Paraty, outubro de 2024 – Machado de Assis vira e mexe é tema de conversas literárias ao redor do mundo, mas esbarra na questão da tradução: o português é de fato desafiador. O desafio de traduzir a obra de um dos maiores escritores brasileiros e as peculiaridades e as complexidades do exercício do ofício do tradutor foram temas da conversa entre a escritora e tradutora estadunidense naturalizada no Rio, Flora Thomson-DeVeaux, e Juan Cárdenas, que é escritor, crítico de arte, curador e tradutor colombiano.
O papo, mediado pela escritora, tradutora e roteirista Leda Cartum, foi realizada na Casa CCR, durante a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), e faz parte da programação gratuita oferecida pelo Instituto CCR, patrocinador e parceiro oficial de mobilidade do festival.
Leda abriu a mesa contando uma história de uma professora que desapareceu de um vilarejo, mas deixou um papagaio que havia ouvido todas as aulas da mestra e poderia, portanto, dar as aulas. Ela contou que o poeta francês Arthur Rimbaud descreve em seus relatos de viagem o encontro com um papagaio em uma comunidade indígena na Amazônia que falava a língua de um povo que havia sido aniquilado. A ave era o arquivo de um idioma morto. “O papagaio está repetindo, mas repete de seu próprio jeito, e isso conecta de certa forma os tradutores, que repetem o que foi dito, mas de outro jeito”, comparou.
Juan, que traduziu para o espanhol autores como William Faulkner, Thomas Wolfe, Gordon Lish, David Ohle, Machado de Assis e Eça de Queirós, concordou com a metáfora: existe algo de papagaio no seu trabalho. “A arte da imitação, algo que fazemos quando estamos travando intimidade com uma nova língua, tem essa nobreza possível nas distorções pequenas que trazem pequenas novidades”, acrescentou Flora. É quase como voltar de viagem, reunir os souvenires do passeio e tentar reconstruir o trajeto.
O colombiano disse que tem um português de rua: a relação intelectual com o idioma foi posterior ao apaixonamento pelos sons da língua. “Na América do Sul, o Brasil está separado do resto do continente pela barreira da língua, mas quando se rompe isso, vem um mundo de culturas brasileiras por trás”, disse ele, que aprendeu português em Lisboa, com amigos brasileiros.
Flora fez doutorado nos EUA em estudos brasileiros e portugueses. “É muito legal estudar a língua portuguesa. E são tantas possibilidades do idioma em outros países lusófanos... É incomum que brasileiros tenham lido livros angolanos e deveriam. Nem precisa de tradução”, sugeriu. O início desse interesse pelo idioma foi aprendendo espanhol primeiro, na faculdade. Algumas pessoas do curso disseram que, já que ela falava espanhol, poderia ter facilidade de falar português. “Eu era jovem e ingênua e acreditei”, ela riu. O afeto começou ao fazer uma matéria de cinema brasileiro – ela passou a sonhar com o Brasil e estabelecer uma relação com o país antes mesmo de ser fluente no idioma. Logo depois, foi convidada para traduzir materiais sobre Carmen Miranda do português para o inglês. Se apaixonou pelo Rio de Janeiro dos anos 30 e ouvia músicas de Mario Reis e Carmen Miranda. Já estava imersa no português brasileiro.
Mas afinal, português é mais difícil?
Juan acha que sim. Ainda que espanhol e português sejam próximos, têm muitas diferenças em nuances. “Para mim, é mais difícil aceitar fazer tradução do português por ser tão complexo”, disse. Mesmo assim, brincou Flora, ele aceitou até a difícil empreitada de traduzir um conto de Guimarães Rosa. O colombiano, entretanto, acha que há traduções que envelhecem mal – reler materiais o deixa frustrado às vezes.
O português, segundo Flora, relaciona muitas expressões ao vocabulário indígena. Em inglês, os termos indígenas dicionarizados em inglês soam arcaicos. “É assim que percebemos as cicatrizes de cada idioma. O português incorpora indígenas de maneira mais afetuosa”, ela ponderou. Juan diz que levar essas palavras para outra língua é dificílimo. “Impossível fazer uma boa tradução de Guimarães Rosa com tantas onomatopeias. Mesmo assim, tenho muita vontade de fazer. É daquelas traduções que vou achar que não está bem-feita em 10 anos”, riu.
