O universo e a condição da amante, essa figura transgressora e indissociável ao casamento que geralmente é condenada sem direito à defesa, inspira a criação do solo teatral VACA, com direção, dramaturgia e atuação de Bruna Betito.
Com estreia em 2023, VACA foi apresentado, além da capital paulista, pelas cidades do interior, participando de festivais como o Festivale (São José dos Campos), Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa (Araraquara) e em outros estados como Brasília- DF e em Natal- RN no Festival Casa Tomada, totalizando mais de vinte apresentações.
O espetáculo, agora volta à cidade e ganha várias apresentações gratuitas em diversos espaços de São Paulo, entre os meses de março e julho. Além disso, a artista organiza uma série de encontros públicos online com outras artistas e pesquisadoras para discutir questões que norteiam o trabalho e promove uma residência artística.
Já nos encontros públicos online, Betito recebe a escritora Marília Giulia Pinheiro no dia 18 de março, das 18h às 20h, para dicutir o tema “Marília Mendonça, estéticas populares contemporâneas e o feminismo branco neoliberal”; e as performers Debora Rebecchi e Letícia Bassit no dia 15 de abril, das 19h às 21h, para conversar sobre “Mulheres e Performance - Corpo Manifesto”. As atividades serão no Zoom e podem ser acessadas por meio de um formulário de inscrição, disponível no instagram @brunabetito.
O solo VACA parte da autobiografia da própria atriz e autora do texto, mas, já de início, essas experiências são deslocadas para um universo onírico, surreal e mitológico, a partir dos sonhos dela com o Apocalipse, que são narrados e dramatizados, misturando realidade documental, ficção e uma dose de sarcasmo.
Em cena, a performatividade, a dança, o recurso de materiais e situações que presentificam a atriz e o público num jogo interativo e irrepetível também são pontos essenciais para a criação cênica e dramatúrgica. Exemplo disso é o estabelecimento de uma espécie de santa ceia, que, na verdade, se transforma em um fórum, no qual o público é convidado a discutir sobre “infidelidade” de forma anônima. Nesse sentido, trata-se de uma dramaturgia na qual a presença do público soma sentidos e conteúdos para a obra.
Além da referência autobiográfica, a criação dramatúrgica utiliza-se de outros autores como inspiração, entre eles Gustave Flaubert com sua “Madame Bovary”; Elisabeth Abbot com seu compêndio “Amantes: uma história da outra”, que retrata a biografia de várias amantes desde a Antiguidade até os anos 60; e Esther Perel com seu “Casos e Casos”, um diário de psicoterapia com casais que passaram por situações de infidelidade.
Outras referências importantes são o universo da mitologia grega com suas histórias de amor e traição, em especial a história do triângulo Zeus-Hera-Io (também retratada na peça “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo). Nesse mito, Hera, transforma a amante de Zeus, Io, em uma vaca branca. E por último, a Bíblia, que possui histórias, parábolas e mandamentos muito precisos a respeito deste tema.
A História da Outra, por Bruna Betito
“Não tive relações sexuais com aquela mulher” - Presidente Bill Clinton
“Henrique VIII e Ana Bolena. Cleópatra e Júlio César. Elizabeth Taylor e Richard Burton. Monica Lewinsky e Bill Clinton. Shakira e Piqué. Eu e você. Histórias de casos amorosos nos consumiram, cativaram, aterrorizaram e excitaram ao longo da história. Além do voyeurismo desses casos públicos de celebridades, todos os dias podemos encontrar casais que foram devastados pela infidelidade.
Neste exato momento, em todos os cantos do mundo, alguém está traindo ou sendo traído, pensando em ter um caso, aconselhando alguém que está no meio de um ou completando o triângulo como amante secreto. O adultério existe desde que o casamento foi inventado. Ele é tão condenado que possui dois mandamentos na Bíblia: um por consumá-lo e outro só por pensar nele. Portanto, como devemos entender esse tabu consagrado pelo tempo? Universalmente proibido e universalmente praticado?
Há poucos termos neutros para falar sobre o adultério. O próprio termo ‘adultério’ é derivado da palavra ‘corrupção’. Raramente alguém, em meio a uma conversa sobre ‘casos’, quer ficar isenta de tomar algum partido. O que o trabalho aqui pretende é ampliar as fronteiras do problema, uma vez que se reduzirmos a conversa apenas para um juízo de valor, não nos resta conversa nenhuma, muito menos, um trabalho artístico.
Longe de propor uma ‘receita’ de como se relacionar ou criar ‘certo ou errado’ para as situações da vida humana, o que interessa ao espetáculo, são seus clichês, rituais, gestos, discursos e coreografias sociais culturalmente construídas. Olhar para estas práticas a fim de investigá-las, tensioná-las e confrontá-las, na tentativa de deslocar imagens profundamente enraizadas a respeito do papel da mulher.
A proposta é de um encontro baseado na contradição, um acontecimento irrepetível que possa nos convocar a uma ultrapassagem de nós mesmos e a um trabalho ético-político, ético-estético. Potencializar a experiência amorosa no que ela tem de revolucionária e não de conformista”.
Sinopse
VACA parte do universo das amantes – ou da condição das amantes ao longo da história: essa figura transgressora e indissociável ao casamento, condenada e sem direito de defesa. É a saga e peregrinação de uma mulher que está em constante busca pela identidade animal a qual foi destinada.
Ficha Técnica
Direção, atuação e dramaturgia: Bruna Betito
Provocação artística: Debora Rebecchi e Janaína Leite
Preparação corporal: Thiane Nascimento
Adereços em arame: Ítalo Iago
Videografia: Vic Von Poser
Vídeo final: Tati Caltabiano
Iluminação: Daniel González
Figurino: Silvana Carvalho
Operador de som: Carlos Jordão
Atores-Contrarregras: Emilene Gutierrez e Rafael Costa
Montagem de Luz: Daniel González e Felipe Mendes
Direção de Produção: Aura Cunha | Elephante Produções
Serviço
VACA, de Bruna Betito
Classificação: 18 anos
Duração: 60 minutos
Encontros públicos (online)
Marília Mendonça, estéticas populares contemporâneas e o feminismo
branco neoliberal, com Maria Giulia Pinheiro
Quando: 18 de março, das 18h às 20h
Quanto: Grátis
Se increva aqui: https://forms.gle/Ke3dxAN9riUTjs5Q7
Mulheres e Performance - Corpo Manifesto, com Debora Rebecchi e Letícia Bassit
Quando: 15 de abril, das 19h às 21h
Quanto: Grátis
Se inscreva aqui: https://forms.gle/p2dYjsDZprSRRrUV9
Oficina “Biografemas na cena amorosa”
Sinopse: Oficina teórico-prática sobre autoficção na cena teatral a partir de Annie Ernaux e Roland Barthes.
Quando: 9 a 13 de junho
Onde: O Andar
Quanto: Grátis
Se inscreva aqui: https://forms.gle/VWUoDG4b6atFiZTq5
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DOUGLAS DE PAULA PICCHETTI
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