25/10/2024 às 09h14min - Atualizada em 26/10/2024 às 08h02min

Eleições 2024: oportunismo pragmático x mobilidade urbana

Escrito por Wesley Ferro Nogueira, integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade

KASANE COMUNICAÇÃO
Arquivo pessoal/Divulgação Mova-se Fórum de Mobilidade

Para quem atua na área da mobilidade urbana, as eleições municipais sempre aparecem como uma extraordinária oportunidade para a qualificação do debate e para o comprometimento efetivo de candidatos com a pauta da sustentabilidade e de novos modelos para as cidades, nos quais toda a coletividade será beneficiada. Pensando nisso diversas organizações produzem materiais visando orientar os participantes do pleito eleitoral acerca das questões que envolvem a mobilidade urbana. No entanto, tão logo se inicia a campanha, nossas ingênuas expectativas são frustradas por propostas pautadas mais no aceno à torcida do que a um compromisso de fortalecer a política pública. 

Nesse cenário, o repertório de proposições desconectadas da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e dos planos municipais de mobilidade (PlanMob) só vai aumentando a cada pleito eleitoral. Por outro lado, é preciso reconhecer que alguns poucos candidatos se mantiveram firmes na defesa da integralidade da política de mobilidade urbana dentro do processo eleitoral, inclusive com a grata confirmação da eleição este ano para o legislativo municipal. Entretanto, desconfio que perdemos a chance de aprofundar nesse debate. Infelizmente, ainda que tenhamos segundo turno, a política de mobilidade vai continuar sem assumir o papel de protagonismo dentro da agenda institucional. 

As eleições deste ano demonstraram de forma muita clara que há um pragmatismo eleitoral que guia as candidaturas, principalmente aquelas que disputam os executivos municipais, onde se estabelece um mesmo padrão de comportamento, não importando se a orientação ideológica é de centro, direita ou esquerda. A abordagem de questões como a regulação e revisão dos privilégios dos automóveis dentro do sistema viário são majoritariamente evitadas nas campanhas, pois há a compreensão de que os candidatos devem se manter distantes de temas que possam suscitar confrontos com determinados segmentos da sociedade e ameaçar a captação de votos. 

Esse fenômeno não é exclusividade do nosso país. Vide o caso recente da cidade de New York (EUA), que vinha construindo a proposta de implantação da cobrança de uma taxa de pedágio urbano sobre veículos que acessassem determinada área da metrópole, com previsão para início em julho/2024, cujos recursos financeiros contribuiriam para o financiamento do sistema de transporte público. Coincidência ou não, a proposta foi suspensa por decisão da governadora daquele Estado, apenas cinco meses antes das eleições americanas programadas para o mês de novembro.  

A esse respeito, inclusive, há que se refletir acerca do prejuízo que a existência da reeleição para cargos ao executivo municipal traz para a política de mobilidade urbana das cidades, uma vez que esta tem como pressuposto a desconstrução de modelos atualmente existentes. Enfim, usando uma linguagem futebolística: a mobilidade urbana perdeu de goleada para o pragmatismo eleitoral dos candidatos. Isso é ruim. Resta a nós continuarmos na luta.     

Wesley Ferro Nogueira é economista, secretário executivo do Instituto MDT, membro titular do Conselho de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal e do Conselho de Trânsito do DF e integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade 


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CAROLINA OLIVEIRA DE ASSIS
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