O turismo no Brasil tem desafios significativos, ainda por resquícios do período pandêmico. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA1) do IBGE, os preços das passagens aéreas acumularam um aumento de 47,24% em 2023. Apesar da leve queda de 24,29% em 2024, a inflação das passagens foi de 4,64% em setembro e acumula uma alta de 9,99% nos últimos 12 meses. Ou seja, as passagens aéreas continuam caras e inacessíveis para uma grande parcela da população brasileira.
Conforme informações divulgadas pela Cirium, empresa especializada em análise de dados do setor aéreo mundial, outros fatores além da inflação contribuem para manter os preços elevados. Desde a pandemia, o setor aéreo global enfrenta uma complexa crise relacionada a falhas na cadeia de suprimentos e nas fabricantes de aeronaves. O relatório da Cirium apontou que mais de 600 aeronaves em todo o mundo foram obrigadas a permanecer no solo em 2024, devido à falta de peças e equipamentos para manutenção.
Diante disso, os preços elevados continuarão a afetar o acesso a viagens de longa distância. Esse cenário reforça a importância de repensar alternativas para viagens de lazer, com destaque para as opções de curta distância. O turismo de curta distância, que envolve destinos acessíveis por transporte rodoviário, surge como uma alternativa viável para driblar o encarecimento das passagens aéreas. Viagens para cidades e regiões próximas permitem que os turistas explorem a cultura, a gastronomia e os atrativos sem a necessidade de grandes deslocamentos, proporcionando uma experiência igualmente enriquecedora, mas com um custo mais acessível. Essa abordagem também favorece o desenvolvimento das economias locais, já que os turistas passam a consumir produtos e serviços oferecidos diretamente por pequenos comerciantes e empreendedores regionais.
Além de estimular o turismo doméstico, as viagens de curta distância têm o potencial de promover uma redistribuição de renda, fortalecendo comunidades que, muitas vezes, estão fora dos grandes roteiros turísticos tradicionais. Ao valorizar o patrimônio cultural, natural e histórico local, essas viagens ajudam a preservar tradições e a gerar novas oportunidades de emprego e renda. Ao incentivar que os viajantes explorem regiões próximas e menos conhecidas, tanto o poder público quanto o setor privado podem criar condições favoráveis para o turismo sustentável e inclusivo. Isso não apenas reduz o impacto ambiental das viagens de longa distância, mas também gera um ciclo virtuoso de benefícios para as economias locais.
Dessa forma, enquanto o mercado de passagens aéreas enfrenta um período de ajustes e desafios, as viagens de curta distância representam uma oportunidade única para fortalecer o turismo interno e promover o desenvolvimento local, transformando uma situação adversa em uma chance de crescimento e inclusão.
*Grazielle Ueno É professora e coordenadora do curso superior de tecnologia em Gestão de Turismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Doutora em Tecnologia e Sociedade, mestre em Turismo e especialista em Educação e em Meio Ambiente.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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