21/11/2024 às 14h00min - Atualizada em 22/11/2024 às 08h02min

Mobilidade Social: caminhos para um futuro sustentável frente a uma desigualdade persistente

TRAMA COMUNICAÇÃO
Divulgação

Por Vitor Hugo Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo 

O Brasil está entre os países com menor mobilidade social no mundo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com o estudo “O elevador social está quebrado? Como promover mobilidade social”, de 2018, são necessárias nove gerações para que um brasileiro na base da pirâmide social alcance a classe média ― o segundo pior resultado em um ranking com 30 países. Outro dado que mostra a profunda disparidade entre os brasileiros revela que o 1% mais rico do País concentra quase um terço da renda nacional, conforme levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Esses números evidenciam desigualdades estruturais históricas e escancaram o quão distante ainda estamos de oferecer oportunidades iguais para todas as pessoas. 

Embora o Brasil tenha conseguido reduzir a extrema pobreza em 40% no último ano, segundo o Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, lançado recentemente pela Ação Brasileira de Combate às Desigualdades, as desigualdades estruturais permanecem praticamente inalteradas. A concentração de renda se manteve em patamares elevados, com uma ligeira alta no rendimento médio do 1% mais rico em comparação com os 50% mais pobres.  

Um dos aspectos mais alarmantes é a percepção crescente de que a pobreza e a miséria estão aumentando. A Pesquisa Nacional de Desigualdades 2024, realizada pelo Instituto Cidades Sustentáveis em parceria com o Ipec, revela que um em cada quatro brasileiros percebe um aumento na quantidade de pessoas em situação de rua, e metade da população nota sinais claros de elevação da pobreza. Embora esses índices sejam menores do que em levantamentos anteriores, os dados ainda refletem um cenário que exige ações concretas e estruturantes. 

No que se refere à mobilidade social especificamente, a Pesquisa trouxe, pela primeira vez, indicadores sobre a percepção dos brasileiros em relação à sua realidade em comparação com a de seus pais (mobilidade intergeracional) e à sua própria condição socioeconômica nos últimos cinco anos. Nesse sentido, pelo menos 75% dos brasileiros afirmam ter alcançado maior nível de escolaridade e melhor condição de moradia do que seus pais, enquanto seis em cada dez acreditam que sua renda hoje é maior do que a de seus ascendentes quando tinham a mesma idade. Vale destacar que essa melhoria é menor quando se trata das classes D e E, especialmente em termos de renda ― esse avanço foi reportado por 51% das pessoas. 

Em relação à mobilidade social autopercebida nos últimos 5 anos, praticamente seis em cada dez brasileiros declaram que melhoraram sua condição de moradia e aumentaram sua renda, porém quatro em cada dez afirmam não ter avançado em escolaridade, o que revela um desafio fundamental para o País, uma vez que a educação é um dos fatores principais para uma mobilidade social ascendente e sustentável. Mais uma vez, ao aprofundarmos as análises por um recorte de classe, os dados são ainda mais preocupantes: entre os brasileiros das classes D e E, que equivalem à metade da população do País, 48% negam que sua renda tenha melhorado (enquanto, para 9%, ela se manteve) e apenas 30% afirmam que seu nível de escolaridade aumentou nos últimos 5 anos. 

Para transformar essa realidade, é fundamental promover estratégias que viabilizem a verdadeira mobilidade social. Um dos caminhos mais promissores, o qual a Fundação Grupo Volkswagen tem como estratégia de atuação, é a inclusão produtiva, por meio do incentivo à empregabilidade digna e ao empreendedorismo justo, focando na geração de renda, especialmente entre mulheres e jovens negros, historicamente mais vulneráveis. Além disso, é essencial o fortalecimento de capacidades locais para o desenvolvimento comunitário, promovendo a participação ativa das próprias comunidades. A assistência social também deve ser uma prioridade, garantindo o acesso a direitos básicos e essenciais para todos os cidadãos, em consonância com as iniciativas de inclusão produtiva. 

A inclusão produtiva também precisa ser vista como uma jornada completa, que começa desde a construção de um plano de vida, passando pela qualificação profissional e seguindo até a inserção, desenvolvimento e crescimento no mercado de trabalho formal. Essa jornada ainda contempla educação financeira, formação cidadã, expansão do repertório cultural e deve ser acompanhada de perto, com suporte contínuo, seja financeiro (como bolsas de estudo) ou outros recursos que minimizem as barreiras ao aprendizado e à inclusão genuína. 

Outro pilar fundamental para a promoção da mobilidade social é o incentivo ao empreendedorismo. Pequenos negócios ― especialmente aqueles que nascem e florescem em comunidades vulneráveis ― precisam de apoio não apenas para se formalizarem, mas também para crescerem de maneira sustentável. Isso envolve desde a qualificação empreendedora e suporte à gestão até o apoio financeiro via capital semente, acesso microcrédito e outras formas de financiamento que permitam a esses empreendedores prosperarem e, consequentemente, beneficiarem suas próprias comunidades, gerando emprego e renda nos territórios. 

A transformação do Brasil em um país menos desigual não é tarefa simples nem de soluções fáceis, mas é um dever coletivo que não pode mais ser adiado. E o reconhecimento da mobilidade social como aspecto central dessa discussão é essencial para construir um Brasil mais justo e equitativo. Para isso, é imprescindível a atuação coordenada e de longo prazo, envolvendo governos, empresas, terceiro setor, universidades, organismos multilaterais e a sociedade civil como um todo.  

É preciso combater a pobreza em suas variadas dimensões, investir em educação, cultura, saúde e saneamento, promover a inclusão produtiva e a diversidade, combater o racismo e todas as formas de exclusão e discriminação, criando-se ambientes inclusivos onde todos tenham oportunidades de ascensão e prosperidade socioeconômica. Uma sociedade que oferece igualdade de oportunidades não só melhora a vida de seus cidadãos, mas também pavimenta um futuro mais próspero e sustentável para aqueles que estão por vir. Esse é o chamado da nossa geração: sigamos juntos pela mobilidade social. 


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
PAULA FERNANDES BUENO
[email protected]


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://itaqueraemnoticias.com.br/.