A Mata Atlântica é o bioma mais devastado do Brasil e apenas 12% de sua cobertura original permanece preservada. Apesar disso, ela ainda abriga diversas espécies ameaçadas de extinção e é o lar de aproximadamente 72% da população brasileira, segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica. O bioma engloba 17 estados e é um dos mais ricos em biodiversidade e importância ecológica no país, estendendo-se da costa atlântica do Rio Grande do Norte ao noroeste do Rio Grande do Sul.
Os dados divulgados pelo MapBiomas revelam um cenário que merece destaque: pela primeira vez desde 2008, a regeneração superou o desmatamento no bioma. Entre 2008 e 2023, foram recuperados mais de 650 mil hectares, resultado de esforços como projetos de reflorestamento, corte de crédito para desmatadores ilegais e embargos a áreas degradadas.
O resultado desse estudo nos permite refletir sobre a eficácia de políticas públicas ambientais. O Novo Código Florestal (Lei 12.651/2012), por exemplo, estabeleceu diretrizes importantes para a proteção da vegetação nativa. De acordo com o estudo do MapBiomas e Fundação SOS Mata Atlântica, em 45% dos municípios abrangidos pela Mata Atlântica, registrou-se algum nível de recuperação florestal, evidenciando a importância de instrumentos legais e fiscalização eficaz.
O geógrafo Reinhard Maack, ao explorar o interior do Paraná na década de 1970, já alertava para o impacto da ocupação humana e das atividades agropecuárias sobre as florestas nativas. Sua previsão de uma devastação generalizada da vegetação se confirmou nas décadas seguintes, especialmente nas áreas mais densamente povoadas do país. Na atualidade, onde antes havia florestas exuberantes, temos cidades e paisagens antropizadas.
A regeneração da Mata Atlântica é uma conquista significativa, mas ainda insuficiente diante dos desafios ambientais que enfrentamos. Este bioma é essencial para o sequestro de carbono, para a conservação da biodiversidade e para garantir a segurança hídrica nas regiões mais populosas do Brasil.
Precisamos avançar ainda mais. Investir em ciência e tecnologia é indispensável para aprimorar o monitoramento ambiental e planejar a restauração de áreas degradadas. Mapear áreas prioritárias, plantar espécies nativas, realizar controle de espécies exóticas e garantir o monitoramento de longo prazo são ações que dependem de pesquisa científica integrada a políticas públicas bem estruturadas.
Essa regeneração nos desafia a ir além. O desmatamento zero deve ser uma meta inegociável, assim como a ampliação de áreas protegidas e o fortalecimento da educação ambiental. Se a recuperação da Mata Atlântica é um marco, que seja para a construção de um futuro mais sustentável. Afinal, o desafio de preservar o que resta e regenerar o que foi perdido não é apenas ambiental; é uma questão de sobrevivência.
(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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