PREFÁCIO
Hoje em dia, rotular um livro de “saga” diz muito mais sobre a extensão da obra – os vários volumes que a compõem – do que propriamente sobre o respectivo conteúdo. A sensação é a de que se baniram do mercado editorial as sagas curtas, assim como na área cinematográfica atualmente predomina a produção de séries que se desdobram em vários episódios e intermináveis temporadas. Dispense-se, aqui, o emprego do termo “franquia” que se relaciona a “produtos”. Nada contra, mas qual foi o último “longa-metragem” ou o último “curta” que você assistiu?
Pois Um Adeus no Cais do Sodré é uma saga enxuta. Tendo por autor um bisneto – como é também o suspeito subscritor deste prefácio – do protagonista, uma acurada pesquisa genealógica permeia o drama familiar que tem como ponto de partida uma noite de 1875, em uma Quinta na região do Vizeu, quando o moribundo patriarca Dom Manoel Ferreira pronuncia suas disposições de última vontade quanto à herança que deixaria a seus dois jovens filhos, impondo-lhes a missão de partirem ao Brasil para cuidarem de terras do pai situadas nas Minas Gerais.
Como narra Juca, “a partir dali uma nova etapa começaria na vida dos Ferreira”. A tranquila travessia do Atlântico a bordo do luxuoso Trafalgar, acompanhados de suas esposas, não prenunciava a que ponto chegaria à disputa sucessória que atravessaria gerações. Na ex-colônia escaramuças com a cooptação de capatazes, tabeliães, advogados e autoridades.
O nascimento do protagonista Pedro do Ferreira, as perdas familiares, a convivência do menino branco com os descendentes de escravizados, os primeiros passos profissionais, o ingresso na faculdade de Direito. Para além dos aspectos pessoais e do enredo que ganha ares de um thriller desenvolvido em rico contexto com referências a episódios históricos como a proclamação da República, descrevendo a pujança cultural de um Rio de Janeiro, em cujos cafés se esbarravam com Ruy Barbosa, Olavo Bilac, João do Rio, e moradores faziam piquenique na Ilha de Paquetá aos fins de semana.
No desfecho, a lição de vida, um legado moral, deixado a nosso avô, “Pedrinho”, e uma tocante referência ao anjo da guarda da família Ferreira, o Belarmino Couto: “ou apenas Couto, para os íntimos”. A ele, eu e Juca Serrado demos muito trabalho.
Rio de Janeiro, julho de 2024.
Helinho Saboya
FICHA TÉCNICA
Título: Um adeus no Cais do Sodré : a saga de Pedro do Ferreira
Autor: Juca Serrado
Editora Jaguatirica, 2024
Editora: Paula Cajaty
Revisão: Hanny Saraiva
Projeto gráfico: Bookexpress
1ª ed. - Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2024.
328 p. ; 21 cm.
ISBN 978-85-5662-336-2
1. Romance brasileiro.