesse contexto que a aprendizagem socioemocional tem ganhado espaço como um dos pilares da educação contemporânea.
“Desenvolver o autocontrole, saber reconhecer, entender e regular as emoções se tornou uma habilidade essencial para que os jovens enfrentem desafios como a hiperconectividade, a ansiedade e a insegurança diante das mudanças”, afirma Meire Nocito, psicóloga, pedagoga e Mestre em Psicologia da Educação com mais de 30 anos de experiência. No Colégio Porto Seguro, onde atua há quase 25 anos, ajudou a implementar programas inovadores para trabalhar a inteligência socioemocional dos alunos e oferecer formação parental às famílias: a recém-criada Academia da Família e o projeto Porto Disconnect.
Família – A infância e a adolescência são períodos de profundas transformações. No cenário atual, marcado pelo acesso irrestrito à informação e pelas pressões do mundo digital, as crianças e jovens enfrentam desafios emocionais que muitas vezes não conseguem compreender ou verbalizar. Para apoiar pais e responsáveis nesse processo, o colégio implementou, em março deste ano, a Academia da Família, um projeto inovador que promove espaços de diálogo e formação para fortalecer a educação parental e o bem-estar emocional dos alunos.
Segundo Meire Nocito, a iniciativa é dividida em três frentes, contemplando reuniões anuais com pais e responsáveis (os Encontros Dialógicos) organizadas por classe ou série, com temas trabalhados em sala de aula para aprofundar o diálogo sobre questões socioemocionais e aproximar a escola da família; a Formação Parental, que prevê cursos presenciais e on-line organizados por faixa etária e permitem aos pais e responsáveis aprofundar o conhecimento sobre os marcos de desenvolvimento psicossocial dos filhos e aprender estratégias educativas para fortalecer a comunicação e o vínculo familiar; e as palestras sobre Bem-Estar e Saúde Mental, presenciais e abertas à comunidade escolar, abordando temas referentes a infância e adolescência na contemporaneidade, promoção do bem-estar no ambiente familiar, destacando os fatores de proteção á saúde.
Além disso, as famílias contam com acesso a uma plataforma específica para conteúdos pedagógicos e notícias relacionadas aos temas abordados na Academia, classificados por faixa etária. O projeto já caiu nas graças dos pais, garante Tatiana Fonseca Del Debbio Vilanova, mãe de alunos do Porto: “Acredito que essa maior proximidade no diálogo com o colégio e a possibilidade de pensarmos juntos sobre tais desafios favorecerão um crescimento mais saudável, acolhedor e empático de toda a comunidade do colégio”. Para Ana Maria Chaddad: “a atualização constante nos permite conhecer e considerar os desdobramentos de sentimentos e emoções envolvidos no dia a dia do ambiente da escola e família, assim como o impacto destes no bem estar emocional de toda comunidade”.
“O objetivo da Academia da Família é oferecer suporte para que pais e responsáveis consigam compreender melhor as demandas socioemocionais dos filhos e, assim, criar um ambiente mais propicio ao diálogo, ao acolhimento e ao desenvolvimento integral das crianças e jovens”, explica a diretora.
Desconexão – Se, por um lado, o uso excessivo de telas está relacionado ao aumento da ansiedade e ao empobrecimento das interações sociais, por outro, desconectar não é tão simples para muitos adolescentes, que cresceram imersos no universo digital. Para enfrentar esse desafio, o colégio criou, em 2019, o Porto Disconnect para estimular o contato real entre os alunos e resgatar o prazer da interação “olho no olho”. O programa promove atividades que incentivam a convivência presencial, como desafios sem celulares, rodas de conversa, proporcionando momentos de descompressão, com atividades esportivas, culturais, recreativas e brincadeiras cooperativas.
Meire ressalta que a proibição dos celulares abriu espaço para os alunos redescobrirem o prazer dos jogos de tabuleiro, futebol de botão, show de talentos e outras atividades que estavam esquecidas em meio ao mundo digital.
Meire ressalta que a conscientização dos alunos em relação aos benefícios de estar off-line e a proibição dos celulares. “A iniciativa não apenas resgatou a infância dos alunos, mas também despertou a nostalgia nos pais, que se viram relembrando seus próprios tempos de escola e compartilhando suas experiências com os filhos. Essa troca de experiências fortalece os laços familiares e promove um diálogo intergeracional sobre o uso da tecnologia”, aponta.
A satisfação foi registrada em pesquisa com estudantes do Ensino Fundamental II, que revelou que no 2º semestre de 2024, antes da lei de proibição do uso dos celulares. que 72,5% dos alunos participavam dos intervalos offline e já destacavam a importância desse momento para o fortalecimento de laços interpessoais.
Para a educadora, a interação social e o desenvolvimento da criatividade, estimulados por jogos, atividades recreativas e brincadeiras tradicionais, são essenciais para a formação integral da criança. O "desligamento" digital permite que os alunos se concentrem em atividades que exigem contato físico, estabelecimento de vínculos afetivos, trabalho em equipe e a resolução de problemas, habilidades importantes para o seu desenvolvimento.
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
LUCAS LIVIO ARDIGO
[email protected]