Recentemente, assisti ao filme O Coringa – Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux), que tem aprovação de apenas 28% no Google. Acho que isso se explica pela frase de Caetano Veloso na música Sampa: “Narciso acha feio o que não é espelho.” Aqui, acontece o inverso: olhamos no espelho e não gostamos do que vemos.
Eu explico. No filme, Gotham City é retratada como uma cidade em crise, com uma grande desigualdade econômica. A elite rica e poderosa vive em luxo, enquanto a classe trabalhadora luta para sobreviver. Penso que nada difere de hoje, onde, segundo relatório da World Inequality Lab, o 1% mais rico da população global detém cerca de 38% da riqueza mundial, em contrapartida, a metade mais pobre da população global possui menos de 2% da riqueza mundial, evidenciando uma grande disparidade na distribuição de riqueza. Arthur Fleck, o Coringa, é um exemplo claro disso. Ele é um homem pobre, desempregado e sem acesso a cuidados de saúde mental. A sociedade o abandonou, deixando-o à deriva.
A economia da exclusão cria um ambiente onde as pessoas são vistas como descartáveis. A escassez de oportunidades e recursos leva à marginalização e à violência, mas estamos ocupados demais, em uma corrida sem fim, para enxergar essa realidade - daí o choque com o filme. Ele expõe como a sociedade falhou em apoiar alguém que precisava de ajuda, deixando Arthur completamente isolado. Sua transformação em Coringa é um grito de desespero, um pedido por atenção e validação, similar ao que observamos na superficialidade das redes sociais.
Costumo afirmar que o sistema de mercado parece ideal para a humanidade, pois reflete a exclusão e a crueldade que vemos nas pessoas. No filme, Arthur é humilhado, agredido e ignorado pela sociedade, que o trata como objeto, não como ser humano, evidenciando a falta de empatia e compreensão.
A crueldade humana traz consequências devastadoras: Arthur se sente invisível, ignorado e desvalorizado, e acaba se adaptando à violência para sobreviver - a mesma dinâmica que, como pesquisador das Ciências Sociais, vejo nas corporações. Sua transformação em Coringa é um efeito direto dessa crueldade. Curiosamente, no filme, ele se torna um símbolo de resistência à opressão, mas também de destruição e caos para os menos afortunados de Gotham.
O contraponto a sensação do filme, é que estava ao mesmo tempo conversando com uma amiga, sobre vinhos e canções, e vendo a pureza nas falas delas, como a luz de Gotham. Acredito que o mundo pode ser melhor, que o filme é um espelho para a sociedade, mostrando como podemos falhar em cuidar dos mais vulneráveis. É um lembrete de que todos precisamos de empatia, compreensão e apoio.
*Elizeu Barroso Alves é Doutor em Administração e Coordenador de Cursos no Centro Universitário Internacional Uninter
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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