"Muito se fala hoje sobre aplicações contra ameaças externas, mas as organizações precisam olhar para dentro”, alerta Rogério Freitas, diretor-geral para o Brasil da Lynx Tech, empresa que utiliza inteligência artificial e aprendizado de máquina para detectar e prevenir fraudes e crimes financeiros. “Adotar soluções e protocolos para analisar os processos internos é essencial, pois a fraude pode já estar ocorrendo", explica o executivo.
As bets vêm trazendo uma série de desafios e consequências de ordem econômica, social e até mesmo de saúde pública. O mercado de apostas ainda encontra brechas para sustentar atividades como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e operação de slots (caça-níqueis virtuais, como o "jogo do tigrinho"), entre outros ilícitos que exigem ações preventivas e de resposta das instituições financeiras e de outros setores.
De acordo com relatório do Banco Central, de janeiro a agosto deste ano, cerca de 24 milhões de brasileiros gastaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês com as bets, volume que considera apenas transações realizadas via Pix. O levantamento também revela que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família apostaram R$ 3 bilhões com o repasse do programa social somente no mês de agosto.
Outro reflexo preocupante da expansão das bets no país é o aumento da inadimplência. "Atraídos pela promessa de ganhos rápidos, muitos apostadores recorrem a empréstimos e crédito para jogar, agravando seu endividamento em um efeito cascata", explica Rogério Freitas.
O executivo ressalta que a publicidade massiva promovida pelas bets amplia seu alcance e impacto social. "Com campanhas impulsionadas por influenciadores digitais e patrocínio de times de futebol, elas apelam para o emocional das pessoas, explorando vulnerabilidades como dificuldades financeiras, busca por escapismo e desejo de enriquecimento fácil, gerando um ciclo perigoso", afirma.
Na visão do especialista, as instituições financeiras também encontram dificuldades em identificar e monitorar transações suspeitas, como transferências Pix para contas vinculadas a casas de apostas virtuais. “Soluções capazes de mapear padrões de comportamento e transações atípicas são fundamentais para criar uma resposta mais eficaz por parte do setor", ressalta.
Para regulamentar o mercado de bets, segundo Rogério Freitas, é preciso um esforço coletivo, o que inclui atualizar leis de proteção de dados, limitar a publicidade e criar mecanismos para combater as fraudes e mitigar os impactos das apostas. "É uma questão urgente para toda a sociedade, pois trata-se de muito mais do que um problema financeiro, estamos falando de um risco sistêmico", conclui.
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PEDRO HENRIQUE DE CARVALHO CASSIANO
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