A novela Beleza Fatal, produção nacional exibida pela Max, chegou ao fim com apenas 40 capítulos — e, ainda assim, conquistou audiência, crítica e o debate público. Com uma trama de vingança clássica, personagens marcantes e atuações potentes como a de Camila Pitanga, a produção mostrou que nem sempre é preciso reinventar a roda para entregar algo de qualidade.
Mas o que mais chamou atenção não foi apenas o enredo. A novela reacendeu discussões sobre expectativa, padrão de qualidade e entrega realista — especialmente em tempos em que tudo precisa ser disruptivo, surpreendente, épico.
O cenário da casa da família Paixão, por exemplo, gerou comentários por sua simplicidade, distante dos padrões luxuosos normalmente associados a grandes novelas. Ainda assim, o público se envolveu. A história funcionou. Isso abre espaço para um questionamento que vai além da TV: será que estamos exigindo demais em todos os aspectos da vida?
“Será que tudo precisa ser cenográfico o tempo todo? Ou o simples, feito com intenção, já é suficiente?”, provoca Carlos Augusto Rodrigues, comunicador e especialista em cultura contemporânea.
Ele também resgata uma antiga experiência no mundo corporativo para refletir sobre a busca excessiva por excelência:
“Trabalhei com atendimento 24 horas e o SLA contratual era de 80%. Quando batíamos 89%, vinha cobrança, como se estivéssemos devendo. Um dia, um gerente perguntou: ‘Se estamos dentro do que foi acordado, por que a gritaria?’”
A reflexão é direta: buscar além da meta é válido, mas sem perder o equilíbrio.
Outro ponto abordado é o tempo da narrativa. Em vez de 180 capítulos, como nas novelas tradicionais, Beleza Fatal usou 40 episódios para desenvolver, resolver e encerrar sua história. Algo semelhante a Todas as Flores (2022), que também teve narrativa mais enxuta. No mundo atual, onde tudo acontece rápido, esse modelo pode inspirar outros formatos — inclusive fora da TV.
No encerramento da novela, houve quem não gostasse do desfecho. Mas a pergunta que fica é: o que seria “melhor”? E será que não estamos tão acostumados a exigir um clímax extraordinário que deixamos de enxergar a coerência das histórias?
A conclusão é clara: nem todo projeto precisa de um plot twist. Mas precisa fazer sentido.
Sobre o autor
Carlos Augusto Rodrigues é comunicador, produtor de conteúdo e atua com temas relacionados à cultura, comportamento e sociedade. Transita com leveza entre o universo pop e reflexões profundas sobre o cotidiano, sempre com um olhar provocador e acessível.
É autor da newsletter Horizontes, publicada no LinkedIn, onde compartilha análises criativas sobre o mundo atual e seus múltiplos caminhos.
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Carlos Augusto Rodrigues Arruda
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