Há uma sutileza na profissão de tradutor que é, às vezes, ter que destroçar alguns textos. “Quando fui traduzir a morte de Carmen Miranda, sentia como se traduzir essa parte fosse como matá-la de novo. Eu não queria fazer isso”, disse Flora.
Machado é incrível
Tradutores, eles explicam, não têm resposta certa. “É uma junção de partes erradas que forma o conjunto. São muitas derrotas por página, mas o livro tem outro corpo, um rosto um pouco diferente. Quando alguém descreve que minha tradução de Brás Cubas mexeu com elas, eu sinto que venci. Brás Cubas fez a transição, apesar de perder coisas pelo caminho e ganhar outras”, afirmou Flora.
“Machado de Assis é algo incrível. O que ele faz com a língua e estrutura narrativas... ele é o Borges antes do Borges. Pegou Cervantes, passou pelo filtro de literatura inglesa e criou uma terceira coisa totalmente incrível. Traduzir sua obra foi o maior presente que já tive, era como uma loja de brinquedos infinita provando trocas para o espanhol. Foi incrível”, contou Juan empolgado.
Há traduções, segundo Flora, que pegam frases que não precisavam existir no texto. Com Machado, ritmo é como estrutura de cinema. A sensação de traduzir o autor é, para ela, um aprendizado de poder observar de perto a obra do escritor. Tanto que ela quer continuar fazendo isso: o plano é traduzir Quincas Borba futuramente.
Grupo CCR na Flip
O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, ampliou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o maior evento do gênero no País. Por meio do Instituto CCR, é a primeira vez que oferece um espaço com programação. Ao longo de três dias, serão apresentadas nove mesas de discussão, com a presença de escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos.
Os debates irão abordar temas como mobilidade urbana, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário. Este último assunto está relacionado ao jornalista e autor João do Rio, reconhecido como um dos mais influentes escritores do início do século XX no Rio de Janeiro e o homenageado pelo evento na edição deste ano.
Além da Casa CCR, o Grupo CCR é novamente o parceiro oficial de mobilidade da Flip. A Companhia irá oferecer transporte gratuito por meio de vans e barcas para os moradores de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas na região de Paraty. Seis rotas foram planejadas para facilitar o acesso dessas comunidades ao centro histórico, com horários definidos de acordo com a programação do festival.
Em linha com sua agenda de sustentabilidade, o Grupo CCR também implementou a coleta seletiva de resíduos na Flip, em colaboração com a Associação de Catadores e Catadoras de Recicláveis de Paraty, uma cooperativa local. Um carrinho elétrico está percorrendo o Centro Histórico durante o evento, recolhendo materiais recicláveis e destinando para uma caçamba de reciclagem instalada na praça.
Sobre o Instituto CCR | Entidade privada sem fins lucrativos, gerencia o investimento social do Grupo CCR, com o objetivo de proporcionar transformação social nas regiões de suas concessões de rodovias, aeroportos e mobilidade. Os projetos do ICCR são implementados por meio de recursos próprios ou verbas incentivadas. Entre os projetos proprietários de impacto, merecem destaque: Caminhos para a Cidadania, que capacita mais de 3 mil professores em 1.600 escolas anualmente, e o Caminhos para a Saúde, que oferece atendimentos de saúde a caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e passageiros de trens urbanos e metrôs. Seu foco são iniciativas nas frentes de Mobilidade e Cidades Sustentáveis, Cultura e Educação, Saúde e Segurança. Desde 2014, as ações do Instituto já beneficiaram mais de 18 milhões de pessoas. Saiba mais em www.institutoccr.com.br.
Sobre o Grupo CCR | O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, atua nas plataformas de Rodovias, Mobilidade Urbana e Aeroportos. São 39 ativos, em 13 estados brasileiros e mais de 17 mil colaboradores. O Grupo é responsável pela gestão e manutenção de 3.615 quilômetros de rodovias, realizando cerca de 3,6 mil atendimentos diariamente. Em mobilidade urbana, por meio da gestão de metrôs, trens, VLT e barcas, transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Em aeroportos, com 17 unidades no Brasil e três no exterior, embarca 43 milhões de clientes anualmente. A companhia está listada há 13 anos no hall de sustentabilidade da B3. Mais em: grupoccr.com.br.
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