Getty Images O caso da educadora e influenciadora digital Cíntia Chagas, que prestou queixa contra o ex-marido, o deputado estadual de São Paulo, Lucas Bove (PL), por abusos físicos e psicológicos, chamou a atenção do Brasil nos últimos dias.
O relacionamento da influenciadora com o político durou mais de dois anos e, segundo ela, durante todo esse tempo foi vítima de violência por parte do ex-companheiro, mesmo assim, casou-se com ele em maio deste ano. Em agosto, anunciou a separação e, em setembro, denunciou Bove por violência doméstica.
O fato que mais chama a atenção é que Cíntia afirma que já era violentada durante o namoro e, mesmo conhecendo o comportamento agressivo e controlador do político, oficializou a relação. A influenciadora não é a primeira a tomar uma decisão semelhante, diversas mulheres permanecem com o companheiro durante anos, suportando todo tipo de violência. Então surgem os questionamentos: Por que muitas mulheres permanecem em um relacionamento abusivo? Por que elas aceitam as agressões?
A psicanalista Rachel Poubel explica que “o subconsciente entende que todo ato de violência gera medo. Nesse momento é ativado o mecanismo de segurança para proteger a nossa integridade. E é nesse mecanismo de defesa que temos emoções, daí surge o sentimento de culpa, de vergonha e a sensação de domínio do agressor sobre a vítima. A vítima se sente amedrontada porque aprendeu que quem bate é o forte e gera no inconsciente a dominação que o agressor tem sobre ela. E isso vem desde a infância, uma criança já aprende que um tapa ou uma chinelada é uma punição, e que toda vez que a mãe ou o pai levantar a mão ou chinelo o mecanismo de defesa já é alertado. Anos depois, quando adulta, essa pessoa sabe que ela pode apanhar de novo”, explica.
Sobre o caso específico de Cíntia Chagas, Poubel acrescenta: “Podemos ver nas mensagens expostas na internet, que ela reclama das agressões e chama o, até então marido, de amor. Ela fala: ‘amor você tem que parar com isso, olha como a minha perna ficou. Precisa parar de me apertar’. Ela sabia que ele estava errado e sentia-se responsável por ajudar esse homem a mudar. É muito comum mulheres dizerem que é um absurdo sofrer violência doméstica e que jamais seria acometida por isso, até o dia em que ela realmente é acometida. Não tem nada a ver com questão financeira, poder, qualquer tipo de status social. Um agressor é machista e dominador, quando ele pega uma vítima de grande prestígio, ele sente ainda mais vontade de humilhar, de diminuí-la e alimenta o poder dele.”, ressalta a especialista.
Ciclos da violência
A psicanalista explica que a violência doméstica apresenta um ciclo e, infelizmente, ele não termina. “E um ciclo que se repete e a violência volta mais forte, até chegar o dia em que o homem mata a mulher, porque quando chega na segunda lua de mel ela não consegue mais contar pra ninguém, porque a família fica com raiva, acha que ela gosta de apanhar, mas ela prefere sustentar a relação”, disse.
Fase 1 - Aumento da Tensão
O agressor mostra-se tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. Ele também humilha a vítima, faz ameaças e destroi objetos.
A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo e desilusão são apenas algumas. E não conta para ninguém.
Fase 2 - Ato de Violência
Explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. Aqui, toda a tensão acumulada na fase 1 se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. A mulher fica paralisada, sem reação. Algumas conseguem tomar decisões porque sabem que o homem está errado.
Fase 3 - Arrependimento e comportamento carinhoso
Também conhecida como “lua de mel”, esta fase se caracteriza pelo arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que “vai mudar”.
Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos.
A especialista conclui dizendo que “os agressores constroem uma autoimagem de parceiros perfeitos e bons pais, dificultando a revelação da violência pela mulher. Por isso, é inaceitável a ideia de que a mulher permanece na relação violenta por gostar de apanhar. Com o tempo, os intervalos entre uma fase e outra ficam menores, e as agressões passam a acontecer sem obedecer à ordem das fases. Em alguns casos, o ciclo da violência termina com o assassinato da vítima. Se a saúde emocional fosse tratada de maneira preventiva, a menina aprenderia a observar suas emoções e tomar uma atitude”.
Sobre a psicanalista
Rachel Poubel é uma renomada psicanalista e mentora de carreira, com mais de dez anos de experiência, e um histórico de mais de 3 mil vidas transformadas ao redor do mundo.
Em seu livro “O Manual da Mulher de Identidade”, Poubel apresenta reflexões sobre a realidade feminina e seus obstáculos, com o intuito de valorizar a mulher, sua saúde mental e sua história de conquistas e superações.
Rachel Poubel atende em consultório, em Linhares, no Espírito Santo, e também de forma online. Acompanhe a psicanalista pelo perfil do Instagram: @rachel.poubel e pelo Youtube: Rachel Poubel.
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AMABILY CALIMAN DE OLIVEIRA BRITO
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